header top bar

Francisco Cartaxo

section content

Zerinho deu um trabalho danado

20/09/2021 às 18h00

Zerinho. Foto: Reprodução da internet

Por Francisco Frassales Cartaxo

Ele chegou de mansinho. Estudou e deu duro para aprender na sala de aula e na vida. Veio da cidade de Barro. Francisco Matias Rolim e Raimundo Ferreira, também cearenses, vieram antes. Ambos estão bem vivos na memória dos cajazeirenses. Outros nem tanto. Eram do Ceará muitos dos que ajudaram na construção de Cajazeiras. Basta citar dois, o professor Francisco Sobreira e Joaquim Matos. Estes dois são simbólicos: um professor, o outro empresário modernizante, prefeito e político influente. Deixa pra lá. José Nello Zerinho Rodrigues nem precisava saber de fatos e personagens tão antigos.

Quis o destino que seu primeiro emprego fosse no Armazém São Paulo. Quem era seu patrão? Chico Rolim, comerciante inovador e cheio de audácia para vencer no comércio e na política. Foi a primeira lição de vida de Zerinho. O outro cearense de sua convivência já chegou de nariz empinado, na onda desenvolvimentista do tempo de Juscelino. (Talvez por isso não conquistou à prefeitura.) A Viação Brasília firmou-se na imponência do prédio da primeira Rodoviária de Cajazeiras, a rivalizar com a torre da igreja que dom Zacarias terminou de construir. Zerinho via tudo isso com os olhos de sua inteligência e simplicidade, seu pragmatismo, sua ousadia. E incansável capacidade de trabalho e de fazer amigos.

A bandeira desfraldada da Marajó percorria as estradas do Brasil. O antigo contínuo do Armazém São Paulo se agiganta. Moderado na política, filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro – MDB, em plena ditatura, e nele permaneceu. Firme. Com Raimundo Ferreira ou sem ele. Com Bosco Barreto ou sem ele.

Assim o conheci mais de perto.

Relembro. Em 1982, Bosco Barreto anunciou pela Difusora sua adesão ao governismo e proclamou: “o PMDB de Cajazeiras acabou. Pronto. Não vai ter nem candidato a prefeito.” Ninguém me disse. Eu ouvi. Por coincidência, estava em Cajazeiras. Surpreso, refleti comigo mesmo. Logo depois, indignado, procurei Acácio Rolim, Geraldo Brandão, Zerinho, Bosco Amaro, Patrício Nogueira, Edmilson Feitosa e outros cujos nomes me escapam agora. E então? O que mais escutei foram frases com estas: Eu não saio, meu partido não é o de Bosco, é o PMDB. Alguém disse: estou nesse partido desde o tempo do PSD… E não foi apenas um a falar isso…

Dia seguinte, pela mesma DRC, garanti que o PMDB lançaria candidato a prefeito. (Que saudade de Mozart Assis: “Na hora que doutor Frassales quiser falar, ele fala, tão entendendo, vocês entenderam bem”, disse para todos da Difusora ouvirem!). O destino então me fez um Dom Quixote sertanejo… frente ao imbatível esquema governista que reunia no PDS Wilson Braga, Edme Tavares, Epitácio Leite, Chico Rolim e Antônio Quirino, E daí em diante, Bosco Barreto, após entender-se com Zé Gadelha e seu filho, Marcondes Gadelha, o “autêntico” histórico do velho MDB, que então mudara de casaca. Nas ruas de Cajazeiras, a maledicência corria solta no ritmo das rodas de carro com placa de Sousa… que Deus me perdoe se recordo tais detalhes!

Zerinho continuou firme. Inabalável. Bem que tentaram. Resistiu aos encantos dos homens do poder. Dez anos depois se elege prefeito de Cajazeiras, pelo PMDB. Só não resistiu ao chamado de Deus. Mesmo assim, deu um trabalho danado! Que o digam médicos, enfermeiras e auxiliares, motoristas e pilotos de ambulância e UTI aérea. E sua dedicada esposa. E filho Arlan Rodrigues. Amém.

Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Recomendado pelo Google: