A ressaca da doutora Denise
A vitória torna a ressaca azul, embora verde tenha sido a bandeira de campanha. Feridas expostas no calor da refrega saram rápido, as contas a pagar, reais e emocionais, são liquidáveis com dinheiro, posições no governo e gestos de amizade. Portanto, não incomodam muito quando se vence. Os 17.884 votos do número 25, confirmados na urna eletrônica, e transferidos por força de renúncia formal de última hora para o número 40, são a base da dívida maior contraída pela prefeita Denise Albuquerque. Está em casa. O número 40 pertence ao PSB, o partido que mais cresceu no Brasil nesta eleição. Assim, parece que tudo são flores para o vencedor, aliás, a vencedora. Até a ressaca da festa da vitória não gera dor de cabeça…
A ressaca braba, contudo, virá mais adiante, quando os graves problemas do município forem colocados diante da doutora Denise a exigir-lhe decisões políticas e administrativas, algumas urgentes, talvez sem tempo sequer de consultas demoradas ao maior responsável pela sua eleição.
Nem é preciso lembrar que a responsabilidade legal cabe a quem senta na cadeira de prefeito. E será ela e não ele quem responderá pelo rumo, acertado ou desastrado, que vier a imprimir a sua gestão. A propósito, pelo histórico recente de desmandos éticos da administração pública municipal em Cajazeiras, por mais fidelidade que Denise tenha ao sentimento da gratidão, o melhor a fazer é seguir com espírito crítico os conselhos de quem anda atormentado por uma permanente dor de cabeça. Não a passageira dor de cabeça derivada da ressaca eleitoral, mas aquela dor de cabeça persistente, causada pelo manuseio nada republicano de recursos públicos, em ações que levaram a Justiça a enquadrar seu autor em crimes dolosos de improbidade administrativa, praticados no exercício do mandato de prefeito. A doutora Denise sabe, e sabe muito bem, a significação dos reflexos traumáticos desse tipo de dor de cabeça. Por isso, ela deve extrair dessa cruel realidade política e pessoal lições exemplares extremamente úteis a sua gestão na prefeitura.
Há outro ponto relevante. O Brasil começa a mudar, a viver um novo tempo político, com perspectiva de alterações reais na maneira de gerir a coisa pública. Primeiro, a Lei da Ficha Limpa é para valer. Levada a sério pelo Poder Judiciário, não teve o destino das “leis que não pegam”, como muita gente sonhava. A lei pegou. E caiu sobre Cajazeiras como um raio, tanto que nosso destino está confiado a uma mulher e não a um ex-prefeito, vítima de suas próprias travessuras. Segundo, não é por mera coincidência que se aplica com rigor a Lei da Ficha Limpa no exato momento em que o Supremo Tribunal Federal, em julgamento transmitido ao vivo pela televisão, condena por corrupção (ativa e passiva, peculato, lavagem de dinheiro) empresários, servidores públicos e políticos da expressão nacional de José Dirceu, Roberto Jefferson, José Genuíno, todos envolvidos no esquema do mensalão.
Não preciso alertar doutora Denise. Ela já conhece, sobejamente, por dolorosa experiência política e pessoal, vivida na condição de esposa, terríveis angústias tornadas públicas. Por isso, Denise não pode deixar de considerar essa nova realidade política, tê-la sempre presente ao comandar a prefeitura de Cajazeiras, até porque lhe serão cobradas com veemência pela sociedade decisões sintonizadas com esse novo tempo, embora que de suas determinações possam resultar sangramentos a seu redor.
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