"Tropa de Elite"
Cerca de 11 milhões de pessoas já assistiram ao filme “Tropa de Elite”. Já está sendo considerado pela crítica como o mais visto e mais comentado da história do cinema brasileiro. Qual o segredo de todo esse sucesso?
Em primeiro lugar, o roteiro do filme traz uma das maiores preocupações do povo brasileiro, a questão da segurança, da violência, do narcotráfico, do crime organizado, do esquema de policiamento e dos métodos de um e de outro. O filme traz à tona uma ferida nacional que nenhum governo até hoje conseguiu sarar. Pelo contrário, a situação se agrava cada dia. Em 1980, o país registrava 12 homicídios por 100 mil habitantes, em 2005 esse número passou para 26. E o povo não agüenta mais isso! Daí o sucesso do filme.
Formador de opinião, “Tropa de Elite” consegue projetar na tela o consenso geral: o de que estamos em plena guerra e o assunto tem que ser gerenciado como tal. Eis o que explica o interesse pelo filme e as opiniões majoritárias de que bandido deve ser tratado daquela forma mesmo. Certamente muitas análises ainda serão feitas por especialistas da área das ciências sociais. Aguardemo-las.
O povo está cheio da criminalidade e vê na obra um alento para enfrentar o problema. “Bandido deve ser tratado como bandido” e não como “vítimas sociais”: é uma dura crítica à má interpretação que às vezes se dá à questão dos direitos humanos. Os que assistem ao filme encontram respaldo em suas esperanças de ver um Estado que se impõe à pretensão do crime organizado de instituir um “estado paralelo”.
Uma polícia especializada, que não se deixa corromper, mas que cumpre sua árdua missão de dar segurança à sociedade é tudo o que o povo quer. E isso pode acontecer sim. Quem duvida que estamos numa guerra declarada. Morre-se mais no Brasil por conta da violência do que em muitos países beligerantes.
O filme deixa claro que existem traficantes porque existem usuários. E, eis a constatação: não apenas os pobrezinhos, mas também (e aqui está o foco do filme) “filhinhos de papai” que, de dia, vestem-se de branco e fazem passeatas pela paz, e à noite, sobem os morros para usar/traficar drogas. E o pior é que isto é uma realidade…
Contudo, o filme é falho, pois não encara o problema de frente: porque jovens pobres ou ricos se drogam? Porque vão buscar na maconha, no crack ou na cocaína o preenchimento do seu vazio? O filme não trata da desestruturação familiar que faz com que os indivíduos cresçam sem saber o que é o calor do abraço de um pai ou de uma mãe. Filhos órfãos de pais vivos, facilmente mergulham no mundo das drogas e não no do trabalho, por exemplo.
Deveras, a criminalidade não pode ser mais analisada sob o enfoque de uma longínqua “questão social”, porque os traficantes (aqueles que prestarão severas contas a Deus pelos seus atos, segundo Bento XVI, na Fazenda da Esperança), nada têm de coitadinhos. Precisamos sim, de uma polícia atuante, firme, presente em todos os momentos sociais e que responda à altura às investidas do crime organizado. Esta polícia intacta existe (todos conhecemos policiais assim). Contudo, precisamos também de um Estado que seja mais organizado que o crime. Não é suficiente fazer propaganda de programas sociais que apenas alimentam um ciclo de “vagabundagem”.
Há que se combater severamente as raízes de toda essa desestabilidade social: corrupção, narcotráfico, falta de educação, falta de emprego, recuperação familiar, falta de formação moral e religiosa. Esta última sobretudo, pois sem Deus no coração, o homem volta a ser selvagem e perde o sentido e o objetivo de sua vida (e também da vida dos outros). A religião nos ensina a amar a Deus e aos outros, não matar, não roubar, não estuprar, não seqüestrar, não se drogar… Não é disto que precisamos?
Se colocássemos isto em prática, filmes como “Tropa de Elite” teriam que apresentar uma tarja com os dizeres “qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência”.
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