Fazendas digitais
Por Alexandre Costa
Quando o escritor Monteiro Lobato (1882-1948) criou na primeira metade do século passado o Jeca Tatu, uma figura estereotipada de um caipira do vale do Paraíba no interior de São Paulo, criou também o maior símbolo do atrasado Brasil agrário da época. O Jeca Tatu foi retratado como um trabalhador preguiçoso, ignorante, sujo, esmolambado e tido como uma praga nacional e responsável direto pelo o atraso no meio rural do país.
O que o insigne Lobato jamais imaginaria é que depois de mais de cem anos de ter criado o personagem do Jeca, o setor agrícola, comandado pelo agronegócio, viria a se tornar o principal motor do desenvolvimento econômico do país, que até o fim do ano terá um volume de vendas, estimado pelo Ministério da Agricultura, de mais de 700 bilhões de reais.
Esta semana a CONAB – Companhia Brasileira de Abastecimento anunciou a previsão de colheita, ainda para esse ano, de 268,9 milhões de toneladas de grãos. O agronegócio brasileiro acumula a cada ano espantosos recordes de produção, que contrasta brutalmente com outro Brasil claudicante que há dois anos consecutivos não consegue crescer o seu PIB acima de pífios 1% ao ano. Segundo previsões das Tendências Consultoria, em 2020, o agronegócio brasileiro responderá por 55,8% de todas as exportações do país, consolidando-se como um dos maiores do mundo.
Problemas existem, claro, e são muitos e diversos, e o principal está da porteira da fazenda para fora. Da porteira para dentro o produtor rural brasileiro esbanja arrojo, trabalho, competência e vontade de investir, batendo recordes de produtividade, lucratividade e inovação. É o produtor rural levando, literalmente, o Brasil nas costas.
Da porteira para fora, ai bicho pega. Temos o poder público como o principal vilão, que se tornou especialista em onerar e infernizar a vida de quem produz, com excessiva burocracia nos processos de exportação e importação de produtos; carga tributária escorchante, falta de investimentos em rodovias para escoamento da produção, que contribui para desperdício de 13,3% de toda produção de grãos somente no transporte pelas estradas do país; além de ter que enfrentar o massacre diário do ambientalismo exacerbado das mídias nacional e mundial lhes imputando a pecha de desvairados predadores do meio ambiente.
Aqui, no semiárido nordestino, depois do fim da cultura do algodão, exterminada pela praga do bicudo em meados dos anos 1980, vem se registrando uma tímida revitalização desta cultura na região de Sousa e em alguns municípios do sul do Ceará. Mas nada comparável a era áurea do ouro branco, no século passado, que em termos de produção e exportação tornou Campina Grande a Liverpool brasileira.
Esta heróica retomada da cultura do algodão ainda é de baixa escala e puxada unicamente pela iniciativa privada desprovida de qualquer apoio, incentivo ou qualquer programa governamental consistente. A história se repete, o produtor rural do semiárido continua abandonado, entregue à própria sorte, confirmando uma máxima secular: O governo mais atrapalha do que ajuda!
Afinal, a que se deve tamanha vitalidade e solidez do agronegócio brasileiro? Sem sombra de dúvidas o setor vive uma época de vacas gordas devido a desvalorização do real diante do dólar, aliado ao apetite voraz da China em consumir alimentos que impactou fortemente na oferta interna de produtos, como aconteceu com a explosão dos preços do arroz.
Esta conjuntura não é para sempre, são problemas pontuais e temporários que tendem a se normalizarem com a estabilização da demanda. O que está consolidando de vez o nosso agronegócio aos olhos do mundo não são estas efêmeras demandas estratosféricas e o câmbio super valorizado, e sim o alto desenvolvimento tecnológico da era digital incorporado ao setor que nos garantem sucessivos recordes de produtividade.
Hoje, as lavouras já são monitoradas remotamente, onde a aplicação de agrotóxicos é feita por drones; tratores são operados à distância por sofisticados sistemas de telemetria, similares aos da Fórmula 1; pluviômetros digitais medem com extrema precisão as chuvas definindo o momento certo para o plantio; mapas de temperaturas digitais identificam a disseminação de pragas. Uma revolução! E é essa revolução que esperamos que seja transplantada para todos os outros setores da combalida economia brasileira.
(*) Alexandre José Cartaxo da Costa é engenheiro com MBA em Gestão Estratégica de Negócios, empresário, presidente da CDL Cz, diretor da Fecomercio PB e membro da ACAL.
Cajazeiras, 12 de Novembro de 2020.
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