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Maria do Carmo

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Carta ao Estudante

15/08/2017 às 17h01

Caros (as) estudantes,

talvez  nem percebam o quanto é importante ser estudante. É através do ato de estudar que o agente desta ação o “estudante” faz uso dos momentos enriquecedores, minutos bem investidos, nos quais as manifestações do desejo de aprender algo desconhecido através da busca e do acúmulo do conhecimento resultam num produto valioso numa complexidade ilimitada: a aprendizagem, às vezes parece cansativo, difícil, mas é gratificante afinal, são alicerces que garantem futuros promissores: “só vence que tem perseverança e garra”.

Por isso estudantes, aproveitar cada segundo desta etapa de vida, é se preparar através da fixação da memória a subida na escada da vida; chegando ao último degrau sentir-se-á disposto ao enfrentar uma nova realidade consciente, pautada nos caminhos da sabedoria: estudantes, importantes peças na engrenagem da sociedade, talvez nem conheçam o grande poder de força, que juntos poderão reforçar o grito para as mudanças, visto que muitas realidades vivenciadas hoje foram frutos das concepções inovadoras e revolucionárias da classe estudantil organizada de ontem.

E assim, continua esta carta permeada de fatos ora tristes, de sofrimentos, de massacres, ora belos, entusiastas, brilhantes com grandes lições de lutas, salpicadas de otimismo que através da  coragem gestada na alma de tantos estudantes das  décadas passadas, tornaram-se o embrião  do rompimento contra ideologias políticas conservadoras e repressoras. Estudantes que tinham na  corrente sanguínea a velocidade da liberdade, as pulsações fortes do coração eram a canção e o comando para a inquietude contra as opressões do sistema de governo do passado.Uma brincadeira séria que se tornou linda realidade.

Numa volta ao passado, a história da origem do Dia do Estudante Internacionalmente  comemorado em 17 de Novembro, data que segundo as páginas históricas marcou as atitudes revolucionárias no ano de 1939 na Tchecoslováquia,  quando aconteceu a resistência estudantil contra a ocupação nazista. No Brasil, o 11 de Agosto de 1827 marcou as instalações dos primeiros cursos nas áreas de Ciências Jurídicas e Ciências Sociais sendo estas faculdades impulsionadoras do ensino superior no país e do exercício da vida intelectual de pessoas  responsáveis por “pensar o Brasil”. Em 11 de Agosto de 1927, cem anos após a fundação destas faculdades em uma homenagem à mesma, o advogado Celso Gand Ley sugeriu que fosse instituído o “Dia do Estudante” exatamente na data mencionada, daí porque o dia 11 de Agosto também se comemora o Dia do Advogado.

A história do dia do estudante no Brasil nem sempre foi momento festivo, mas o início de uma grande trajetória de lutas que marcaram o Dia 11 de Agosto de 1937, ganhando novo significado quando a União Nacional dos Estudantes (UNE) realizou o I Congresso Nacional dos Estudantes tendo como objetivo discutir temas políticos e sociais. Foram as atitudes de jovens estudantes que passaram a representar um segmento organizado na sociedade brasileira. E os elos de amizades, partindo de identificações das ideologias políticas, nos bate papos dos recreios, na paquera, no abraço e nas discussões germinavam as sementes da revolução.

Falar do Dia Nacional dos Estudantes é relembrar a (UNE) União Nacional dos Estudantes grande símbolo da organização estudantil batalhas travadas contra um sistema político opressor. O dia do estudante significa no Brasil relembrar que as raízes da democracia foram plantadas através da União Nacional dos Estudantes, lutas marcadas por sofrimentos, sangue e morte de  jovens que numa atitude de doação  através do otimismo e coragem repudiavam um sistema ditatorial, sendo a UNE o carro-chefe, para a organização estudantil bandeira de novas mentalidades e ruptura com a ditadura e ao mesmo tempo doação da vida por um ideal de viver em um país livre!

A fundação oficial da UNE foi realizada no II Congresso Nacional dos Estudantes em 1938 e consequentemente fortalecimento da força estudantil nas atividades das organizações passando a ser coordenadas pela diretoria da UNE a partir de 1939. Em 1940 a UNE defende o fim da ditadura do estado Novo de Getúlio Vargas e toma a posição contra o nazifacismo defendendo a ruptura do Brasil com os países do eixo (Alemanha, Itália e Japão). Era uma nova história que se iniciava no país cujos protagonistas eram os jovens estudantes que não tinham armas nas mãos, mas censo crítico na defesa de ideologias libertadoras; a repressão começava a se abalar.

Em 1943, o Centro Acadêmico XI de Agosto organiza a Passeata do Silêncio que acaba em repressão policial, embora a liderança da UNE  já estava fortalecida em todo país. Muitos fatos sucederam a história da entidade marcada por passados negros, mas também exemplo de persistência na defesa de ideais melhores para a nação. Na década de 1970 é criado o Comitê em Defesa dos Presos Políticos na Universidade de São Paulo (USP). Em 1976 no III Encontro Nacional dos Estudantes na PUC – SP, as tropas de repressão invadiram a universidade ferindo e prendendo mais de 700 estudantes. No entanto não era motivo para parar e em 1979 aconteceu a 1ª eleição direta da UNE, sendo eleito o baiano Rui César Costa e Silva da Chapa Mutirão.

Brilhantes fatos com a participação dos estudantes marcaram mudanças de um passado recente na política brasileira, ocorrendo em 1981 as passeatas coordenadas nas vésperas da 1ª eleição direta presidencial pós-ditadura.  Em 1984 a participação da UNE na Campanha pelas Diretas Já e a Campanha de Tancredo Neves. Em 1990 Lindenberg Farias estudante paraibano foi presidente da UNE e grande defensor da bandeira “Fora Collor” sendo aprovada em 1992 ganhando cobertura nacional e se transformou no principal mentor na campanha nacional pelo impeachment.

O amor a um ideal e a coragem de concretizá-lo custou caro para vários jovens os quais foram massacrados e mortos. Jean Von der Weid é preso assumindo a presidência Honestino Guimarães que desaparece em 1973. Alexandre Vannnuchi Leme estudante da USP é preso e morto pelos militares; a missa realizada no dia 30 de março na Catedral da Sé é o primeiro movimento de massa de 1968. Jaime da Silva Teles morto na Passeata do Silêncio pelos militares. Édson Luis Lima Souto é morto durante uma manifestação contra o fechamento do Restaurante Calabouço em 28 de Março de 1968.

Que este último relato não seja aterrorizador, mas o retrato de uma população juvenil que se doaram e prepararam a realidade vivenciada hoje. Estudantes brasileiros, legados de um passado de luta marcado pela batalha travada contra poder político da época, acima de tudo, doação na conquista de dias melhores vivenciados atualmente por muitos, que nem sabem o quanto custou para estes soldados do passado cujas armas eram os discursos promotores da liberdade.

Professora Maria do Carmo de Santana

Cajazeiras – Agosto de 2017


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Maria do Carmo

Maria do Carmo

Professora da Rede Estadual de Ensino em Cajazeiras. Licenciatura em Letras pela UFCG CAMPUS Cajazeiras e pós-graduação em psicopedagogia pela FIP.

Contato: [email protected]

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Professora da Rede Estadual de Ensino em Cajazeiras. Licenciatura em Letras pela UFCG CAMPUS Cajazeiras e pós-graduação em psicopedagogia pela FIP.

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