Depois de 2020
Por Alexandre Costa
Enquanto a China se projeta para romper a hegemonia econômica do planeta em 2028, suplantando os EUA, nós aqui no Brasil amargamos mais uma década perdida. Perdemos um tempo valioso ensinando para o mundo novas técnicas econômicas do “voo de galinha”: crescimento rápido, mas por um período muito curto. Essa analogia emoldura fielmente a década do milagre econômico brasileiro nos anos 1970, na era do regime militar, onde fincamos um assombroso crescimento médio do nosso PIB na ordem de 7% para entrarmos em seguida na década perdida dos anos 1980, cravando míseros 2% de crescimento.
No período 2011-2020 a história volta a se repetir. Segundo dados da FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), o crescimento médio da renda por habitante deve ser negativo, em 0,6% ao ano. Um indicador socioeconômico dramático, de quarenta anos atrás, que desnuda um país tresloucado sem projeto, sem rumo e dividido socialmente.
Com toda certeza continua valer a máxima de que o Brasil não é para amadores. E não é mesmo. Os três Poderes da República que detém a função constitucional de conduzir harmonicamente os destinos da República se engalfinham numa luta insana que vai da usurpação de competências a interesses individuais, do patrimonialismo exacerbado a virulentas fogueiras de vaidades, jogando o país à bancarrota com consequências imprevisíveis.
A começar pelo Judiciário, temos no Supremo Tribunal Federal (STF), a guardiã da Constituição, num ativismo judicial sem precedentes, se vulgariza ao julgar de tabelas de fretes a publicação de balanços de empresas em jornais impressos, e agora sai numa caçada inconstitucional implacável para investigar, julgar e condenar alguns incautos brasileiros que se achavam protegidos constitucionalmente por criticar em redes sociais alguns semideuses daquela instituição, que em decisões togadas afrontaram a constituição. Não é por acaso, segundo pesquisa da revista Fórum, que o nosso “Supremo”, aquele mesmo que pediu na surdina 7000 doses da vacina Pfizer para seus membros em caráter prioritário, amarga um dos piores índices de confiabilidade entre as instituições brasileiras.
O brasileiro assiste perplexo o tamanho descontrole e falta de planejamento do poder Executivo para adquirir e entregar uma rápida e eficaz campanha vacinação para a população. Qual é a vacina? Quando começa? Onde ficou a aquela toda expertise do SUS, consagrado mundialmente em vacinação em larga escala? São respostas que não temos. Enquanto isso o mundo avança, atingindo a marca de mais de 45 países em processo de vacinação que fatalmente irá nos tornar perante o mundo em cidadãos de segunda categoria. É isso mesmo. Em curto espaço de tempo todas as nações do mundo com os seus programas de vacinação já implantados fecharão suas fronteiras para os cidadãos não vacinados. Vamos pagar o preço do negacionismo a maior emergência sanitária da humanidade perpetrado e instigado pela autoridade máxima do país. Coisas do Brasil.
Temos um presidente frágil, refém do Congresso, que para governar teve que retroagir e submeter-se a velha política do toma lá dá cá para aprovar as imprescindíveis e inadiáveis reformas estruturantes do Estado, como as reformas tributária, administrativa, o marco do gás, das ferrovias, entre outas pautas para viabilização e modernização da administração pública. Bolsonaro sabe e tem plena consciência que sem estas reformas aprovadas e implementadas o país ruma para o abismo e com ele afunda também o seu projeto de reeleição para 2022. É chegada a hora que o governo vai ter que entender e exercitar o que o cientista político Sergio Abranches chama de Presidencialismo de Coalisão.
Depois de 2020, entramos no ano novo com os velhos e mesmos problemas sem perspectivas de solução a curto ou médio prazo; mais de 14 milhões de desempregados; um rombo de 700 bilhões nas contas públicas; queda no PIB de 4,40% e, para coroar todo esse caos, temos a volta da inflação a nos espreitar logo ali no próximo primeiro trimestre. São tarefas hercúleas não somente para o governo, mas para todos os entes que constituem a República que sob a égide dos preceitos constitucionais da união e da harmonia nos conduzam a um país próspero, justo e solidário. Que venha 2021.
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