Um chope com Mônica Moura
Era uma vez um senhor de cabelos grisalhos que zanzava no calçadão de Copacabana. Uma voz conhecida interrompe o surpreende. Você aqui? Sem me avisar, que é isso, disse a primo e o abraçou e beijou com carinho em jeito carioca, adquirido nos muitos anos de Rio, desde quando chegou da Bahia. A seu lado uma jovem senhora de óculos escuros, cabelos escondidos sob o chapéu, short e tênis apropriados para caminhadas.
Havia, porém, sinais de nervosismo.
Preocupa não, ele é meu primo, ela disse… ah, esta é minha amiga, e este é André. Prazer; olá, prazer é meu. A jovem senhora de óculos e chapéu ficou mais ansiosa. Visivelmente apreensiva com aquele desconhecido, tudo o que não queria, pensou. Por isso, sussurrou ao ouvido da amiga, que, de chofre, fez o convite.
Topa um chope?
O boteco tem um reservado discreto. Sentados, o chope servido, ela não se contém. Nem me olhe assim, prima, ele é de inteira confiança, ora, não vamos estragar nosso dia, tá legal? Ela fez que sim, sem jeito, o chapéu na cadeira a seu lado. Não precisou mais nada. Mônica Moura, ela mesma, personagem da Lava Jato exposta na televisão, braços para trás, cabelos ao vento, andar resoluto, mascando chiclete ao lado dos federais, seguida por João Santana, seu atarantado marido. Naquela imagem, pensou André, Mônica parece menos à vontade do que quando participava daquela longa conversa/depoimento/interrogatório/delação/papo-verdade, diante do microfone do Ministério Público.
No terceiro chope, o homem de cabeços grisalhos arriscou perguntar.
Imagina, meu santo, eu morria de medo de carregar aquelas sacolas, fazer o quê? João não leva jeito para essas coisas, nem para fazer conta, burocracia… Ele gosta mesmo é de criar. Você já pensou… (garçom, mais uma rodada, por favor) o trabalho que deu transformar Dilma numa pessoa simpática, que fala direto ao povão, capaz de expor uma ideia do começo ao fim, você já pensou? Quem fabricou ela? João, é claro. Por isso, eu cuido do resto, senão… bem… cuidava. Agora não sei. Aliás, ninguém sabe.
E a dinheirama?
Ora, na campanha rola muita grana, meu santo, pesquisas, viagens, contratar atores, manter duas, três equipes de cinegrafistas etc. etc. Etc.? Ah, meu santo, não me pergunte pelo etc…. João e eu incluímos no orçamento tudo isso e jogávamos 30% em cima. É o nosso. Se eles aceitavam? Às vezes, a gente reduzia um tiquinho, sabe? E fechava. Daí em diante, a gente só falava com o interlocutor do partido e o cara da empresa, por exemplo, Fernando Migliaccio, da Odebrecht. Tudo seguro. Com senha…
O garçom chega com a bandeja de chope e avisa: a moqueca de camarão tá pronta.
Você criou laços com Dilma, não?
Claro, claro, duas campanhas, conversas reservadas, o e-mail-rascunho que eu criei só para me comunicar com ela numa boa.
Mônica, me diz com sinceridade, você não acha uma traição a Lula e a Dilma revelar tudo ao pessoal da Lava Jato?
Corta essa, meu santo, o João e eu sofremos muito, refletimos pra caralho. Antes da prisão porque a gente…. Não foi moleza decidir. Uma noite João falou: vamos colaborar. Olha, menina, (nas horas da agonia ele me chame de menina… eu adoro), a lei da colaboração premiada foi assinada por quem? Dilma e Zé Eduardo Cardoso, não é mesmo? Então?
Meu santo, eu só falo a verdade. Por isso, eu fiquei à vontade daquele jeito que você viu na televisão.
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