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Francisco Cartaxo

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Velho Chico

10/04/2016 às 22h56 • atualizado em 10/04/2016 às 23h01

Velho Chico

Por Francisco Frassales Cartaxo

Mal aparece na tela, mas consegui lera tabuleta, numa fração de segundo, o suficiente para abrir um clarão imenso na memória. Tabaris. Quase ninguém reparou. O coração aos pulos arrastou para os dias atuais o vigor da juventude vivida na Bahia, onde estudei direito e comecei a vida profissional. Tabaris Night Club,praça Castro Alves, atrás do Cine Guarani, perto do Restaurante Cacique e do jornal A Tarde, uma curiosa mistura de tempos, culturas e costumes sociais. No Tabarisda novela o coronel Afrânio circulou, embriagado de paixão, mais do que de cachaça, a procura de sua antiga amante da época de estudante.

A cena aguçou em mim a curiosidade pela novela Velho Chico, sobretudo porque, com foco no coronelismo,foca a Salvador dos meados do século XX, ruas, ladeiras, bares e cabarés por mim percorridos em noitadas plenas da irresponsabilidade estudantil. Cresceu meu interesse pela temática, a música, a iluminação, a presença de atores de qualidade,como Rodrigo Santoro, e a perspectiva de ver em ação gente nossa. Marcélia Cartaxo, Duda Moreira, Ubiratan de Assis, já provados e aprovados em outras empreitadas culturais, artísticas e de amor a Cajazeiras.

Quem dirige a novela?

Como esta não é minha praia, sou apenas um reles curioso, fui procurar saber.Bem logo vi, pensei, quando li uma entrevista do carioca Luiz Fernando Carvalho. Carioca, porém, filho de alagoana que, lamentavelmente, faleceu quando ele era menino. Aí nasceu a motivação interior que arrasta o intelectual para dar ao trabalho, seja a escrita, seja a representação teatral, seja a direção da novela, a sensibilidade criativa ao influxo do amor. Veja como ele fala:

As coordenadas fundamentais de meu trabalho partem dessa relação espiritual com a memória de minha mãe nordestina, a qual perdi ainda na primeira infância. Tudo nasce dessa nuvem de lembranças. Digo nuvem também me utilizando do sentido tecnológico que a palavra representa nos dias de hoje, onde os conteúdos são armazenados, mas não é possível avistá-los, permanecendo invisíveis. Estou plugado à esta nuvem espiritual. Ela me guia e isso é tudo.

Primeiro foi a profunda ligação com a mãe, depois o encanto de Ariano Suassuna, com o qual Carvalho teve imediata identidade, além da coincidência trágica: Ariano teve o pai assassinado quando ele tinha três anos de idade.Mas não fica na nuvem espiritual a vinculação de Carvalho à terra nordestina. Intelectual afeito à literatura, ele valoriza o que vem do povo e chega a expressar surpresa ao avançar no conhecimento das coisas do Nordeste. Olhe esta declaração arretada:

Na verdade o que continua me surpreendendo, cada vez mais, é a oralidade popular. Sei que muita poesia de boa qualidade tem sido produzida à margem desse imenso rio que cruza o País. Muitas viram canções, é certo. Mas muitas só chegam ao papel através de pequeninas editoras independentes. Nas margens do São Francisco há um mar de poetas, gente que, infelizmente, não ganha reconhecimento ou mesmo acesso às editoras importantes do País.

É só substituir margem desse imenso rio por grande sertão e o retrato se completa. Com 55 anos, Luiz Carvalho conhece bem o Nordeste, já filmou em Taperoá, sob as vistas de Ariano, importante produção da Globo. Tudo isso e mais a expectativa de ver de novo na tela Marcélia Cartaxo, Duda Moreira e o cabelo e a imensa barba de Bira de Assis, tudo isso é motivo para ficar de olho na tela.Mesmo que seja a tela da Globo…


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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