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Damião Fernandes

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Brasil: Ironias da Independência

05/09/2009 às 08h54

Por Damião Fernandes

Costumamos ouvir dizer que certas pessoas gostam de resolver suas diferenças no grito, ou então que pessoas mal educadas não conseguem conversar com outras sem alterar sua voz, sem fazerem uso do grito como uma manifestação dos seus desejos. Pois bem, assim como foi com o Brasil, hoje são com os brasileiros.

O Brasil de 1822 somente conseguiu sua liberdade e independência porque resolveu expressar seus desejos políticos, economicos e outros por meio do grito. É o que hoje conhecemos como o Grito do Ipiranga. No grito, o Brasil “conquistou” sua independência. Independência ou Morte gritou o príncipe envolto a pressões estomacais e políticas. 

O que hoje se convencionou a chamar de Independência do Brasil, é na verdade um processo que culminou com a emancipação política desse país do reino de Portugal, no início do século XIX. Oficialmente, a data comemorada é a de 7 de setembro de 1822, quando ocorreu o episódio folclórico do chamado "Grito do Ipiranga". De acordo com uma determinada linha histórica, nesta data, às margens do riacho Ipiranga (atual cidade de São Paulo), o Príncipe Regente D. Pedro bradou perante a sua comitiva: Independência ou Morte!. Determinados aspectos dessa versão, no entanto, são contestados por alguns historiadores-pensadores. alguns deles com respaudo histórico e outros apenas com exigências poeticas. 

Se não vejamos: 

Em um artigo publicado pela revista “constelar”, Carlos Holanda estabeleceu uma curiosa e magnífica comparação histórica entre D. Pedro I e o ex Presidente Fernando Collor. Vejamos as palavras do Cronista: 

“[…] Mas há um detalhe que os historiadores, por força do pensamento acadêmico dominante, não consideram ou considerariam um verdadeiro absurdo, se alguém lhes apontasse. Os ciclos de fato se repetem! Não de forma idêntica, mas através de paralelos muitíssimo curiosos, todos com tempo definido para tornarem a ocorrer. A isto podemos atribuir a roda de ascenção e queda de impérios, como o persa, o grego, o macedônico, o romano. Em nossos tempos o cajado está com império norte-americano, cuja hegemonia jamais foi igualada em toda a História, mas ele é o que é: um império. Como tal depende de um processo expansor que talvez venha a consumir a si mesmo como ocorreu com os anteriores. Sem entrar em mais delongas filosóficas a esse respeito, vamos exemplificar a questão dos ciclos recorrentes com certos traços da própria História do Brasil e com a comparação entre alguns eventos da vida de duas personalidades muito marcantes para o país: o ex-presidente Fernando Collor e o Imperador Dom Pedro I.” 

Vejamos alguns exemplos desta comparação, destacados pelo autor do artigo: 

Pedro I – Encontrou os cofres públicos defasados e não sabia o que fazer para alterar esta realidade. Mudava suas decisões em altas horas da madrugada, acordando ministros e conselheiros, para depois alterar tudo outra vez horas depois.
Collor – A economia brasileira continuava em crise após várias tentativas e planos econômicos mal-sucedidos. De súbito, organizou um plano econômico desastroso para a economia do país.

Pedro I – Abriu o mercado e o território brasileiro aos investimentos estrangeiros, especialmente os da Inglaterra, a nação e a economia dominante na época.
Collor – Abriu o mercado ao investimento estrangeiro, aboliu várias restrições às importações e iniciou o processo de desestatização, visando obter crédito nas renegociações da dívida externa com banqueiros estrangeiros

Pedro I – Tentou contornar a crise econômica e o Tesouro falido colocando em circulação moedas de cobre, com valor de face muito superior ao do metal. Logo (1826) começou-se a falar que o problema do país estava no rei.
Collor – Criou o Plano Collor, junto com a ministra Zélia Cardoso de Mello, logo após o falido plano cruzado, com vistas a combater a inflação. Com isso, estabeleceu o confisco do excedente de um determinado limite de todas as contas correntes e aplicações bancárias, por um período de dezoito meses, após o qual seria devolvido em parcelas.

Pedro I – Teve como conselheiro e como "traficante de influência", o Chalaça, cuja história e comportamento em muito se assemelha à de PC Farias.
Collor – Teve como tesoureiro e traficante de influência PC Farias, que se tornara extremamente influente e poderoso em seu governo.

• Pedro I – Teve sérios problemas com D. Miguel, seu irmão mais moço, que conspirava para obter o trono de Portugal.
Collor – Teve sérios problemas com seu irmão mais moço, Pedro Collor, que trouxe à tona um escândalo que balançou o que faltava no governo para que ele caísse.

Pedro I – Renunciou devido à enorme pressão que recebia pelo desleixo com a economia. Deixou os cofres públicos vazios e o país totalmente endividado. As elites da época, bem como comerciantes de várias localidades perderam muito com suas medidas. Alguns perderam tudo, o que agravou ainda mais a situação. Partiu em direção a Lisboa esvaziando o que restava do tesouro, que julgava seu por direito.
• Collor – Renunciou para não ser cassado politicamente ao ser votado seu impeachment. Uma das causas principais do processo foi a crise econômica decorrente do confisco, que fez com que a maioria da população recorresse à Justiça Federal para reaver seu dinheiro. Mesmo renunciando, teve seus direitos políticos suspensos por 8 anos. Foi morar nos Estados Unidos. Tentou retornar à vida política como candidato à prefeitura de São Paulo, mas sua votação foi medíocre.

Pedro I – Tinha um comportamento boêmio, muito mais afeito às mulheres e aventuras do que à política. Era tido como "bonito e saudável", ou como "forte e corajoso", segundo as crônicas da época.
Collor – Marcou bastante a opinião pública por suas aparições esportivas, exibindo uma imagem de saúde e coragem. Foi o presidente mais jovem já eleito no Brasil, aos 40 anos de idade. Contudo, segundo as denúncias de seu irmão, somadas aos boatos, veio à tona seu lado boêmio.

Pedro I – Ao mesmo tempo em que era capaz de atos generosos, podia ser extremamente rude. Alguns historiadores apontam, como causa da morte da Imperatriz Leopoldina, pontapés aplicados pelo Imperador num acesso de fúria. Ela estava grávida.
• Collor – Seu temperamento agressivo já era bastante conhecido. Inclusive lutava karatê. Chegou a entrar em lutas corporais com outros parlamentares no início de sua vida política. Não se contendo de raiva, houve vezes em que chegou a fazer gestos obscenos à população que o vaiava. 

Uma pesquisa mais aprofundada poderá mostrar outros detalhes e semelhanças entre um e outro e entre as épocas de ascensão e queda de ambos.  A História do Brasil é fonte de revelações inquietantes, irônicas e verídicas. A História da independência do Brasil nos traz este e outros "causos" dignos de uma análise critica investigativa acerca da veracidade dos fatos. 

Viva a Independência!
Viva o Povo Brasileiro que mais uma vez reconduziu Collor ao Senado Federal!

Para Saber Mais
RIBEIRO, Darcy, O povo brasileiro – A formação e o sentido do Brasil, Sp, Companhia das Letras, 1996.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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