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Francisco Cartaxo

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Turismo e estradas de capatazia

21/01/2016 às 18h43

Por Francisco Frassales Cartaxo 

Meu amigo Dé vai de vento em popa. Depois de oito anos constatei seu progresso como pequeno empreendedor no litoral Sul de João Pessoa, região que se firma como polo turístico à base de sol e mar. Em 2007, Dé se dividia entre a profissão de pedreiro e de agricultor. Argamassa, tijolo, martelo, prumo cediam lugar à enxada, à foice e à maniva para produzir macaxeira, inhame, batata doce e mamão. Produzir e vender. Ele fazia quase tudo. Por isso, um carro lhe era o mais valioso instrumento de trabalho. A entrega a tempo e a hora da mercadoria em hotéis, pousadas, restaurantes da faixa litorânea – Jacumã, Carapibus, Tabatinga, Coqueirinho, Tambaba -, era e continua a ser o diferencial para desbancar a concorrência. Com isso, mantém e amplia a freguesia. 

Dé não tem do que se queixar.

Há oito anos, sonhava em trocar sua Pampa velha por uma D-20. Realizou o sonho, fazendo ginástica para adquirir uma caminhonete, usada é bem verdade, mas que não lhe dá dor de cabeça. E foi mais adiante, comprou um terreno urbano onde construiu um depósito, que é também um ponto fixo de venda, à margem do contorno de Jacumã. Assim, os produtos ficam bem mais próximo dos fregueses para as entregas rápidas. Uma jogada comercial intuitiva de mestre.

Não pense o leitor que tudo isso aconteceu por acaso ou por mero golpe de sorte. Nada disso. Foi trabalho duro e disposição para enfrentar desafios. O jovem Dé não sabe o que é descanso. Ele e sua esposa, uma mulher disposta, que cuida dos dois filhos e ainda presta serviços como doméstica na casa de veranista, onde tem morada permanente. Bendita proximidade. O dono da casa, mais do que patrão é amigo. Esta semana, diante de tanto sucesso, eu lhe perguntei:

– Dé, você já procurou crédito em banco?

– Deus me livre de banco. Um amigo se aperreou uns tempos e o gerente não quis conversa, tomou até uma nesga de terra do coitado. Hoje nem conta ele pode abrir.  

Sorte de Dé. Seu amigo rico, o veranista, funciona como uma reserva estratégica para socorrê-lo em eventuais dificuldades e empurrar seus passos ousados como empreendedor. Ajuda e orienta nos caminhos dos negócios. Isso lhe tem permitido mudar de rumo em seus afazeres produtivos. Tanto que hoje em dia, ele não mais cuida diretamente da terra. Essa tarefa, Dé passou a parentes próximos dele e de sua mulher, ficando assim mais livre para as entregas das mercadorias à clientela. Clientela de um mercado em expansão, graças a novas pousadas e restaurantes, e condomínios habitacionais. Apesar da crise. 

Dé e outros empreendedores fazem sua parte. 

O poder público, porém, está em débito, a começar pelas estradas. Quem procura lazer na costa paraibana, ao Sul de João Pessoa, vindo de Pernambuco – via BR 101, entrando antes do Posto Fiscal -, sente terrível impacto negativo. Cadê a propalada qualidade das rodovias da Paraíba? Naquele trecho, virou lenda. Pistas estragadas, mal sinalizadas, sem informações turísticas indicando cidades, vilas, praias mais frequentadas. Uma lástima. Desrespeito ao turista. Um paradoxo. O DER-PB, que executa o mais audacioso programa rodoviária da história da Paraíba, perde-se na falta de sensibilidade para com os visitantes, fonte estimuladora de emprego, renda, pequenos negócios numa economia tão carente de oportunidades e criatividade.

Até parece que o DER-PB se transformou em capatazia. Capatazia de engenho: cuida do que fica perto da casa-grande, sob as vistas do coronel e despreza o resto.  
   


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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