Sonhos para o jantar
Por Cristina Moura
Quem mandou pisar no castelo das formigas, não sei. Mas meu dedão do pé direito sabe bem direitinho o que é invadir o espaço alheio. Com redundância e tudo. Se é invadir, é por óbvio que não é meu. É também obviamente que nos finalmentes eu xinguei as amigas, que estavam lá, a começar se animar para um banquete, logo mais à noite.
Um aniversário no local indicava a presença de objetos comestíveis revestidos de açúcar. Eram muitos os formatos, com chocolate, caramelo, chantili. A formiga-chefe e as auxiliares machos e fêmeas, meninos e meninas, velhos e jovens, organizaram-se em batalhões e batalhões por todo o sítio. A estratégia era esperar um desavisado que não jogasse na lixeira, de forma correta, o resto de papel. Era claro, para os organizadores da tarefa, que os fortes superequipados seriam construídos por ali, com as antenas a detectar algo digerível.
Num desses batalhões, a comemoração começou. Era um resto de sonho que se transformaria, para toda a comunidade, num prato à altura do aniversário. Que pompa. Eu, sem saber de nada, fui direto num dos fortes. Falei que eram superequipados porque senti na pele. Vieram quatro de uma vez. Foi aí que saiu uma palavra não muito bonita. Corri para o tanque. Somente a água, com sua delicadeza e tranquilidade, poderiam me salvar naquele momento.
Enquanto isso, eu, agoniada com aqueles picões de ruivas enfurecidas, e o castelo central, em seu salão de festas, completamente no clima dos sonhos. Lá estava como item principal uma espécie de pão doce recheado com um creme amarelo. Embriagaram-se, de açúcar, todos. Bichos que couberam no local e foram convidados com rigor, como mosquitos, traças e lagartos, todos, todos mesmo, encheram a cara.
Os fortes todos foram esvaziados ao entardecer, para que todas as participantes entrassem na repartição do bolo. Lá dentro era o maior rock. Certeza. A música ficava por conta do pessoal da noite: grilos, urutaus, corujas, sapos. O cheiro era da chuva, que já vinha, logo ali, no lado nascente.
E para quem achou que era um dia só de evento, está enganado. As amigas têm o dom de organizar os armários, para que não falte alimento tão cedo. Veja, então, amigo leitor, acredite: com esse calhamaço glicosado, não duvido que um dia tenha esticado para uma semana de comes e bebes. Que situação. Eu, com o dedo latejando, com o calor torando, com o galo quase cantando, e o vento soprando esse segredo universal. Saúde.
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