A amante paraibana do presidente
A censura não permitia nem de leve falar do caso. Virou lenda. Corria à boca pequena, enfeitada a cada passo na ausência de detalhes picantes, aliás, naturalmente escassos em situações desse tipo. Em visita à Paraíba, em festiva recepção palaciana, o presidente pousou os olhos, insistentemente, numa senhora e, conta a lenda, sentiu ferver o sangue. Irrequieto, pouco sutil no trato com as pessoas, mercê da manifesta preferência pelo cheiro de cavalo, veio em seu socorro um atento chalaça (ah, os chalaças, sempre existe um disponível nas rodas do poder!), e, rápido, lhe segredou: casada, o marido é profissional liberal. Deram um jeito. E em João Pessoa, o general-presidente descobriu-se apaixonado.
E agora, como manter aceso aquele fogo sem ferir a liturgia do cargo?
Impossível vir a João Pessoa com a frequência desejada pelo impulso febril da paixão do general. Então, como levá-la para o centro do poder? Havia mais um complicador: o marido abraçara uma profissão difícil de sincronizar com as caixinhas burocráticas do governo. Nada que um chalaça competente não resolva, sobretudo, quando o regime, fechado, dispensava satisfações de seus atos à população. Deu-se um jeito. Com pouco tempo o casal paraibano desceu em Brasília, de malas e frasqueira, ele para ocupar um atraente lugar no organograma governamental. Sem desvio de função, esclareço em abono à eficiência e eficácia do babão faz tudo. E assim, o general-presidente manteve a discrição, casada com seus furores sexuais, sem recorrer ao “prendo e arrebento”, usado até para dar curso ao processo de “abertura lenta, gradual e segura” da chamada “distensão política”, engendrada pelo general Golbery do Couto e Silva.
Juscelino Kubitschek não careceu da ajuda de chalaça nenhum. Pé de valsa, sedutor, só precisou de uma noite de festa dançante, em suntuoso palacete de usineiro pernambucano, ainda hoje existente no Recife, para enamorar-se de fogosa senhora com quem viveu um amor arranca suspiros, desses que nem as novelas de tevê conseguem superar. Só a morte os separou, naquela trágica viagem ao Rio, no Opala, a caminho de mais um amoroso encontro, secreto e discreto. Dizem que Deus foi ajudado por forças ocultas interessadas menos em interromper um amor proibido e muito mais em eliminar o líder popular, amado pelo povo. Mais amado, muito mais do que Jango e Carlos Lacerda, mortos (por coincidência?) em circunstâncias jamais esclarecidas de verdade.
Se a gente recurar até a aurora do Brasil independente resplandece a exuberância de Domitila de Castro, a bem amada carregada nos braços de Pedro de Alcântara, mulherengo e promíscuo, para transformá-la na sua Titila. Mais tarde, travestida de marquesa de Santos, poderosa e corrupta. Lá atrás, no Brasil colônia, o holandês Maurício de Nassau não ficou só na breve conquista territorial. Apoderou-se de uma senhora de engenho rica, jovem, viúva, dizem que muito generosa nos folguedos amorosos do trópico.
Como se vê por tão pequena amostra, de amantes do poder, a fila é interminável. Nenhuma originalidade, portanto, salvo no alvoroço midiático atual, no abuso das situações para usos escusos. Eu tenho certeza, leitora amiga, que você está com a língua coçando para me provocar… Deixe Lula fora da crônica… Fofoca faz mal à democracia.
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