A Vitória da Cruz: A Salvação
Nosso Deus não é um Deus distante de nós. Ele viu a nossa humilhação diante do pecado e, chegada a maturidade dos tempos, decidiu vir em Pessoa salvar-nos do pecado e devolver-nos à vida na Graça. Fazendo-se homem no seio puríssimo da Virgem Maria, Deus, na Pessoa divina do Verbo, o Filho, assumiu a totalidade da natureza humana, tornando-se, sem deixar de ser Deus, igual a nós em tudo, exceto no pecado.
As reflexões que são feitas a nível teológico deste grande mistério (o Mistério da Encarnação) devem nos conduzir ao reconhecimento do Tudo de Deus e do nosso Nada. E, a partir desta compreensão da magnitude divina, à conversão, à mudança de vida, ao arrependimento, que é o primeiro passo para a santidade, entendida, desde agora como a habitação do Espírito de Deus em nós, como também a aceitação do nosso ser como um todo (palavras, ações e intenções) no Ser de Deus.
“Chama viva de amor que fere ternamente nossa alma no que mais de profundo há”, no pensar de Santa Teresinha do Menino Jesus, a proximidade da alma com Deus assemelha-se àquilo que o fogo faz com a brasa. Se verdadeiramente nos preocuparmos em largar as amarras que nos prendem ao mundo (e aos seus enganos) e avançarmos para as “águas mais profundas” da sã espiritualidade que Cristo no centro (uma espiritualidade cristocêntrica), nos transformaremos todos nEle: a brasa incendiada confunde-se que o fogo, de modo que já não mais há como saber o que é fogo e o que é brasa.
E o mais belo nisto tudo é que a santidade contagia, passa de coração em coração e modifica a mentalidade de quem nos cerca. Por vezes, não com palavras ou com ações, mas com o próprio comportamento, com o próprio testemunho. Com um “silêncio eloqüente”, que brota de um coração exultante de alegria e se faz perceber naqueles que enfrentam a dor com espírito alegre e esperançoso, confiante em Deus que, em Jesus Cristo, seu Filho, assumiu e já derrotou os nossos sofrimentos.
Ah, tragédia e vitória da Cruz; opróbrio e exultação; humilhação e glória; contradição para os julgamentos humanos, certeza para as sentenças do coração unido ao Crucificado. Não há como separar o Mistério da Encarnação da Pessoa Divina do Verbo do Mistério Pascal de Cristo. Pois, se “a Palavra se fez carne e armou a sua tenda em nosso meio”, foi para a Sua (e nossa) Ressurreição que isto se fez.
Crer e confessar a Ressurreição de Cristo é acreditar e aguardar o momento da nossa. Pois, “se com Cristo morremos, com Cristo ressuscitaremos”. Ressurreição é vitória e a vitória já foi alcançada por Jesus, para Ele (que não precisava de vitória) e, particularmente, para cada um de nós (que verdadeiramente carecíamos dela). Isto por meio da Cruz, pois “não há salvação sem Cruz”.
Somente os corações puros entendem o que digo. Os corações que ainda precisam entender, o entenderão no momento certo: quando chegar a hora da dor e nenhum referencial servir para amenizar-lhe ou, ao menos, dar-lhe uma significação. Esse momento chega para todos e, então, a uma nova visão de vida surge: pela dor, à salvação; pela morte, à vida; pela Cruz, à Ressurreição.
Mistério da Encarnação, Mistério Pascal, Mistério de Amor, sempre iniciado e sempre levado a bom termo a partir da decisão volta-se para Deus no mais íntimo do ser e fazer com que tal conversão modele cada ação cotidiana, de modo a poder afirmar que “já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”.
Todos podem fazer e praticar esta reflexão, facilitada com a celebração dos Sacramentos, quando a nossa fé torna-se “célebre”. Dentre eles, a Santíssima Eucaristia, “fornalha ardente de amor, de caridade” que, incendiando-nos, faz com que incendiemos também aos outros, principalmente os pobres e pequeninos, aos quais foram revelados os mistérios do reino dos céus. “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!”
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À Mestra das letras e da vida, Carmelita Gonçalves da Silva, no auge dos seus venerandos 84 anos (22 de julho),
os parabéns de um aluno que deveria ter aprendido mais da professora incansável.
Minhas orações, Mãe Carmelita.
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