Férias de fim de ano
Fim de ano, férias chegando e todos se envolvem no clima das festas natalinas. O ritmo da vida se apressa no compasso das compras de presentes e na troca de mensagens de otimismo e esperança. É tempo de refazer planos, reelaborar sonhos e construir perspectivas de vida. Limpar armários e gavetas, organizar papéis, descartar supérfluos. Afinal, um novo ano se anuncia e novas possibilidades de que tudo será diferente torna-se uma certeza cultivada pela convicção de novos sonhos e novas certezas, muitas das quais, reeditadas dos planos do ano que se finda e outras tantas assumidas como novidades que caducarão nos primeiros dias do ano que começa.
Mas, queria mesmo era falar de férias. Após um ano exaustivo de trabalho as férias chegam com a promessa de restabelecer energias para novas jornadas. Férias que sempre nos trazer o sabor e as reminiscências da infância, sobretudo para quem, como eu, nasceu e viveu a infância na zona rural. As férias de final de ano sempre coincidiam com as primeiras chuvas que asseavam o sertão, encharcando a terra e fertilizando a vida com a babugem que rompia o chão antes ressequido e agora grávido de vida e verde.
Eram nas férias de final de ano que plantávamos os roçados de nossas bonecas nos oitões de nossa casa em Impueiras. Construíamos currais com os cipós de matapasto que enfileiravam as roças de algodão capinadas para as colheitas. Currais povoados por bois improvisados de ossos e sonhos de crianças que apenas queriam viver a infância, alheios aos problemas e dificuldades que palmilhavam a vida dos adultos.
Eram nas férias de final de ano que realizávamos os casamentos de nossas bonecas em festas regadas a vinagre caseiro misturado com água e sal, numa tosca imitação de bebida e de galinhas improvisadas com frutas de melão-são-caetano, a revelia das reprimendas dos mais velhos que acreditavam ser a iguaria um dos desencadeadores de crises de câimbras de sangue.
Eram nas férias de final de ano que, na noite de Natal, nos reuníamos na casa do meu avô, Papai Manoel, para celebrar seu aniversário, festejado no dia 25 de dezembro. Uma data ansiada pela alegria da reunião de todos os tios e primos, pelos folguedos e brincadeiras nos terreiros da casa de Cipó, pelo queijo de coalho com rapadura deliciosamente degustado nos lanches da tarde. Um avô que, para mim, por muito tempo, foi confundido com Papai Noel.
Eram nas férias de final de ano que mamãe mandava fazer as nossas roupas novas para todo o ano seguinte. Tecidos comprados com a safra de algodão, isto é, quando a safra de algodão era mais abundante que os empréstimos que papai pegava no banco para tocar a vida de pequeno agricultor.
Esse ano não terei mais as férias de final de ano de minha infância. Mas, a cada ano, procurou, mesmo que na memória, as lembranças desse tempo para dar forças nas limpezas que empreendemos em nossas existências.
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