Padre Gervásio Queiroga
O sacerdote relata a História da Catedral de Cajazeiras
O Padre Gervásio Queiroga prestou entrevista ao “Diário do Sertão”, relatando diversos assuntos como toda a história da instituição do dia de Nossa Senhora da Piedade, como a Santa se tornou padroeira da Diocese e do município de Cajazeiras, a fundação da Catedral, ressaltando o quanto seria importante para a história de Cajazeiras fazer um resgate dos pertences de Padre Rolim para construção de um museu na cidade. Além disso, ele dá sua opinião da visão que tem de Cajazeiras nos dias atuais e por fim, afirma o seu ponto de vista com relação aos acordos sancionados pelo governo Lula, como a volta do ensino religioso nas escolas e se as reformas dos prédios religiosos continuariam sendo garantidos pelos governos federal e municipal.
Diário do Sertão: Como foi instituído o dia de Nossa Senhora da Piedade e porque ela é a padroeira da diocese e do município de Cajazeiras?
Padre Gervásio: Ana de Albuquerque, conhecida por mãe Aninha era a mãe de Padre Rolim, fundador de Cajazeiras, construiu uma capela que se transformou numa paróquia. Cajazeiras é uma cidade privilegiada, pois esta cidade tinha apenas uma escola, logo em seguida passa a ser paróquia e depois, em 1914, portanto, 60 anos depois que tinha apenas uma escola, já era diocese. Naquele tempo eram raras as dioceses no Brasil e mesmo sendo um vilarejo, Cajazeiras passa a ser sede de uma diocese. Nossa Senhora da Piedade, passou a ser não somente padroeira da cidade, mas de toda a diocese que ia do sertão da Serra da Borborema pra Cajazeiras, o Vale do Piancó, o Vale do Espinharas, o rio Sabugi, o rio Espinharas, o rio Piancó, o Rio Piranhas e o Vale do Rio do Peixe. Em 1959, ou seja, há 50 anos atrás, Dom Zacarias conseguiu na Santa Sé a separação da Diocese de Patos e pegava uma parte da diocese de Campina Grande (Serra da Borborema). A festa tradicional da Padroeira era no dia 15 de Agosto e era uma festa regional, mas essa data era a assunção de Maria aos céus e não sua tribulação. Assim, o bispo dessa época, Dom Mousinho, por escrúpulos litúrgicos mudou a data de comemoração para o dia 15 de Setembro e por conta disso, infelizmente o povo de Cajazeiras se desestimulou e a festa ficou sem entusiasmo não representando mais uma tradição na diocese. Eu espero que Cajazeiras faça como as outras cidades e se entusiasme melhor para promover uma festa que seja mais aceita pela sociedade cajazeirense.
Diário do Sertão: A Catedral é um espelho para a nossa diocese, quando ela foi fundada e quem ajudou a construí-la?
Padre Gervásio: Antigamente, a Catedral era a Matriz de Fátima, então Dom João da Mata o segundo bispo de Cajazeiras, adquiriu este terreno para o seminário e toda essa área atrás da Catedral, ou seja, essas casas que o bispo construiu, era pra ser um seminário diocesano e o terreno para a nova Catedral. Já Dom Moisés Coelho tinha feito o chamado Palácio Episcopal. Então, em 1937, Dom João da Mata começou a construção da Catedral com o grande apoio do Pe. Manoel Vieira, mas o impulso maior se deu com o Pe. Vicente, de 1942 em diante. Depois, o Pe. Vicente foi transferido para Pombal e lá ele se tornou um grande educador e construtor. Enquanto que Dom Zacarias foi eleito bispo e inaugurou a Catedral à força, pois ela ainda não estava concluída e como Dom Zacarias quis se consagrar bispo diocesano dentro da nova Catedral, após alguns anos criou a Matriz de Fátima e trouxe a imagem de Nossa Senhora da Piedade para a Catedral, o que provocou um mal-estar na população, pois ele poderia ter feito diferente, tivesse deixado a imagem antiga lá e depois trazido a imagem autêntica (Nossa Senhora das Dores), entretanto, ele não teve essa idéia e como a devoção à Nossa Senhora da Piedade por parte do Pe. Américo Maia tinha sido muito incentivada, então ele construiu a Matriz de Fátima na mesma rua da Catedral, quer dizer, ficaram duas paróquias na mesma rua e a nova Catedral ele elegeu como Paróquia. Então, temos a Matriz de Fátima que era Nossa Senhora da Piedade e a nova catedral que agora tem a titular, Nossa Senhora da Piedade. No dia 14 de setembro de 1978, quando eu era pároco da Catedral, nos 25 anos de episcopado de Dom Zacarias, ele me pediu para que eu promovesse uma consagração solene à dedicação da Igreja Catedral de Nossa Senhora da Piedade. Essa Igreja ainda está muito longe de ter terminado, pois ainda há diversos espaços vazios na Catedral que precisam ser preenchidos e eu espero que um dia a Catedral seja concluída.
Diário do Sertão: Padre, o senhor acha que Cajazeiras já não deveria ter feito um museu em homenagem à Padre Rolim, fundador de nossa cidade?
Pe.Gervásio: A igreja nunca se mobilizou para fundar um museu em homenagem à Padre Rolim. Eu conheci o museu diocesano que tem a imagem original de Nossa Senhora da Piedade e todos os pertences de Padre Rolim. Eu não quero julgar ninguém, mas durante o período de Dom Zacarias as coisas se desestruturaram. È uma vergonha que nem o poder público, nem a diocese tomem uma providência para restaurar o que for possível salvar desse museu, para resgatar não somente a memória do fundador de nossa cidade, como dos outros bispos que pertenceram à Cajazeiras. No Seminário Nossa Senhora da Assunção, ainda existem alguns pertences de Dom Zacarias que também precisam ser restaurados. Eu estou revoltado com a Prefeitura Municipal de Cajazeiras que derrubou a casa de Mãe Aninha para fazer um club de dança e na Rua Padre Rolim demoliram a primeira prefeitura da cidade.
Diário do Sertão: Padre, Apesar do senhor ter um instituto na cidade de Quixadá, não sai de sua terra natal. Como é que o Pe. Gervásio observa a cidade de Cajazeiras nos dias atuais, uma cidade que é pólo educacional, que atualmente ganhou o curso de medicina, que está para trazer a Universidade Federal do Sertão, como o senhor observa Cajazeiras neste momento?
Padre Gervásio: Eu acho que Cajazeiras está num momento excelente, pois há anos que esta cidade vem progredindo, como o Brasil todo. O seu nível populacional aumentou muito, assim como o trânsito de carros e motos que atualmente está muito violento. Há 50 anos eu moro nesta cidade e percebi o quanto ela se desenvolveu, porque eu tenho acompanhado todo esse progresso, pois em 1982 a diocese só contava com 12 padres e agora está com quase 60 padres. As igrejas da cidade também estão bem melhores e mais organizadas, ou seja, tudo está bem melhor do que era antes, tanto do ponto de vista cívico, como do ponto de vista religioso. Com relação à esse desenvolvimento da cidade, eu considero muito o Professor José Antonio que mantém o Jornal Gazeta do Alto Piranhas há dez anos com grande sucesso. O que eu mais admiro em Cajazeiras são suas emissoras de rádio, que fazem um trabalho muito competente em termos de noticiários e conscientização social, ajudando muitas pessoas em suas campanhas solidárias, exercendo muita influência na população e contribuindo para o progresso da cidade.
Diário do Sertão: Padre, estão sendo feitos alguns acordos sancionados pelo governo Lula, em que voltaria as aulas de Ensino Religioso nas escolas, e os prédios que hoje são da igreja continuariam sendo reformados pelo governo estadual e federal. A Rede Record é contra isso. Como o senhor se posiciona a respeito destes fatos?
Padre Gervásio: Modéstia à parte, a idéia destes acordos lá na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil é minha e eu trabalhei nisso desde o início, até o ano passado. Tudo isso é mentira, pois o acordo não tinha nada daquilo que a Igreja não tinha. Apenas o que nós queríamos, ou seja, era um texto jurídico claro, preciso, para que as pessoas que não entendem de Direito não tivessem do que reclamar. O que acontecia era que a Igreja do Brasil era mal-tratada, ou seja, certos juízes de Direito queriam tratar a Igreja como se fosse uma mera associação de um bairro qualquer, sem nenhuma relevância, o que é um absurdo jurídico, pois a Igreja Católica tem um estatuto jurídico reconhecido mundialmente junto à Santa Sé Apostólica. A vergonha é que o Brasil que se diz o maior país católico do mundo, não tem nenhum acordo escrito a respeito dessa situação jurídica aqui dentro, pois a Igreja está na História do Brasil e se Edir Macedo não é a favor de nada disso, ou seja, se ele é contra a Igreja Católica, é contra o Brasil, pois foi a Igreja Católica quem batizou este país. Para mim, a Igreja ajudou muito no desenvolvimento da cidade, pois Cajazeiras não teria progredido se Mãe Aninha não tivesse construído a primeira capela e o Padre Rolim a primeira escola do vilarejo. Quanto ao ensino religioso nas escolas, já havia este tipo de ensino, pois está na constituição federal, no patrimônio histórico e artístico da Igreja que já era protegido antes. O que temos agora é esta certeza jurídica, colocada tudo num texto só, com o carimbo da diplomacia mundial é um acordo internacional. Seria uma vergonha para o Brasil se a câmara dos deputados não tivesse aprovado, pois com que cara Lula iria se apresentar num país que não honra os seus acordos internacionais? Assim o Brasil tem essa garantia que cumpre com este acordo internacional.
Diário do Sertão: Padre Gervásio, o senhor é a contra ou a favor do terceiro mandato de Lula?
Padre Gervásio: Essa pergunta é muito pessoal, pois meu voto sempre foi secreto e eu prefiro não responder.
RAQUEL ALEXANDRE
Da redação do Diário do Sertão
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