header top bar

Francisco Cartaxo

section content

Agenda do segundo turno

29/10/2014 às 14h53

A campanha do segundo turno deveria ter focado questões relevantes para a população, de preferência, voltadas para o futuro do Brasil. Deveria, mas não o fez. O guia eleitoral foi falso, agressivo, mentiroso, cheio de promessas nas quais ninguém acredita. O guia mais desinforma o eleitor do que o ajuda. Nos debates não se viu o confronto de dois projetos de governo, mostrados sem subterfúgios. Em lugar disso, maquiagem da verdade. Um Deus nos acuda! Às vezes, mais pareciam postagens maniqueístas em redes sociais. E nunca apresentações de pretendentes à presidência da República.

Temas fundamentais, como reforma tributária, novo pacto federativo, gestão pública eficiente, desigualdades regionais e sociais, nada disso se viu. Até a velha prática da corrupção entrou na agenda de modo deformado, os candidatos sem tocar nas causas reais. Nem mesmo a origem e o pagamento de propinas em casos concretos foram tratados com seriedade. Muito menos, as formas de combatê-la. Os avanços na esfera legal destinados a dar consistência às investigações policiais, a fortalecer o Ministério Público e o Poder Judiciário receberam apenas leves menções, sob a égide do lema “todos os políticos roubam”…

Um exemplo de avanço investigativo. A Lei 12.850, de 2 de agosto de 2013, que conceitua com mais clareza a “organização criminosa” e disciplina “os meios de obtenção de provas”. Neste caso, merece realce a “colaboração premiada”, estatuto antigo em muitos países, e incorporado às leis brasileiras há tempos, mas pouco utilizado. A Lei 12.850 afastou dúvidas e tem permitido sua utilização com mais segurança, como na investigação do pagamento de propina, forradas em obras superfaturadas da Petrobras, a partidos políticos, operadores e lavadores de dinheiro. Embora polêmico entre juristas, o uso da “delação premiada” tem sido um caminho eficaz para desvendar as entranhas da corrupção. Que a utilizou? O pobre coitado, Silvinho do PT, cujo sonho de consumo era comprar uma caminhonete Land Rover! E, este ano, o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e o doleiro Alberto Youssef, integrantes de esquema criminoso montado no governo do PT.

Se a discussão tivesse tomado o rumo das soluções e não de agressões pessoais, os debates, certamente, teriam contribuído para começar o desenho, por exemplo, da reforma política e partidária, do fim da reeleição, de nova disciplina do financiamento de campanha e do horário eleitoral gratuito, com maior rigor punitivo do irresponsável uso eleitoral da internet etc.etc. E que dizer das propostas para o Brasil voltar a crescer? Nada disso aconteceu, salvo uma ou outra referência ditada pelo marketing… Os postulantes agarram-se à orientação de marqueteiros, que flutua conforme as reações do eleitorado a cada passo da campanha, captadas nas pesquisas. Uma lástima.

Conclusão: a quase inutilidade do segundo turno como meio de levar ao eleitor informações corretas capazes de aumentar seu nível de consciência. Minha esperança se volta para os movimentos sociais, com sua capacidade de ir às ruas, à semelhança de 2013, para exigir do Congresso Nacional o debate e aprovação de reformas, em paralelo a punição dos envolvidos no escândalo da Petrobras, incluindo a cassação imediata de detentores de mandatos. Isso, independente de quem seja eleito no dia 26.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Recomendado pelo Google: