Em luto, povoado de Mar Grande recebe vítimas de naufrágio na Bahia
Eles serão enterrados em Mar Grande, um povoado praiano do município de Vera Cruz.
Dezesseis horas após ter embarcado com a mãe na lancha que naufragou em Salvador, Davi Gabriel, de apenas seis meses de idade, uma das 18 vítimas fatais do naufrágio, atravessou pela última vez a Baía de Todos os Santos de volta para casa. Um ferry boat, que partiu do Terminal Marítimo de Salvador às 22h desta quinta-feira, levou o corpo do menino, que acabou virando símbolo da tragédia ao ser fotografado nos braços de um socorrista. Davi e Ivanilda Gomes da Silva, de 70 anos — vítimas mais jovem e mais idosa do acidente — chegaram à Ilha de Itaparica após uma hora de travessia, no mesmo carro funerário. Eles serão enterrados em Mar Grande, um povoado praiano do município de Vera Cruz.
O vilarejo, onde vive a maioria das pessoas que estavam na embarcação, está em luto. A maior parte do comércio fechou as portas durante todo o dia. Nesta sexta-feira, a expectativa é de mais comoção por causa dos velórios e enterros. No cemitério da cidade, houve reforço de homens para abrir as valas onde os corpos serão sepultados. Aos poucos, à noite, equipes de reportagem de outras cidades e estados chegavam para as cerimônias de despedida que acontecerão ao longo do dia.
O menino Davi está sendo velado na Igreja Adventista do Sétimo Dia de Mar Grande na manhã desta sexta-feira. Ele seguia com a mãe para uma consulta médica quando entrou na lancha às 6h30 de quinta-feira rumo a Salvador. A travessia duraria cerca de 45 minutos. Mas a embarcação virou no mar pouco mais de dez minutos após a partida.
Davi caiu na água e foi resgatado por um dos tripulantes, tentou ser reanimado mas não resistiu. Ele era o filho mais novo de três irmãos. A mãe, Ana Paula, que sobreviveu ao acidente, está em choque, segundo parentes.
Familiares têm evitado entrevistas. O avô de Davi é conhecido por sair pelo povoado vendendo pastéis numa cesta, relataram moradores ao GLOBO. O pai da criança trabalha num hortifruti no vilarejo.
Outra criança, Darlan, de dois anos, também morreu na tragédia, assim como sua mãe e avó. Ele também era de Mar Grande e foi velado casa.
— Foi uma correria danada isso aqui. O comércio todo fechou. Nunca vi uma tragédia como essa aqui — disse o taxista Roberto Andrade.
Na noite de quinta, moradores comentavam que uma criança sobrevivente da tragédia estaria na unidade de saúde do povoado sem identificação e durante todo o dia ninguém teria ido procurar por ela. O GLOBO não conseguiu confirmar a informação com a Secretaria de Saúde da cidade.
O padre da igreja de Mar Grande, Arenilton Vilarindo, usou uma rede social para confortar familiares das vítimas e moradores: “A ilha amanheceu triste. Hoje (quinta-feira) pela manhã, quando abria a igreja para a adoração ao Santíssimo Sacramento, fui surpreendido com a notícia da tragédia do naufrágio. Pessoas que estavam fazendo a travessia para realizar seus compromissos diários foram surpreendidas por essa tragédia. Há momentos na vida que as palavras são insuficientes para explicar tamanha situação. É triste ouvir o choro, o pranto de tantas famílias que perderam seus entes queridos. Estamos em oração por todos os que partiram e pelos que tiveram a graça de sobreviver deste acidente”, escreveu o religioso.
Segundo a dona de uma barraca de lanches em frente ao terminal das lanchas, chovia e ventava bastante na manhã do acidente. Ela faz a travessia toda semana para comprar mercadoria para sua barraca e disse que nunca se sentiu insegura nas embarcações.
— Pelo que a gente ouviu o que ajudou a lancha a virar foi todo mundo ter ido ao mesmo tempo para um lado só do barco para se proteger da chuva. A onda bateu e ele virou. Não parece ter sido um problema da lancha que causou o acidente. Vou continuar usando toda semana — disse a comerciante, que não quis se identificar.
Por enquanto, o serviço de travessia está suspenso para que sejam feitas as buscas de corpos e a perícia na lancha.
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