Declaração de Voto
A minha infância e adolescência teve sempre a presença do rádio. Teve sempre a voz destemida de Zeilton Trajano que, ao lado de Júlio Bandeira, fazia retumbar pelos sertões adentro, através da Rádio Alto Piranhas, as polêmicas do Discoteca Dinamite, ao som de Mr Moonligth, de The Beatles. Polêmicas que replicavam nas manhãs, no Minidiscoteca Dinamite, conduzido pela teatróloga Íracles Pires, a quem tributo a inspiração do meu ingresso no Curso de Comunicação Social.
Eram tempos difíceis. Pessoalmente, pelas limitações que a filha de um pequeno agricultor enfrenta ao se deparar com a vida da capital. Segundo, por uma conjuntura política de uma ditadura que silenciava e eliminava vozes e corpos dissidentes. Mas também eram tempos de resistência. Trincheiras eram erguidas em várias frentes e, sempre, em uma delas estavam entidades ligadas à imprensa, como, a nível nacional, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e, no âmbito da Paraíba, a Associação Paraibana de Imprensa (API). Posições que me inspiravam sentimento de reverência na dimensão de vislumbrar imponência e respeito no acanhado prédio da API, na Visconde de Pelotas, quase esquina com o Cine Municipal. Inúmeras vezes contive o ímpeto de escalar sua escada pelo receio de não estar no mesmo patamar de sua relevância política.
Mais tarde, profissional, me associo a API e acompanho, de forma mais íntima, sua evolução e continua identificação como espaço de formação e agregação de jornalistas, mas, sobretudo, como espaço político para o debate de importantes questões que permeiam a realidade do Estado e do país e, portanto, estão na composição da matéria prima do fazer jornalístico. Assumindo a docência universitária, contudo, não me ausento por completo do jornalismo e, nos últimos anos, acompanho, de maneira constrangida, o acanhamento da API que, sem uma postura política e ética afinada com sua história e com o tempo presente, se ausenta dos importantes debates que transversalizam e convulsionam o país, se reduzindo, em muitos momentos, a distribuição de uma mera carteira para associados. Essa, para mim, foi, nos últimos anos, a única notícia que tive da API.
Mas, com entusiasmo, recentemente, através de uma ligação telefônica do companheiro Cesar Nóbrega, me contagia a informação de que a jornalista Sandra Moura estava articulando uma proposta de Chapa para concorrer às eleições da API. Uma proposta ancorada não apenas em nomes, necessários a composição de uma diretoria, mas fincada em bases políticas e conceituais afinadas com nossa contemporaneidade. Uma API que seja ação e posição no palco das discussões sobre as novas mídias sociais, que esteja atenta ao debate sobre violência e assédio, sobre conjuntura, papel e função dos meios de comunicação e dos profissionais que neles atuam. Uma API que, nestes tempos de pós modernidade da informação digital, da comunicação virtual, se faça concretude além do Prédio da Visconde de Pelotas, ultrapassando a Serra da Viração e se fazendo presença e ação política nos múltiplos interiores. Uma API que, perfilada ao lado de seus associados e de outras forças sociais, esteja na dianteira da definição de uma sociedade onde a informação seja manipulada com ética e alavanque a crítica, necessária a produção de humanos homens.
Esta é minha declaração de voto para Sandra Moura.
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