Vereador Cristiano Cartaxo
Por Francisco Cartaxo
No dia 29 de agosto passado, completaram-se 40 anos da morte de meu pai, Cristiano Cartaxo Rolim. Ele ficou mais conhecido como professor e poeta. Não se tornou imortal por timidez, ao declinar do convite para integrar a Academia Paraibana de Letras, fato que relembrei outro dia neste espaço. Agora, um poema seu transformado no Hino de Cajazeiras está em foco, graças a lembrança do advogado Francisco Sales Albuquerque. A atividade de Cristiano como farmacêutico é obscurecida pela sua absoluta falta de jeito para vender remédio.
Contam-se muitos casos que comprovam seu desapego a dinheiro. Gostava de aviar receitas, de tratar das pessoas, ele que foi um dos primeiros cajazeirenses com diploma na área de saúde, formado em farmácia no Rio de Janeiro, em 1913, em tempos difíceis quando se viajava em lombo de burro, de trem e navio. A política é outra faceta importante na vida de Cristiano.
Devo dizer, desde logo, que ele não foi político militante, com filiação e trajetória partidárias. Salvo talvez por ter-se alinhado, no período democrático pós-Segunda Guerra Mundial, ao Partido de Representação Popular (PRP), a renascida Ação Integralista Brasileira, fundada por Plínio Salgado, e extinta por Getúlio Vargas, em 1938, em gesto político de quem joga fora o bagaço de cana… A simpatia de meu pai pela doutrina integralista vinha da afinidade com a Igreja Católica que, na época, através de intelectuais de largo prestígio, abraçara o totalitarismo de direita, com medo do comunismo ateu, anticlerical, que então prosperava no mundo.
Até eu entrei nessa história. Menino de calça curta era levado por meu pai para as reuniões do PRP, realizadas na casa do cirurgião dentista Antônio Éllery, o chefe local dos “camisas verdes”. Reuniões com ata, na qual apus várias vezes minha assinatura infantil, para orgulho de meu pai! O integralista mais fanático, porém, era César Nogueira Rolim, dono da farmácia que ficava na Praça Coração de Jesus, se não me engano, ao lado da padaria de Zeca, o pai da prefeita Denise Albuquerque.
Outras incursões de Cristiano Cartaxo na política ocorreram quase por acaso.
A presença significativa dele no campo político deu-se em três episódios eleitorais: em 1935, 1951 e 1959. Em 1935, quando da primeira eleição municipal direta com voto secreto de verdade, implantada pela Revolução de 1930. Às vésperas do pleito, formaram-se em Cajazeiras duas legendas: o Partido Popular Cajazeirense e a Legião Católica. A primeira apresentou como candidato a prefeito a prefeito o industrial, coronel Joaquim Gonçalves Matos Rolim, e a segunda, o médico Vital Cartaxo Rolim. Pleito de enorme relevância na história cajazeirense, pois encerra, simbolicamente, o ciclo da hegemonia política do bloco familiar chefiado pelo comandante Vital de Sousa Rolim e seu filho, cel. Sabino Gonçalves Rolim.
O cel. Joaquim Matos, do Partido Popular, derrotou Vital, neto quase homônimo do comandante, e elegeu seis dos nove vereadores. Em 1935, compareceram para votar em Cajazeiras, 1.025 eleitores, sendo apurados 1.009 votos válidos para vereador. A legenda do então PP Cajazeirense obteve 659 sufrágios e a Legião Católica, apenas 340. Foi um massacre! Os vereadores mais bem votados em suas legendas foram Cristiano Cartaxo Rolim, do PPC, e o major Galdino Pires Ferreira, da Legião Católica.
Nessa época, o cargo de vereador não era remunerado nem oferecia as contrapartidas legais e ilegais de hoje. Não havia, ainda, o costume de fazer do exercício do mandato parlamentar um balcão de negócio. Voltarei ao tema, para listar os vereadores e os suplentes daquele tempo.
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