header top bar

section content

VÍDEO: Bioquímico explica como metanol age no organismo e por que ele pode causar cegueira e ser letal

Bruno Fernandes suspeita que estejam adulterando as bebidas destiladas com metanol para aumentar o teor alcoólico com custo mais barato

Por Luis Fernando Mifô

13/10/2025 às 18h18 • atualizado em 13/10/2025 às 18h40

O Brasil tem acompanhado o drama das pessoas que foram vítimas de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas adulteradas. Além dos óbitos (5 confirmados até o momento), existem vítimas que podem ter sequelas irreversíveis, como é o caso da designer de interiorese Radharani Domingos, de 43 anos, moradora de São paulo que parou de enxergar após a contaminação.

Radharani contou ao Fantástico que consumiu caipirinha em um bar na Zona Oeste de São Paulo, no dia 19 de setembro, durante as comemorações do aniversário de uma amiga. No dia seguinte ela passou mal e começou a perder a visão. O bar foi interditado pela Vigilância Sanitária após relatos de casos de contaminação de bebidas por metanol.

Mas, por que o metanol afeta a visão após ser ingerido? De que forma ele ataca o sistema nervoso central e outras partes do corpo? A substância pode provocar a falência do fígado e dos rins? Como tratar casos de intoxicação? Algumas dúvidas foram esclarecidas no programa Olho Vivo, da Rede Diário do Sertão, pelo farmacêutico e bioquímico Bruno Fernandes, do Laboratório de Análises Clínicas Dr. Ivan Cavalcanti, em Cajazeiras.

Bruno suspeita que estejam adulterando com metanol as bebidas destiladas para aumentar o teor alcoólico com custo mais barato. Segundo ele, durante o processo de destilação das bebidas, a quantidade mínima de metanol que normalmente resta é eliminada na etapa final, exatamente porque essa susbtância é extremamente nociva à saúde. No entanto, provavelmente estão misturando nas bebidas por ser um produto barato.

“Bastam apenas 10 ml – ou seja, quase nada – para já ter um potencial de causar cegueira no ser humano, e seria fatal a ingestão de 100 ml dele puro, ou seja, metado de um ‘copo americano'”, disse o especialista.

Farmacêutico e bioquímico Bruno Fernandes nos estúdios da TV Diário do Sertão (Foto: Diário do Sertão)

Por que pode causar cegueira?

Bruno explica que quando o metanol chega ao fígado, ele é matabolizado através de combinações com enzimas para produzir formaldeído, uma substância que, por sua vez, produzirá ácido fórmico, que é o verdadeiro ‘vilão’ na intoxição do organismo.

“Esse ácido fórmico é extremamente tóxico ao ser humano. Pela sua capacidade, ele vai causar, principalmente, danos no sistema nervoso central, e aí nosso nervo ótico está na cabeça, na região logo por trás dos olhos, e ele é afetado a princípio; e também um dano sistêmico nos demais órgãos. Então, é muito comum uma pessoa que tem intoxicação por metanol precisar fazer hemodiálise, até para tentar tirar o excesso de metanol que está circulando e que causou a produção desse ácido fórmico que, na verdade, é o grande vilão”, detalha o bioquímico.

Bruno afirma que exames de toxicologia podem detectar intoxicações. Porém, no caso do metanol, por se tratar de uma substância bastante agressiva, “às vezes não dá tempo nem de fazer o exame; se parte logo para uma terapia baseada nos efeitos clínicos que o médico observa no paciente ao dar entrada num pronto-socorro”.

Ministério da Saúde recebe lote do fomepizol para tratar intoxicações por metanol (Divulgação)

Distribuição de antídoto

Na semana passada, o Ministério da Saúde recebeu um lote com 2,5 mil unidades do antídoto fomepizol para reforçar o estoque estratégico do SUS destinado ao tratamento de intoxicações por metanol. A Paraíba recebeu 28 ampolas.

A aquisição é inédita no Brasil, realizada com a subsidiária de uma empresa japonesa, e ocorreu apenas oito dias após o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, acionar o Fundo Estratégico da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Fomepizol é um medicamento raro devido à baixa produção mundial.

29 casos confirmados e 5 óbitos

O Ministério da Saúde havia registrado, até sexta-feira, 246 notificações de intoxicação por metanol após consumo de bebida alcoólica, sendo 29 casos confirmados e 217 em investigação. Outras 249 suspeitas foram descartadas.

O estado de São Paulo está investigando 160 notificações. Em seguida, aparecem Pernambuco (31), Rio Grande do Sul (4), Mato Grosso do Sul (4), Piauí (4), Rio de Janeiro (3), Espírito Santo (3), Goiás (2), Alagoas (1), Bahia (1), Ceará (1), Minas Gerais (1), Rio Grande do Norte (1) e Rondônia (1).

Cinco óbitos foram confirmados no estado de São Paulo e 12 seguem em investigação, sendo um no Ceará, um em Minas Gerais, um no Mato Grosso do Sul, três em Pernambuco e seis em SP.

PORTAL DIÁRIO

Recomendado pelo Google: