Amicus Plato, Sed Magis Amica Veritas
Fiquei honrado em perceber que um colega, conhecido e amigo de alguns anos, o Sr. José Ronildo, lê meus artigos. Um dos melhores e mais equilibrados radialistas de Cajazeiras, homem íntegro, de sua família, que pratica e que vive a sua fé, dá verdadeira alegria a mim, por saber que tenho mais um leitor ilustre. Reverencio a sua experiência (quem sou eu frente a José Ronildo?) acumulada em tantos anos de jornalismo falado e escrito.
Contudo, assim como “não é a barba que faz o filósofo”, também não é o tempo ou a prática que dão a alguém a percepção real e objetiva das coisas, nem mesmo a José Ronildo. Em texto publicado recentemente em https://www.diariodosertao.com.br/opiniao.php?id=20090330021844, criticando minhas observações a respeito de Cajazeiras e região, ele foi por demais infeliz, afirmando que “padres” que “têm a oportunidade de falar ou escrever em veículos de comunicação deixam a impressão de que a cidade só tem problemas”, citando-me nominalmente. Que injustiça desrespeitosa para comigo!!! Mas, VIVA a “liberdade de manifestação do pensamento e de informação” (Constituição Federal, art. 5º, IV; Lei nº 5.250/97, das quais sou um ferrenho defensor) e VIVA ao “direito de resposta” (CF, art. 5º, V). Sugiro, assim, que se consulte o arquivo do Gazeta, em que escrevo há seis anos, ou que se abra o endereço https://www.diariodosertao.com.br/mais_opiniao.php e se perceba a miscelânea (variedade) de meus artigos, que vão da metáfora poética, passando pela reflexão religiosa, chegando à crítica social, sim!
No seu texto, a conotação dada por Ronildo ao termo “padres” traz uma carga de desprezo e de ironia, como que a repetir a abusada, ridícula e enfadonha frase de que “lugar de padre é na sacristia”. A forma como usou a palavra, juntamente com “companheiros de imprensa” (quais? porque nenhum foi citado nominalmente? são meus companheiros também, pois me considero, com muito orgulho, membro da imprensa cajazeirense, se me permitem. E porque os outros padres e Bispo que usam dos meios de comunicação não foram citados?), suscitou no leitor um questionamento: os padres só servem para criticar? Não enxergam nada de bom? O ilustre radialista ardilosamente induziu o leitor do Gazeta e do Diário do Sertão a considerar-nos (EU SOU PADRE, apesar de minha indignidade) incômodos (da mesma forma que o papa se tornou incômodo às nações européias, ao criticar o uso ineficaz dos preservativos no combate à AIDS). Se for para sermos incômodos em nome da Verdade, que o sejamos, então.
Numa baila que nos deixou tontos, Ronildo costurou o seu texto uma constelação de homens públicos cajazeirenses, pra lá e pra cá, do passado e do presente, destacando seus méritos, seus feitos e suas conquistas. Muito bem! Concordo com tudo o que foi dito dos senhores políticos, mas discordo, critico e nunca deixarei de denunciar os abusos quando os há. Senão, não seria cidadão; seria, sim, uma lagartixa, que balança sempre a cabeça afirmativamente quando lhe dirigem a palavra (engraçado, não?), ou um burrinho de carroça, com pestanas a impedir-lhe a visão lateral.
Pena que homens que fizeram tanto por Cajazeiras, sequer foram lembrados por Ronildo. Porque motivo? Será pelo fato de não serem políticos? Citarei apenas alguns, os nomes conduzem nossas mentes aos seus legados: Pe. Ignácio de Sousa Rolim, Dom Moisés, Dom Mousinho, Pe. Gervásio Coelho (que morreu longe de Cajazeiras, no Rio de Janeiro, por desgosto da terrinha), Mons. Abdon Pereira, Mons. Sitônio, Mons Luiz Gualberto (o pai da educação moderna em Cajazeiras, alguém duvida?), Dom Zacarias, Dom Matias, Dom José Gonzalez (com seu “incômodo”(também?) programa semanal na Alto Piranhas), Pe. Gervásio F. de Queiroga (cajazeirense honorário, mas considerado “forasteiro” por alguns ignorantes, que têm a idade de serem seus netos).
Ah, não apenas clérigos: tivemos também Lica Dantas, José Pequeno, Angelina Tavares, Joaninha Cartaxo; temos Carmelita Gonçalves, Angelina Barbosa, Inês Holanda, Lúcia Siebra, Luíza Moises, José Antônio, Mercês Holanda, Nicinha Holanda, JOSÉ RONILDO, Joaninha Cartaxo, Iêda Félix, José Cavalcante, Juliana Moreira, Sheila e Aninha (Santa Maria), os empresários, os comerciantes, grandes e pequenos, os juízes (Djaci, Edvan), os promotores, os advogados (Hugo, Dedé, João de Deus, pai e filho) e tantos e muitos outros que colaboram para com o progresso de Cajazeiras, particularmente no exercício de suas atividades. Eis, “as vitórias de Cajazeiras” esquecidas por Ronildo. Dos nominados, nunca ouvi uma palavra que lhes maculasse a honra e a hombridade, ao passo que, a respeito de ALGUNS políticos (não todos, é claro!!!), não posso afirmar o mesmo.
Os citados incomodaram e incomodam, pois não visam o ataque ou a defesa político-partidária. Lugar de padre não é em partido político! Este sacerdote que escreve não deve nada a nenhum político e não precisa orquestrar palavras em defesa deles, pois o melhor escudo de um SERVIDOR PÚBLICO é o seu serviço e a sua transparência (a ausência disto é a sua condenação); este articulista sabe que deve elogiar sim, quando merecedores dos elogios, não por bajulação ou por outros proveitos nauseabundos, como o financeiro, ou o interesse carniceiro em “cargos” ou “funções”; este que escreve, eterno aluno de Carmelita Gonçalves da Silva, sabe que lugar de padre é, também, na conscientização político-cidadã do povo para que não se venda por um par de sandálias, uma cesta básica, um milheiro de telha ou de tijolo (coisa não rara!!!). Podemos universalizar? Claro que não! De novo o Ronildo acertou. Estou com ele e contra quem o desmentir. No entanto, não podemos ter os olhos vendados para a realidade social alarmante que aí está. Não, Ronildo, a zona rural existe para os grandões das fazendas e dos haras, não mais para os pequenos que querem plantar, pois estes, em boa parte, já estão acostumados às “bolsas-esmolas-viciantes” dos governos. Negar isto é tapar o sol com a peneira. E apoiar este assistencialismo populista é marchar para o caos.
Por ser um cajazeirense bairrista e orgulhoso de minha terra, que beira a inconveniência quando fala da “cidade que ensinou a Paraíba a ler”, sinto, sim, José Ronildo, vergonha de chegar a Cajazeiras pela esburacada via do bairro dos Remédios (já consertaram?), de ser enganado com a eterna promessa da vinda do SAMU que nunca vem, de ver meu povo sofrendo num Hospital bonito, mas que não tem nem lençóis (até um tempo desses era privilégio de uns poucos) ou remédios, de ir ao Hospital Infantil e constatar que a tão sonhada UTI neo-natal não existe e, pior ainda, que ambos os nosocômios não oferecem condições dignas para um ser humano, de ver toda a semana o bordão do Gazeta em favor do Aeroporto que nunca sai; de ver nossos jovens morrendo à míngua e matando também por conta do uso e abuso de drogas e não ter ninguém que lhes valha eficazmente; de sentir as lágrimas nos olhos de muitos meninos de rua que pedem “pratinhas” nas portas das lanchonetes e de ver que outros tantos dormem debaixo da torre da Igreja Catedral. Sou um cajazeirense de trinta anos de idade e posso afirmar que assuntos como estes fizeram parte do meu cotidiano infantil e, infelizmente, continuam fazendo parte do meu cotidiano adulto. Ademais, sou um cajazeirense que acompanha de perto os acontecimentos da cidade, pois a amo, e o amor que por ela nutro não será extorquido por ninguém.
Acredito na vontade de trabalhar dos políticos da região, acredito nas palavras de José Ronildo, mas também acredito que “bafo de boca” (e muitas outras coisas mais que ENVERGONHAM a nossa cidade e seus filhos) e pouca ação são significativos apenas de interesses pessoais em detrimento do bem coletivo.
José Ronildo, meu caro, * “estimo Platão, mas estimo ainda mais a Verdade” (tradução do título acima).
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