Carta ao Lula
Meu querido presidente Lula, bom dia.
Desculpe a intimidade, mas, neste momento, te sinto mais amigo, mais querido, mais sincero, mais verdadeiro.
Um amigo que dividiu com milhões de tantos outros amigos o sonho de um país sem senzalas e sem porões.
E aí, querido presidente, você cometeu um erro imperdoável na perspectiva de nossas rançosas elites.
Acreditou na idéia e apostou na possibilidade de que todos deviam ter, no mínimo, três dignas refeições por dia sem a nociva dependência da mendicância aos poderosos.
E isso, querido presidente, quebra corrente, rompe grilhões e institui novas modalidades de ver e fazer política. Não a política rasteira e, muitas vezes, deprimente, dos palanques. Mas, a política como expressão e personificação de desejos, anseios e projetos de vida e de país. Política que, rompendo a exclusão, trincando a dependência externa, instigando a ciência e o conhecimento como trilhas do desenvolvimento, não somente econômico, mas, sobretudo social e humano, nos faz adotar a postura ereta de quem tem o horizonte como perspectiva e projeto.
Querido Lula! O seu crime se resume a uma ação delituosa que não está prescrita em códigos e regimentos.
Lula, você ousou romper o silêncio do calabouço e deu voz e direção aos murmúrios que, produzidos nos porões dos navios negreiros, nas senzalas, nas favelas e sertões, ganha audibilidade, ecoa e reverbera em corredores e gabinetes mofados pelo bolor da intransigência fascista da casa grande. Mas os murmúrios que se fazem gritos ferem e agridem a “sensibilidade podre e estrábica” de um país cuja medrosa elite acredita na subserviência e na servidão como caminho e possibilidade de acesso às migalhas que escapam da mesa farta das poderosas nações.
Mas o seu crime, querido Lula, é o crime de todos nós que apostamos na ideia de um país “para todos”. Como você, acreditamos na construção de alianças e acordos com aqueles que se diziam egressos da casa grande, mas amigos da senzala. Uma amizade débil, raquítica, murcha e que não resiste à perspectiva concreta do acesso, da conquista, do direito semelhante, do banco escolar partilhado e compartilhado, da casa própria, da luz que a todos alumia, da água que a todos sacia.
E isso, querido Lula, causou estranheza.
Você lembra o samba de Nego Álvaro? Não custa repetir.
“Estranhou o que?
Preto pode ter o mesmo que você
Estranhou o que?
Preto pode ter o mesmo que você
Preto joga charme, come carne
Preto roda de chofer
Anda de avião, craque de gamão
Troca de talher.”
É isso, querido Lula.
Vou ficando por aqui apenas te dizendo que você não está sozinho. Estamos nas ruas, praças, parques, avenidas, favelas, arengando não só por você, mas pela ideia “Lula”.
Um cheiro meu e das minhas gatinhas Lamparina, Ofélia e Zoidibila.
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