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Alexandre Costa

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Cangaço digital

27/03/2025 às 10h25

Foto: Reprodução / Marcello Casal Jr/Agência Brasi

Por Alexandre Costa – Considerado como um fenômeno do banditismo nos sertões do Nordeste brasileiro, entre o século XIX e meados do século XX, o cangaço se notabilizou pelo seu grau de violência e atrocidades cometidas pelos seus membros ao longo das suas caminhadas atravessando estados, invadindo cidades cometendo assassinatos, sequestros, estupros, extorsões, e pilhagens deixando para trás um rastro de destruição e terror.

Dentro de uma ótica sociológica, este fenômeno é visto como uma resistência contra a injustiça e a opressão causada pela pobreza, desigualdade social, repressão policial e ausência total do estado que nos leva, ainda hoje, o questionamento dúbio: seriam os cangaceiros vilões ou heróis?

Desarticulado e extinto em 1938 com a morte de seu líder maior, Virgulino Ferreira, o Lampião, o cangaço chegou ser apresentado numa visão romantizada no filme, O Cangaceiro, de Lima Barreto de 1953. Um clássico que entrou para a história do cinema e hoje consta na lista da Associação Brasileira de Críticos de Cinema como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

Depois de mais de 60 anos, entre o fim dos anos 1990 e início dos anos 2000 a mesma logica criminosa do velho cangaço de Lampião ressurge com uma nova roupagem e outro termo: o novo cangaço.

A estratégia era simples, reunir grandes grupos armados para prática em alta escala de assaltos a bancos, carros-fortes, espalhando o terror com o uso de violência extrema chegando a sitiar cidades inteiras em mega operações que nada deixa a desejar aos filmes de ação de Hollywood. Quem não se lembra daquelas fortes imagens na TV e nas redes sociais de reféns sendo utilizados como alvos humanos amarrados aos capôs de carros em desesperadas rotas de fugas?

Hoje, já na sua segunda versão, o cangaço mais uma vez se reinventa, adotando uma estratégia inovadora que não mais assaltam agências bancarias em pequenas cidades, nem muito menos utiliza armas, tiros, ou explosões, surge agora, sob o comando do crime organizado, com um novo modus operandi: as fraudes digitais onde os cibercriminosos invadem contas bancárias clonam cartões de crédito, operações com o Pix que resultam em desvios bilionários.

Os números assustam. Dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) apontam que somente em 2024 os desvios por fraudes bancarias e golpes por cartões de crédito atingiram a cifra R$ 10,1 bilhões. Uma prova cabal que mostra que a migração de organizações criminosas para o ambiente digital não é mais uma simples tendência, é uma realidade irreversível. Vivemos a era do Cangaço Digital.

Não se trata de um simples neologismo criado pela mídia para descrever mais uma mazela incrustada no cotidiano dos brasileiros sem qualquer perspectiva de reversão. A nossa legislação penal leniente com os criminosos e com o próprio sistema bancário denota nitidamente que o Cangaço Digital veio para ficar.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Alexandre Costa

Alexandre Costa

Alexandre José Cartaxo da Costa é engenheiro, empresário, especialista em Gestão Estratégica de Negócios pela Universidade Potiguar, diretor da Fecomercio PB, presidente da CDL de Cajazeiras e membro fundador efetivo da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal).

Contato: cartaxocosta@gmail.com
Alexandre Costa

Alexandre Costa

Alexandre José Cartaxo da Costa é engenheiro, empresário, especialista em Gestão Estratégica de Negócios pela Universidade Potiguar, diretor da Fecomercio PB, presidente da CDL de Cajazeiras e membro fundador efetivo da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal).

Contato: cartaxocosta@gmail.com

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