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Delegada: alvos de João de Deus queriam engravidar ou salvar relações

Segundo a coordenadora da força-tarefa, delegada Karla Fernandes, os depoimentos colhidos na última semana demonstram um padrão do médium

Por Metrópoles

18/12/2018 às 09h32

delegada do caso João de Deus

“Ele demonstra que sabe controlar a situação. Por um lado, é iletrado, aparentemente uma pessoa rústica, mas que sabe muito bem se colocar”, descreveu a delegada Karla Fernandes (foto em destaque) sobre João de Deus. A policial é coordenadora da força-tarefa da Polícia Civil de Goiás e comandou o interrogatório do médium na Delegacia de Estado de Investigação Criminal (Deic). Ela detalhou ao Metrópoles o perfil das vítimas e do acusado de cometer centenas de abusos sexuais (veja vídeo abaixo).

Segundo a delegada, os 15 depoimentos colhidos ao longo da última semana demonstram um modus operandi do líder espiritualista. O padrão seria de mulheres com 30 anos a menos do que ele. Por isso, quando ele tinha 50 anos, teriam sido cometidos abusos de adolescentes. Nos casos mais recentes, com o médium já septuagenário, os alvos teriam por volta de 40 anos.

Na maioria dos casos relatados, as mulheres buscaram o médium porque tinham dificuldades para engravidar ou estavam passando por problemas de relacionamento conjugal. “Eram pessoas vulneráveis. Inicialmente, não percebiam que eram abusadas, só depois que caía a ficha”, conta a delegada.

No depoimento de João de Deus, Karla Fernandes disse ter percebido um homem persuasivo, que mostra ter um controle muito grande da fala e equilíbrio emocional. Segundo ela, ele não demonstrou alteração, a não ser quando foi confrontado sobre a vítima mais recente. “Ele teve reação mais forte e depois disse que ela era uma pessoa complicada e não tinha credibilidade.”

“As vítimas têm que comparecer para narrar de forma personalíssima. Antes, muitas sentiam temor de falar porque a maioria não teve apoio da família”, disse Karla Fernandes.

Seis inquéritos foram instaurados na Deic, incluindo o principal, com o pedido de prisão. Segundo a delegada, esse último precisa ser concluído em 10 dias. Por isso, nesta segunda (17), não serão ouvidas novas vítimas. A força-tarefa vai se reunir para definir os próximos passos da investigação.

“Com a oitiva dele, nós vamos destrinchar para o encaminhamento das buscas que já foram deferidas. Remarcamos com algumas vítimas, diante do prazo para concluir o inquérito. Nessas buscas, vamos fazer uma visualização junto com a equipe técnica e pericial sobre aquilo que foi narrado”, explicou.

As vítimas devem voltar a ser ouvidas a partir de quarta-feira (19), e o inquérito principal deve ser encaminhado à Justiça até o fim da semana.

Buscas
A Casa Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus teria abusado sexualmente de centenas de vítimas, será alvo de buscas da Polícia Civil de Goiás. No interrogatório prestado nesse domingo (16/12), o médium disse que o local estaria de portas abertas para averiguação. De acordo com a delegada Karla Fernandes Guimarães, que coordena a força-tarefa policial, a ação está programada para esta semana, sem dia definido. Não há previsão de fechamento da casa.

Em interrogatório que preencheu sete páginas, o médium João de Deus, alvo de mais de 330 denúncias reunidas pela força-tarefa em Goiás, não admitiu abusar sexualmente de suas seguidoras. De acordo com o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, o líder espiritual apresentou a versão dele para cada um dos casos e disse que os atendimentos eram coletivos – e não individuais.

Os investigadores questionaram o fundador da Casa Dom Inácio de Loyola sobre 15 mulheres que registraram ocorrência e prestaram depoimento: “Ele se lembrou de cada um dos casos e explicou o que teria ocorrido. Estava tranquilo e respondeu a todas as perguntas”.

O líder espiritual deve ser ouvido novamente pelas autoridades nesta segunda (17/12). Os defensores do médium consideram a detenção injustificada e, por isso, pretendem impetrar um pedido de habeas corpus, também nesta segunda, para liberar João de Deus ou, ao menos, conseguirem a conversão da prisão preventiva para o regime domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica.

O interrogatório durou mais de quatro horas, na Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), na noite desse domingo (16). Depois, João de Deus foi levado ao Instituto Médico Legal (IML), para exame de corpo de delito, e seguiu rumo ao Núcleo de Custódia do Complexo Penitenciário de Aparecida de Goiânia (GO), onde deu entrada às 22h55 e passou a noite.

De acordo com informações da Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), o líder espiritual ficou em uma cela de 16m² com outros três presos (todos advogados). A previsão inicial era de que ficasse isolado, devido à idade (76 anos) do acusado e à natureza sexual das denúncias que resultaram na prisão de João de Deus: ele teria abusado de centenas de mulheres, brasileiras e estrangeiras, durante atendimentos espirituais.

Ao deixar o prédio da Deic, o advogado de defesa de João de Deus, Alberto Toron, voltou a pedir cautela na apuração dos casos. “Soa estranho que uma mulher que se diga violentada volte tantas vezes para o atendimento. É preciso que se julgue antes de qualquer condenação”, disse. Toron informou que o médium negou as denúncias.

Fonte: Metrópoles - https://www.metropoles.com/brasil/delegada-alvos-de-joao-de-deus-queriam-engravidar-ou-salvar-relacoes

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