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Cristina Moura

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Zerinho

18/10/2021 às 18h02 • atualizado em 18/10/2021 às 18h03

Zerinho. Foto: Reprodução da internet

Por Cristina Moura

Conheço poucas pessoas que não gostam de Zerinho. Não gostavam, aliás. Essa figura não habita mais dentre nós, os terráqueos. Transmutou-se, o homem. Ele agora espalha seu bom humor noutro plano gravitacional. Não tenho o direito de saber em quantas partes ou de que jeito é esse lugar, mas, vamos imaginar que é um recanto alegrado pelas boas doses de piadas desse ser humano que amava sua linda Cajazeiras. Vou guardar para sempre a imagem feliz dessa obra da natureza. Perguntado por que o apelido, pediu que eu o olhasse de cima para baixo. Ironizou: olha o tamanho da pessoa, um metro e pouco. E provocou, olhando para todos, ao redor: isso é gente? Gargalhada geral.

Cidadão nascido barrense, sangue do Ceará, e convicto atuante como cajazeirense. O zero, diziam alguns, foi o talento multiplicado que o jovem plantou para fazer negócios, fazer dinheiro. Seu histórico de negociante, a começar por uma simples tropa de burros até transportadora de cargas e radiodifusão, é admirado por muitos. Talvez esse dom para político e empresário tenha surgido de um quesito: gostava de tratar com amizade tudo o que fosse de assunto. No sentido, digo, de não agredir, mas de deixar o interlocutor à vontade.

Muito difícil chegar no escritório ou na residência dele e não ser servida com alguma iguaria. Depois percebi que era hábito. Sempre achava que a gente precisava se alimentar, mastigar, beber, sentar, ser parte da casa. Um café, um suco, um biscoito, uma bolacha, um queijo, uma fruta. Se fosse em reuniões, comitivas de governador ou outra autoridade, ficava conversando com diversas pessoas. Quer isso, quer aquilo, não se intimide, não se acanhe, não se envergonhe, é cedo, espere aí, quem vai com você. Marizete, venha cá.

Começar entrevista com ele, cara a cara, por mais polêmica ou triste que fosse a pauta, era algo bom e penoso, ao mesmo tempo, pois me lembrava a tarefa, o horário, a obrigação. E era impossível não gracejar com o entrevistado, devido a qualquer coisa: um descuido da rua, um ruído de alguém próximo, a chuva que não veio, o time que perdeu.

Então, contarei de novo, lá falou ele, certa vez: olha só, essa garota, é repórter, e parece uma Nossa Senhorinha. E explicou: aquelas crianças, que coroam a imagem de Nossa Senhora, no mês de maio. Respondi: tenho foto, já fiz parte, mas faz muito tempo, e sou pecadora ao extremo. Rimos bastante. Depois José Nello completou, dizendo que estava tão velho, que já se encontrava na fase da regeneração e santidade.

Ali estava o pequenino que foi prefeito da cidade onde nasci e representante do Executivo estadual. Torcedor do Trovão Azul. O baixinho de coração grande nem ficou sabendo que eu brincava com o nome Marajó. Relação invisível que eu tenho com esse ser indígena do desenho da empresa, desde menina. Seria um aspecto literário se desdobrando, entre um pinote e outro nas calçadas e as lições da escola. Resultado das minhas muitas leituras das obras regionalistas de José de Alencar, não sei. Resultado dos meus ancestrais. Um dia falarei mais sobre esse herói em visita ao nosso sertão, nas minhas ficções. Aguarde.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

Contato: [email protected]

Cristina Moura

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Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

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