Tradução de genocídio
Por Mariana Moreira
Como é a história? Não se pode falar “presidente genocida”?
A ciência, que o irritadinho e prepotente senhor mandatário menospreza, negligencia e desdenha, nos ensina que as palavras não são inocentes. Como invenções da cultura humana ela marcam, delimitam, imprimem, configuram, constroem e reinventam conceitos, cenários, lugares, formas. Trazendo como elemento presencial desta ação as intenções, propósitos, desejos de grupos, segmentos, interesses.
Assim, a adjetivação “presidente genocida” não traduz, como desejam alguns, o sentimento raivoso e intolerante de uma “minoria” insatisfeita com a derrota eleitoral.
Adjetivar o presidente de “genocida” ganha sustança no contexto de um país que assume a dianteira mundial nas estatísticas de mortes diárias pela pandemia. E, com os ingredientes de uma política nacional de prevenção da doença, de proteção social e de cuidados sanitários que, desarticulada, pífia, reacionária, nos deixa, a cada pulsar de vida, contagiados pela angustiante incerteza de que o próximo caixão lacrado e solitário a descer a frieza da sepultura, será de alguém querido, amado e desejoso de vida, por quem apenas vincamos nossos rostos com lágrimas escoteiras de saudade.
Nomear o governante de genocida não traduz intransigência de derrotados.
Mas, com toda a carga política e cultural que encerra, as palavras “presidente genocida” expressam sentimentos, intenções, valores e desejos de parte considerável de um país que assiste, amedrontada e isolada, o crescimento da contaminação da população, o colapso dos serviços públicos de saúde, os desacertos governamentais na condução de um programa mínimo de proteção do povo, de assistência à sobrevivência dos mais vulneráveis e de definição e execução de ações preventivas.
E, sobretudo, de inserção na rota mundial dos países que estão desenvolvendo e aplicando vacinas, determinando lockdown, assistindo as populações e, sobretudo, tendo a responsabilidade e a seriedade de tratar a pandemia e os mortos que ela arrebata com respeito, sobriedade e, principalmente, senso ético.
Fazer gracinhas para arrancar risos de uma plateia antecipadamente treinada para somente “dizer sim” não tem outra tradução mais adequada: é tradução de genocídio!
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*Para Biba, cuja alegria da frouxa risada nos foi arrebatada pelo descaso de um governo irresponsável e genocida
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