Weber, o açude e a água do mar
Por Mariana Moreira – É lugar corrente de que sertanejo quando ver o mar se contamina por sentimentos que transitam entre o espanto e o encantamento. Sobretudo, aqueles que trazem em suas narrativas de memórias os riachos grávidos de barrentas águas das primeiras enxurradas ou os pequenos açudes que dividem suas águas primeiras com o coaxar dos sapos em sinfonia pela volta da vida que chega com os barulhentos trovões anunciados por coriscos singrando céus cinzentos.
E as buliçosas ondas do mar dividem comigo a memória do sociólogo alemão Max Weber.
E, certamente, muitos estão a interrogar onde o alemão entra nessa história?
Antes, porém, um registro: somente conheci o mar aos quatorze anos. Mas, desde a mais tenra infância que ele está presente em relatos de bocas de noite, em histórias de mundos outros situados muito além dos oceanos. Ou para além do Serrote do Quati, plasticamente desenhado ao norte do terreiro de Impueiras, e onde, na minha infância, para além de suas bordas, estavam mundos de outros mares, de reinos encantados, de aparições inusitadas.
Uma das recorrentes histórias de mar tem como personagem uma parenta que, concluindo o Curso Normal no Colégio das Dorotéias, ganha como prêmio, junto com a turma, um passeio a uma cidade litorânea.
E o cochicho da história é de que ela teria levado algumas garrafas vazias, para serem cheias com a água do mar e, chegadas ao sertão, a água ser adicionada ao volume de alguns açudes. Qual a finalidade? Ora, com o mar tem ondas constantes, sua água adicionada aos açudes iria promover também o espetáculo das ondas. E cresci acreditando nesta verdade. Até conhecer o mar e também me enveredar pelos caminhos de saberes científicos que não trazem quaisquer vestígios de veracidade nesta teoria.
E aqui chamo Max Weber para essa prosa. Ao analisar a modernidade, no início do Século XX, ele reconhece que, embora a razão, a ciência, o conhecimento propiciem ao homem desgarrar-se de crendices, superstições, ao mesmo tempo, provoca o “desencantamento do mundo”, nos aprisionando numa “jaula de ferro” e nos asfixiando num mundo limpo, claro, mas sem nenhum traço de encanto, ou encantamento.
E somos, cada vez mais, indivíduo crentes na verdade, na razão, na explicação convincente. Lugares que exilaram almas penadas, visagens, botijas e também garrafas de água do mar a provocar ondas e marolas em nossos açudes. Mesmo aqueles açudes imaginários e desenhados na criatividade gestora de sonhos e encantamentos.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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