Vinícius de Morais e os homens da terra
Por Francisco Frassales Cartaxo – Antes de completar um mês, a morte do agricultor João Pedro Teixeira foi objeto de protesto nas tradicionais comemorações do dia 1º de maio de 1962 em João Pessoa. Ao chegar à Paraíba, João Pedro foi conquistando pouco a pouco a confiança dos moradores da zona da várzea, onde criou a Liga Camponesa de Sapé, a primeira do Brasil. Liderança firme, João Pedro tornou-se “ameaça” aos costumes arcaicos e perversos da atividade canavieira, praticada em usinas e engenhos, base de políticos conservadores. Aí está o motivo real de seu assassinato, em 2 de abril de 1962, na emboscada preparada por dois praças da PM, orientados por Arnaud Claudino, vinculado a latifundiário integrante de poderosa família de políticos paraibanos.
O crime foi desvendado com rapidez por investigações oficiais, conduzidas por autoridades do governo populista de Pedro Gondim, egresso do antigo PSD. Filiado ao PDC, apoiado pela UDN, ele surfou na disputa eleitoral de 1960, em ondas de rebeldia partidária, refletida no slogan: “Tá com medo? Não, tô com Pedro”. A caça a matadores e mandantes se deu sob forte pressão da sociedade, instigada por minuciosas reportagens, sobretudo, do jornal A União, órgão oficial do governo da Paraíba.
A estúpida execução de João Pedro, à bala de fuzil, ribombou até no exterior, de forma que foi fácil ao embaixador-poeta Vinícius de Morais escrever o longo poema “Os homens da terra”, aliás, lido de público pela primeira vez em concentração popular realizada no Parque Solon de Lucena, no dia 1º de maio de 1962. Eis uma amostra:
“Queremos que a terra possa/Ser tão nossa quanto vossa/Porque a terra não tem dono/Senhores Donos da Terra./Queremos plantar no outono/Para ter na primavera/Amor em vez de abandono/Fortuna em vez de miséria.”
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Quem recitou o poema?
No seu livro Crimes que abalaram a Paraíba, V. I, o jornalista Biu Ramos informou em nota de rodapé: “A leitura foi feita pelo estudante Roberto Ávila Vieira, vice-presidente da União Nacional dos Estudantes, que veio a João Pessoa especialmente desincumbir-se dessa missão.”
Quem?
Roberto Átila do Amaral Vieira, cearense, então estudante de Direito em Fortaleza, que fora eleito no congresso da UNE, realizado em Niterói, em julho de 1961, na mesma chapa do paraibano Clemente Rosas. Amaral já chegara à UNE com razoável experiência no movimento estudantil, desde o Liceu do Ceará, no jornalismo, na militância partidária. Perseguido pelo golpe de 1964, tornou-se professor, jornalista, escritor. Participou da refundação do PSB, chegando à presidência nacional. Foi ministro de Ciência e Tecnologia. Autor de muitos livros e ensaios, ainda hoje continua escrevendo lúcidos artigos de análise política.
Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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