Dignidade feminina: avanços e o despertar para novas atitudes
Por Maria do Carmo
A história do dia 8 de março “Dia Internacional da Mulher” é resultante de um episódio cruel no qual 130 mulheres operárias numa fábrica têxtil em Nova York foram queimadas vivas porque através de um movimento grevista reivindicava melhores condições de trabalho inclusive redução na jornada de 16 horas para 10 horas. Apesar de ser um relato triste, ao mesmo tempo desperta para a reflexão sobre o quanto as mulheres avançaram e acreditaram na sua capacidade de lutar pela dignidade e valorização de ser humano e acima de tudo de ser mulher.
Relembrando conceitos dos tempos passados atribuía-se à mulher qualidades entre elas: criatura dócil, meiga, carinhosa, compreensiva, cuidadosa das tarefas domésticas embora sem nenhuma autonomia no gerenciamento financeiro do lar; este assunto ficava a critério do “chefe da família” a palavra era a do marido, “a esposa” era apenas objeto de cama e mesa, nenhum espaço a mais no lar, a expressão “dona de casa” tinha sentido figurado, na realidade ela não era dona de nada, nada de poder decisivo. As burguesa tocavam piano, bordavam, faziam crochê e tricô. Quantas delas por trás do piano eram escravas, sofriam ingratidões dos maridos, porém mostravam falsos sorrisos, obedeciam às ordens do “esposo”. A prepotência masculina era tão grande algumas mulheres chegavam a ser trancafiadas em quartos da sua própria casa, torturadas até a morte através da ditadura marital.
Estabelecendo um comparativo entre uma realidade na qual a mulher só tinha como única realização o casamento e muitas das vezes nas condições “sabe Deus como” justo que na sociedade patriarcal a figura masculina liderava e hoje chegar ao ponto de mulheres na condição de operárias se organizarem e protestar por direitos trabalhistas prova o quanto as mulheres são fortes, lutadoras e persistentes, mesmo sendo mortas na luta marcaram o início de uma nova era e o fortalecimento para outras batalhas e novas conquistas.
Todos os avanços verificados no universo feminino no sentido de direitos e respeito a sua condição de ser mulher partiram da organização das mesmas através do movimento feminista que exerceu importante papel na difusão da ideologia dos direitos equânimes (iguais): movimentos, teorias e filosofias propagavam a igualdade entre homens e mulheres além dos direitos e interesses das mesmas. Entre outros o direito de propriedade, o direito ao voto, o direito da mulher à sua autonomia e à integridade de seu corpo, direitos reprodutivos (o aborto nas necessidades extremas). A proteção nos casos de violência doméstica, assédio sexual, e estupros, direitos trabalhistas, licença maternidade e todas as formas de discriminação são conquistas alcançadas através da organização feminina.
Segundo relatos históricos dos avanços feministas, no século XX marcou o início de uma nova era para as mulheres a começar pela eliminação do estatuto jurídico de inferioridade das mulheres na vida civil sendo que isto só aconteceu em alguns países. Após a Segunda Guerra Mundial países ocidentais, (Itália, França) admitiram as mulheres no corpo eleitoral. A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o ano de 1975 o Ano Internacional das Mulheres, a primeira Conferência Mundial sobre as Mulheres na cidade do México declarou os anos de 1976 a 1985 a Década da Mulher. Em 1979, foi promulgada no âmbito das Nações Unidas a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres descrita como uma Carta Internacional dos Direitos da Mulher. No Brasil a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006): cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.
Não obstante que, apesar de tantos movimentos a favor da dignidade da mulher ainda há um grande número de mulheres submissas, sofrendo violências principalmente dos maridos, neste grupo se encontram as mulheres da camada de baixo poder aquisitivo e desinformada incluindo também aquelas intelectuais, independentes financeiramente que são torturadas fisicamente e psicologicamente, mas não tomam nenhuma atitude de libertação. É contraditório quando em pleno século XXI quando o empoderamento feminino ganhou espaço ainda existam mulheres sendo violentadas massacradas pelos seus “esposos” no seu próprio lar.
A revolução do espírito feminino desencadeou a quebra das discriminações e de conceitos enraizados de uma cultura na qual o homem era o privilegiado e que ainda hoje há uma grande parte que insistindo numa visão ultrapassada de não querer reconhecer o respeito do outro gênero. A saída para reverter esta realidade tem de sair da própria mulher, na busca da valorização de sua dignidade, ver a importância do amor próprio e anular o quadro das humilhações. É preciso saber fazer uso da inteligência “não se apanha por amor” e “quem bate não ama”. Fazer valer a condição de mulher é dever de cada uma, permitir que os outros desrespeitem e destruam seus valores é invalidar o grande potencial e que somente as mulheres sabem como aplicá-lo no tempo ideal na hora certa. É só querer.
Esta semana é de comemoração ao Dia Internacional da mulher. Momento para rever a importância de um ser como completude do masculino na qual a unidade dos dois acontece a procriação e a história da humanidade. Parabéns para todas as mulheres: à mulher-mãe, à mulher-esposa, à mulher-prostituta, à mulher-filha, à mulher-presidiária, à mulher-separada, à mulher-amante, à mulher-namorada, à mulher-trabalhadora, à mulher-consagrada. Todas merecem pleno respeito do seu papel numa sociedade civilizada.
Professora – Maria do Carmo de Santana
Cajazeiras – março de 2016
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário