Alô, alô, Cajazeiras, o progresso continua com Zerinho
Passa um filme na minha cabeça… Eu conheci bem o Zerinho pai, marido, vizinho, amigo. Por tabela, conheci o Zerinho empresário, vice-prefeito, prefeito, secretário de Estado, candidato a deputado estadual… O Céu era o limite pra ele, tanto é que tenho muita convicção que é onde ele está agora, bem ao lado de Deus, cuidando de nós aqui na terra.
Tudo começou em 1988 quando Zerinho retornou a Cajazeiras para ser candidato a vice-prefeito de Vituriano. Éramos vizinhos na rua Erenice Ferreira. Foi ali que conheci Alana, com quem, de cara, virei amiga-irmã, fiéis companheiras até hoje. Na calçada da sua casa, eu lembro bem, Alana perguntou meu nome, eu respondi e lá vinha Zerinho chegando em casa e soltou: “Alana, seja amiga dessa menina, ela é neta de Inez Figueiredo”. E tinha essa mania de dizer de quem eu sou neta para me apresentar às pessoas. E a ordem dele foi cumprida até hoje…
Daí nós mudamos para a rua Aprígio de Sá no ano seguinte, e, para a minha grata surpresa, Zerinho e família se mudaram para a “pracinha” – como chamamos carinhosamente, alguns dias depois. E estava mantida a vizinhança. Eu lembro que fiquei radiante de felicidade, pois aquela família já se tornara especial na minha vida.
Zerinho se tornou vice-prefeito de Cajazeiras e, além de vizinha e amiga de Alana, nos tornamos colegas de classe, no Colégio Nossa Senhora do Carmo, “Tia Carmelita”, por longos anos.
Foram mais de dez anos de vizinhança, até nos mudarmos para o Jardim Oásis, após a separação dos meus pais. Eu saí daquela rua, mas ela nunca saiu de mim, nem tampouco aquela família saiu mais nunca do meu coração.
A amizade persistiu e persiste, sem nada que a afete, como uma rocha indestrutível, fincada profundamente no solo.
De Zerinho eu tenho os episódios mais engraçados da vida.
Já prefeito de Cajazeiras em 1993, o vi, por diversas vezes, chegar em casa e adormecer na varanda, tirava os sapatos e permanecia com as meias nos pés. Nisso, esquecia a maleta aberta, cheia de dinheiro trocado que ele, generosamente, após escutar e aconselhar, doava a quem lhe procurava .Eu via a cena e logo tratava de avisar a Marizete e, lá vinha ela, acordá-lo carinhosamente para ir dormir dentro de casa.
Zerinho tinha um lado criança que combinava bem com o apelido (apesar desse nome Zerinho ter sido dado por causa de uma eleição que ele não venceu e que o radialista ao anunciar o resultado das urnas dizia “zero, zerinho votos”), eu poderia citar aqui mais de dez situações de rachar de rir, mas vou mencionar apenas duas muito hilárias que ele protagonizou comigo. A primeira delas foi no dia que estávamos num passeio de final de semana em Boqueirão, no sítio Jari, de Chico Crispim e Darticléa e, estando eu deitada numa rede, ele tratou de amarrar as varandas da rede, tendo me deixado dentro sem saída. Ele tinha o hábito de falar alto e ria mais alto ainda, o que chamou a atenção de todos na ocasião. A outra foi no dia que eu, Alana e companhia, estávamos amarrando linhas de costura de um lado a outro da rua e, ele – já prefeito de Cajazeiras – chegou em casa e se deparou com a cena. Confesso que não tive medo do carão, longe dele fazer isso. Como eu já esperava, ele entrou na brincadeira e se divertiu com a gente.
Zerinho era daquelas figuras humanas sem igual. Caridoso ao extremo, praticante inveterado do bem, e nunca, nunca, nunca (repetindo os ternos como ele tinha o costume de falar), deixou ninguém que bateu na sua porta na mão.
A casa de Zerinho era a casa de todos, a casa do povo, tivesse ele mandato político ou não. O cachorro Kid era o único guardião do portão, o máximo que fazia era latir para um desconhecido.
Arlan, esse eu não poderia esquecer, foi o filho que Zerinho sempre sonhou, inclusive deu a ele uma nora admitida na família como filha. Cardilânia sempre foi linda por dentro e por fora.
Alana foi o amor da vida de Zerinho. Ele deu à ela todo afeto, carinho e presença que o melhor pai do mundo poderia dar, e estendeu tudo isso a quem era amiga dela. Eu tive esse grande privilégio na vida. À Brenda e Rogerinho, ele multiplicou esse amor e, como o jeito Zerinho de ser, foi extraordinário.
A primeira neta de Zerinho, Sara Joaquina de Sá Rodrigues, parava a casa quando vinha visitá-lo. Sarinha o tirava até da leitura assídua e diária de todos os jornais da época, os quais ele assinava e lia na primeira sala da casa, sentado no sofá preto, com os pés pra cima. Depois veio Arlan Júnior e os demais, que dividiram com Sara o amor de Vovô Zerinho.
As reuniões políticas eram feitas na sala de jantar, quando o acesso se dava pela primeira porta de entrada, já que, para os de casa, a segunda porta, que era de frente à escada do andar superior, era o acesso mais usado.
Zerinho era pai de uma amiga, daqueles que tirava o carro da frente de casa pra abrir espaço pra gente jogar bola.
Era um esposo super ligado a Marizete, sua fiel escudeira, sempre diligente, forte, altiva. Morei vizinho a eles quase quinze anos e nunca vi essa mulher sucumbir um só segundo. Marizete é sinônimo de equilíbrio e muito contribuiu na minha formação. Realmente, foi a grande mulher por trás do grande homem Zerinho.
Ahhh… Eu passaria dias escrevendo sobre Zerinho.
Também tinham as figuras que vinham para a frente da casa e eu me lembro bem de um homem bêbado que, não raras vezes, já descia a Praça das Oiticicas gritando um trecho da música da campanha dele de 1992: “Alô, alô, Cajazeiras, o progresso continua com Zerinhooo”. Ele ria, abraçava o homem, dava-lhe algum dinheiro e entrava pra casa.
E eu fico aqui viajando no pensamento, rindo e chorando, lembrando daquele homem que me deixou uma lição de vida: fazer o bem sem olhar a que, e nunca desistir.
Esse é José Nelo Zerinho Rodrigues, um homem à frente do seu tempo.
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