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Seca vai deixar café da manhã dos brasileiros mais caro

Leite e café são fortes candidatos a se tornarem vilões do orçamento familiar no 2º semestre

Por Campelo Sousa

31/07/2016 às 11h15

IBGE: Leite longa vida já subiu 26% e o café moído, quase 18% (Foto: Getty Images)

O café com leite, tradicional bebida presente no cardápio do café da manhã dos brasileiros, tende a figurar como o grande vilão da inflação nos próximos meses. As novas elevações de preço serão sentidas na primeira refeição do dia em função da baixa quantidade de chuva registrada ao longo dos últimos meses nas regiões produtoras dos alimentos.

Ao longo dos primeiros seis meses do ano, o leite longa vida registrou alta de 26,7% e o café moído saltou 17,9%, segundo a inflação oficial medida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em julho, a tendência de alta no preço das bebidas foi confirmada com variações de, respectivamente, 15,54% e 2,15% até o 15ª dia do mês.

Dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo) mostram que a saca de 60kg do café Conillon, aquele mais consumido pelas famílias brasileiras, está próximo de atingir o maior valor da história, de R$ 422, alcançado em dezembro de 2011.

O economista da FGV (Fundação Getulio Vargas) André Braz avalia que, apresar da elevação de preço do café, o grande “vilão” da inflação do café da manhã é o leite. Segundo ele, a avaliação acontece em função do produto ser um alimento essencial, fonte de proteína barata e que serve como derivado para outros itens.

— O café pesa pouco no orçamento, mas o leite sozinho compromete a 1% do gasto total das famílias. Quando ele sobe de preço, o impacto é bem maior do que o do café que pesa um terço do leite.

Braz afirma que o pãozinho francês também não pode ser esquecido quando o assunto é a alta de preços. De acordo com o economista, mesmo com uma alta moderada de 3,96% no primeiro semestre, o item sempre acompanha o índice geral de preços.

— Me parece que a oferta de trigo não está tão abundante como nos últimos anos. Como o pão francês é um produto essencial, do qual poucas famílias abrem mão, acaba tendo um papel mais forte ainda no custo de vida.

Clima

A alta no preço dos alimentos tradicionalmente consumidos no café da manhã tem grande influência do clima seco presente nas regiões produtoras nacionais. Produzido nos Estados do Espírito Santo e Rondônia, o café Conillon foi um dos grandes atingidos por esse fenômeno.

Segundo o pesquisador do do Cepea Renato Garcia Ribeiro, a disponibilidade do tipo de café pressionou os valores do produto pela falta de chuvas no Espírito Santo durante o desenvolvimento da safra atual.

— Você teve problemas no florescimento e no enchimento do grão. Tem lavouras que, por falta de chuva, foram proibidas pela prefeitura de irrigar e você teve uma catástrofe. Isso acabou resultando em toda essa perda na produção do Conillon na região.

Ribeiro classifica que está é a segunda safra ruim consecutiva do fruto. O pesquisador lamenta ainda o fato da exportação do café Conillon ter sido maior do que o normal no último ano.

— Tinha um mercado externo atrativo, tinha oferta boa, o Vietnã, que é o concorrente do Brasil, também estava limitando um pouco sua exportação e isso acabou favorecendo.

De acordo com Braz, o leite acompanha uma determinada sazonalidade e a alta registrada neste ano também tem relação com o período de seca, mas não deve ser revestida novamente para o orçamento das famílias no futuro, quando a oferta do produto voltar a subir.

— Chove-se pouco nessa época do ano. Então, as pastagens ficam prejudicadas, o gado come menos, o pecuarista complementa o prato dos animais com ração. Isso faz com que, normalmente, a oferta do leite caia muito e o gado fique menos produtivo.

R7

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