Uma terra de ninguém
Por Mariana Moreira – As cenas de abandono e desgoverno dos velhos filmes de faroeste degustadas na tela do Cine Pax e reprisadas na Sessão da Tarde ganham atualidade quando caminhamos pelas ruas de Cajazeiras. Ou seja, uma terra de ninguém, onde todos e qualquer um impõe sua lei, define seu território, estabelece suas regras. Não mais sob os auspícios e destreza da bala e da valentia individual, mas com a omissão e conivência do poder público municipal que, legal e democraticamente constituído para zelar e administrar o “interesse comum”, se mostra omisso, estimulando e incentivando a desorganização e a apropriação, por alguns, de espaços e territórios coletivos.
Assim, da noite para o dia, calçadas se transformam em extensão de um “espetinho”, onde churrasqueiras, mesas e cadeiras ocupam o espaço de pedestres e transeuntes que, por necessidade, ou mesmo, pelo prazer de caminhar, o fazem entre automóveis e motocicletas, tumultuando o trânsito e arriscando a própria vida. O argumento oficial, repetido com abundância, é o de que “a crise econômica e a falta de empregos leva muitos a informalidade. Portanto, o espetinho, a barraca estão produzindo e gerando riquezas”. Mas, quais normas e regimentos eles devem observar? Qual, o limite entre o interesse pessoal e individual e o coletivo?
As calçadas também são extensões de lojas, mercadinhos. Em várias ruas do centro da cidade a cena se repete: balcões e barracas são instalados em calçadas para exposições de mercadorias, ocupando o espaço de trânsito de pessoas. A alternativa única, mais uma vez, é circular pelo leito da rua, disputando espaço entre motos e automóveis. Qualquer reclamação, insatisfação ou descontentamento não tem ressonância e, via de regra, é recebido como ignorância ou defesa do atraso.
E a terra de ninguém encontra outras expressões de sua realidade na grande quantidade de lixo que, diariamente, se espalha e se avoluma por ruas e avenidas da cidade. O argumento de que a população é mal educada não encontra ressonância quando se observa a absoluta ausência da ação e da atuação do poder público em informar, educar e esclarecer a todos sobre dias e horários de coleta do lixo. Mas, sobretudo, a omissão em não punir os que transgridem e extrapolam as regras e normas. “Se não sofro quaisquer retaliações, continuo jogando o lixo na rua nos dias e horários que me convier”. Eis um argumento de frequente escuta pela cidade.
Uma cidade onde seus habitantes desconhecem a existência do Código de Postura do Município. Uma lei, também negligenciada pelo poder público municipal, e que se constitui essencial para definir, planejar e acompanhar o uso dos espaços urbanos, sua ocupação, atribuindo responsabilidade, direitos e deveres para pessoas e governo.
Mas, tudo isso é desvario de intelectual que não aceita o progresso e o desenvolvimento da cidade, que cresce nos seus investimentos econômicos, gerando divisas e lucros. Afinal, qual o problema de nossos principais cartões postais, o Morro do Cristo Rei e o Açude Grande, estarem sufocados por antenas, esgotos, expansão imobiliária, desmatamento, lixo?
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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