Apenas, o circo!

Por Mariana Moreira – É atribuída ao poeta romano Juvenal a expressão “panis et circenses”, ou seja, pão e circo. Isso, em pleno século I d.C. O poeta estaria, de forma inteligente, se posicionando no contexto histórico em que o governo romano, numa estratégia política de controlar a população e distraí-la e desvia-la dos graves problemas sociais e políticos, distribuía, gratuitamente, pão e promovia espetáculos circenses, desviando, assim, a atenção dos graves problemas sociais e políticos e, na mesma dimensão, amortizando qualquer reação popular a conjuntura de fome e miséria.
A atualização da expressão do poeta Juvenal reverbera nas cinzas do Carnaval quando assistimos a montagem de grandiosos espetáculos, não mais tão circenses, mas coloridos pelas tintas sedutoras e alucinantes dos holofotes midiáticos que aquilatam importância e dimensão de “popular” ao que apenas traduz rendimentos e ganhos políticos e financeiros para governantes e astros, não tão populares, mas, gestados nos ventres e nas eficazes engrenagens da indústria cultural.
Ah! E o pão? Este chega em forma de argumentos publicitários e de convencimento que classificam o espetáculo circense como o maior, o que trará grandes dividendos políticos e promocionais para quem o promove. Quando muito, talvez, uma rodada grátis de aguardente, também patrocinada por algum fabricante que ganhou destaque na peça publicitária de divulgação do grande circo.
E todos, anestesiados pelo glamour da festa, retornam para suas casas, nas cinzas do cansaço, mas reluzentes da purpurina que cintila em suas memórias estrategicamente plantadas pela insistente publicidade que lhes doutrina. Uma publicidade que alardeia ter sido o maior carnaval realizado e, portanto, trazendo a segurança de que, agora o município descobriu sua vocação para o progresso, onde por três, ou cinco dias, os milionários recursos investidos, e os minguados recursos retornados pela presença dos foliões, serão elementos impulsionadores de progresso e desenvolvimento isonômico.
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Retornando aos seus lares, seus bairros, suas casas no campo, os foliões inebriados pelo brilho do carnaval espetáculo circense não enxergam a carência de profissionais e equipamentos necessários ao pleno funcionamento do posto de saúde do bairro, não vislumbram a ausência de postos de trabalho e opções de segurança para si, sua família e sua comunidade. Ora, quando muito, manda uma “reclamaçãozinha” para um desses programas radiofônicos que, de forma também superficial, não questionam as conjunturas e apenas defendem posições pessoais alimentadas pelos “tocos”.
E, na inspiração de Caetano e Gil, podemos mergulhar na canção Panis et Circencis e gritar:
Eu quis cantar
Minha canção iluminada de Sol
Soltei os panos sobre os mastros no ar
Soltei os tigres e os leões nos quintais
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer.
Ora, mas as pessoas estão muito acomodadas e não lembram mais que a vida não é apenas nascer e morrer.
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