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O agrônomo Adalberto Nogueira fala sobre a seca no Nordeste e a previsão de chuvas para 2011

O engenheiro agrônomo, Adalberto Nogueira, em entrevista ao “Diário do Sertão, falou sobre a seca no Nordeste e as possibilidades de boas chuvas para o ano de 2011. Adalberto Nogueira deu sua opinião acerca da abertura das comportas do açude Lagoa do Arroz, da atual migração do homem sertanejo, do campo para a cidade e […]

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08/11/2010 às 18h31

O engenheiro agrônomo, Adalberto Nogueira, em entrevista ao “Diário do Sertão, falou sobre a seca no Nordeste e as possibilidades de boas chuvas para o ano de 2011.

Adalberto Nogueira deu sua opinião acerca da abertura das comportas do açude Lagoa do Arroz, da atual migração do homem sertanejo, do campo para a cidade e dos programas sociais do governo federal, como o Bolsa Família.

O engenheiro agrônomo também relatou se é a favor da transposição do Rio São Francisco no Nordeste e do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contras as Secas).

DIÁRIO DO SERTÃO: Qual a opinião do senhor acerca desta seca que está acontecendo no sertão paraibano?

Adalberto Nogueira: Apesar das pessoas colocarem a seca como um problema muito sério e na realidade é, este fenômeno natural contribuiu muito para o semi-árido nordestino a nível das grandes reivindicações. A atual seca não provocou o que as anteriores haviam provocado, ou seja, o êxodo rural intensivo, as famigeradas frentes de emergência, as invasões nas feiras livres e uma série de conseqüências que servia muito do discurso político, entretanto, podemos perceber que nessa campanha eleitoral não houve um candidato que abordou a problemática. Os reflexos da seca são danosos mais para a pecuária e agricultura, do que para o homem nordestino, diante da transformação e da aplicabilidade dos programas sociais, como o Bolsa Família. O rebanho tem sofrido muito e mostrado que após dois ou três anos de grandes chuvas nos anos de 2007, 2008 e 2009, não foi o suficiente para acumular água de uma forma geral para todo o semi-árido, o que justifica programas de ação do governo na área de acumulação de recursos hídricos, aproveitamento destes recursos e integração de bacias hidrográficas do nordeste. Quando a população estiver bebendo das águas Rio São Francisco, é que pode-se pensar numa transformação da aplicabilidade do crédito rural de maneira séria e uma política de ocupação do homem do campo. Para o nordeste a seca tem o seu aspecto benéfico, pois esta problemática deveria ser um prêmio em virtude de morarmos numa região atípica, é o único semi-árido no mundo com estas características, e é a única região do mundo que acumula mais de 90 bilhões de m³ cúbicos de água. Temos solo e água acumulada, mas o que falta na realidade é uma política séria de uso desta água e uma preparação e racionalidade da mão-de-obra no campo. É necessário incutir um modelo adaptado ao campo. A seca é um fenômeno natural e até a sigla do DNOCS (Departamento Nacional de Obras contras as Secas) deveria ser Departamento Nacional de Obras de Convivência com as Secas, pois seca não se combate se convive com este fato.

DIÁRIO DO SERTÃO: Como será a previsão de chuvas para o ano de 2011?

Adalberto Nogueira: A seca está completamente descartada nesse ano de 2011, pois a quadra chuvosa será excelente em todo o sertão paraibano. O padrão da temperatura da superfície do mar (TSM) observada nos meses de agosto e setembro sobre o Oceano Pacífico Equatorial, indica o estabelecimento definitivo do fenômeno La Niña, o qual é caracterizado pelo resfriamento anormal das águas na região do Pacífico Equatorial, para ocorrer as chuvas. Há um indicativo de que a zona de convergência ficará estacionada sobre os Estados do Ceará e Rio Grande do Norte, o que significa chuvas normais na região. Este cenário mostra o quadro de otimismo para as chuvas do semi-árido no período de fevereiro a maio de 2011, pois até lá, o La Niña continuará influenciando o clima em todo o mundo.

DIÁRIO DO SERTÃO: Com relação às comportas do açude Lagoa do Arroz, que foram abertas acima do que é permitido, o que o senhor acha que deve ser feito para resolver o problema?

Adalberto Nogueira: É necessário a realização da liberação das águas de Lagoa do Arroz e Boqueirão. Água é um compromisso, pois a bacia hidrográfica não pertence somente àquele município onde está a barragem, é preciso compreender que o Lagoa do Arroz chega a acumular 82 milhões de metros cúbicos de água e 60% dessa água tem um comprometimento com a grande bacia do Rio do Peixe, de se liberar 0,33 m³ por segundo para alimentar essa bacia. Qual é a problemática do Lagoa do Arroz? O povo tem medo de que esse açude seque, mas se eu fechar as comportas do Lagoa do Arroz hoje e se não chover no dia 1º de março, eu vou chegar com 24 milhões de m³ de água, mas se eu abrir as comportas do açude hoje, chegarei no dia 1º de março a 20 milhões de m³, pois a grande quantidade de água evaporará sob a ação do sol e do vento. Então é melhor aproveitar essa água economicamente do que esta evaporar e a população não aproveitar nada. Quando o açude chegar a 20 milhões de metros cúbicos d’água, a partir deste momento a comissão gestora deverá avisar que não há mais condições de liberar água para perenizar o rio. Com 20 milhões iremos tranquilamente manter o que ainda existe em Lagoa do Arroz. Há uma pequena população ribeirinha que vai usufruir dessa água: Santa Helena, Bom Jesus e Várzea da Ema. 8 mil pessoas bebendo 200 litros de água por dia , vai levar a 1milhão e 600 mil metros cúbicos, menos do que a população de Cajazeiras. Então não tem porque se preocupar com isso. O ano de 2011 terá um inverno muito bom.

DIÁRIO DO SERTÃO: O que o senhor acha da atual migração do homem do campo para a cidade?

Adalberto Nogueira: Atualmente existe um desestímulo total para lidar com a agropecuária, pois o campo está se tornando totalmente vazio e acima do êxodo rural está havendo uma política de condução na área habitacional de péssima qualidade. Lamentavelmente, desde a década de 60 está havendo uma política de expansão das minis metrópoles brasileiras, com grandes conjuntos habitacionais, ou seja, você está trazendo um homem que está acostumado na zona rural e o joga na cidade sem um mínimo de preparação, o que faz com que surja as camadas pobres e periféricas, o que acarreta os problemas sociais e a marginalidade. Então é preciso haver urgentemente uma política racional trabalhista para o homem do campo. O modelo de assentamento para o homem do campo é aberração, ou seja, é coisa de MST (Movimento Sem Terra), e instituições que não tem nenhuma ação jurídica, esse esconde por trás de diversas ONGs para fundamentar uma pseudo- reforma agrária. É preciso pensar como fazer uma reforma agrária. Estão brincando de fazer assentamento, estão prostituindo o campo. Os movimentos sociais da terra é um ato de degeneração dos valores éticos e morais do homem do campo.

DIÁRIO DO SERTÃO: Na sua opinião, os programas sociais do governo federal amenizou a gravidade da seca para as famílias de baixa renda?

Adalberto Nogueira: O governo Lula trouxe diversos programas sociais para as famílias de baixa renda, como a bolsa família, o fome zero, dentre outros, o que acabou praticamente com a indústria da seca. Entretanto, os custos deste recursos destinados à estes benefícios, tem sacrificado aos geradores destas receitas, que são exatamente o comerciante, o empresário e o próprio produtor rural. Na realidade é preciso que o novo governo que tomará posse em janeiro de 2011 já tenha que fazer em cima desta política de programas sociais, uma inclusão de um modelo de preparação para a qualidade da mão de obra. Tais benefícios estão levando a um círculo vicioso, pois as famílias beneficiadas não podem viver exclusivamente destes benefícios, mas o governo deve criar escolas-oficinas, ou seja, uma metodologia de um ensino voltado para a qualificação profissional destas pessoas, para a mudança do quadro social brasileiro.

 DIÁRIO DO SERTÃO: O senhor é a favor da transposição do Rio São Francisco? Por quê?

Adalberto Nogueira: Sempre fui a favor, mas a maioria dos nordestinos como sempre não tem nenhuma reflexão sobre o que é bom para eles. Dei graças a Deus que a seca foi melhor para o nordeste, do que todos os nossos políticos representados em Brasília ou no Rio de Janeiro anteriormente. A seca foi o grande político nacional para que nós tivéssemos as águas acumuladas e a implantação de indústrias na atualidade, pois toda política de desenvolvimento do nordeste foi em função das secas. Adalberto Nogueira e César Nóbrega levaram o primeiro projeto de transposição do Rio São Francisco ao presidente da República da época, em São Gonçalo. Em um seminário internacional com a visita de Lula, nós apresentamos este projeto, pois até àquela data o presidente da República não tinha informações sobre o mesmo. Esse planejamento estava nos porões da SUDENE e ministrei com grupos da região 76 palestras a nível de universidade, Assembléia Legislativa e grupos de interesse com a questão. Os movimentos ambientais do Brasil estão mais atrasados do que qualquer outro movimento. Fazem ecologia por brincadeira nesse país ou para se promover e em cima disso houve toda essa divulgação e o projeto se alicerçou a nível nacional e atualmente já começa a ser uma realidade na sua execução. Estamos perto de São José de Piranhas com o município de Cachoeira dos Índios já com duas empresas construindo o trecho Mauriti-Paraíba e outro trecho que seria o maior túnel nacional que vai interligar a água do Ceará até o eixo de Boqueirão e Engenheiro Ávidos. Este projeto de transposição do Rio São Francisco é necessário, pois vai ajudar inúmeras comunidades que ainda possuem um abastecimento de água precário.

DIÁRIO DO SERTÃO: Como o senhor analisa a atual situação do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contras as Secas)? Este órgão deveria ser reativado para ampliação dos projetos da região Nordeste?

Adalberto Nogueira: Entre as décadas de 10 e 60, o DNOCS foi o maior órgão de hidráulica que o mundo já teve, mas lamentavelmente as nossas instituições que ficaram responsáveis por cuidar da problemática nordestina se descaracterizaram, pois houve um rompimento da sociedade com a classe política, que se agravou no governo Sarney e teve sua fase áurea no governo Fernando Henrique. É necessário que se corrija todo o modelo de instituição deste país para que nós possamos reativar os nossos órgãos. Atualmente o DNOCS, a SUDENE, a SUVALE, dentre outras siglas, são corrupção generalizada. É necessário que surjam novas estruturas que sejam voltadas a uma sociedade sadia, o que é muito difícil de fazer no momento. Os pequenos municípios vivem em função do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) e os nossos deputados vão à Brasília mais com interesse em emendas, do que com propostas para os seus municípios.

DIÁRIO DO SERTÃO
 

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