Eternamente Responsável Por Aquilo …
Quem ainda não leu “O Pequeno Príncipe” deve ler. Considero inadmissível que alguém não tenha ainda caído de avião no deserto com Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupéry filho do conde e condessa de Foscolombe nascido em Lyon aos 29 de junho de 1900 e morto aos 31 de julho de 1944.
Faço um veemente convite a procurar nas livrarias, ou mesmo tentar buscar na internet o texto acima citado. Feito para crianças, traz mensagens que conduz os adultos a uma séria reflexão do começo ao fim. É bem verdade que a palavra Deus não aparece nenhuma vez, mas o texto por completo nos conduz a Ele.
Gostaria de hoje, neste artigo, compartilhar os frutos de minhas reflexões, depois de umas trinta lidas do pequenino texto. O melhor capítulo, sem dúvida, é o do encontro do principezinho do asteróide B 612 com a raposa. Esperto, o animal explica ao menino – que não tem nome, pode ser qualquer um, eu ou você – a arte de “cativar” um amigo: “você ainda não me cativou” … “e o que é cativar?”. Então a raposa explica ao “petit” que cativar significa dar atenção, voltar-se para o outro como que se esquecendo de si mesmo, de tal modo que aquele foi cativado “torne-se único no mundo”.
Contudo, “cativar” exige tempo, paciência, reconhecimento dos limites próprios e dos outros. A expectativa por um encontro gera uma sadia ansiedade, característica dos amigos (dos verdadeiros amigos, daqueles que são capazes de morrer uns pelos outros): “tu tens que chegar sempre à mesma hora; se chegares a qualquer momento, não saberei quando te esperar. Mas, se sei que tu vens às quatro horas, às três já estarei alegre a te esperar”.
“Pedagogicamente”, ao ouvir o pequeno príncipe dizer que tinha em seu planeta uma rosa muito exigente no amor, a raposa o convida a olhar as milhares de outras rosas que existem no planeta Terra. E, eis a constatação: são todas iguais! Não têm nenhum valor afetivo. “Foi o cuidado que tiveste com tua rosa, aguá-la, protege-la do vento, aduba-la, que a fez única”. E o príncipe aprendeu que só existia uma única rosa no universo inteiro, que era a sua…
À despedida, a raposa começou a chorar com saudades do príncipe, ao que foi interpelada por ele: “mas foste tu que me pediste para cativar-te, não queria fazer-te o mal”. “Eu sei, disse a raposa, mas não me fizeste o mal … fizeste-me o bem … os campos de trigo não tinham nenhuma serventia para mim, agora terão, pois farão com que me lembre dos teus cabelos loiros …”
E, finalmente, a grande revelação do segredo da raposa: “o essencial é invisível aos olhos”, por isso, “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, o essencial só pode ser visto com o coração. Não estaria Saint-Exupéry pensando em Deus naquele momento? Só podemos enxergar a Deus com os olhos do coração, pois, neste assunto, os olhos da face enxergam apenas o que não é essencial, o que é acessório. Eles, porém, nos conduzem a algo.
Costumo dizer a quem tem o olhar sereno: “você tem a alma bonita” (disse isso pouquíssimas vezes na minha vida). Os olhos são a janela da alma e pela tranqüilidade dos olhos físicos, notamos a eficiência dos olhos do coração, a enxergar o infinito. O que consegue este feito (enxergar o infinito), consegue cativa-lo e, de certa forma, torna-se “eternamente responsável por aquilo que cativou”. Quem cativou a Deus, que se deixou cativar, tornou-se eternamente responsável por fazer com que Ele se sinta bem em sua casa, ou seja, na nossa alma. E somente quem tem a “alma bonita” consegue enxergar o essencial, pois já o possui dentro de si.
Eis aí os ventos natalinos … que tempo propício para retornarmos à nossa inocência infantil e, por um lado, deixar-se seduzir pelo menino da manjedoura, por outro, cativa-lo, fazendo com que Ele se sinta bem em nosso coração.
Viva Exupéry!
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