Solidonio Lacerda “encantou-se”
“Quando eu morrer minhas cinzas serão espalhadas aos pés do Cristo Redentor de Cajazeiras”. Ouvi esta frase mais de uma vez do cajazeirense Solidonio Lacerda, que ao visitar a sua querida e idolatrada terra natal me presenteava com a sua visita.
Depositava em sua alma o mais puro sentimento de “cajazeiribilidade” e era tanto o seu amor por esta terra que nem as belezas da Cidade Maravilhosa o fazia esquecer-se dos encantos da sua Cajazeiras cujas noticias ecoavam em seu espírito como longínquos rumores de uma bendita tempestade.
O imperativo de sua consciência tinha um só destino, muitas lembranças e inúmeras e indeléveis memórias, que no relicário de seu coração se chamavam Cajazeiras.
As sementes das lembranças plantadas em seu coração desabrocharam com magníficas florações e uma delas – a gratidão – tornou a sua alma cativa, escrava e submissa ao amor a esta cidade que lhe serviu de berço.
Mas o que faz um homem, que residia e trabalhava no Rio de Janeiro e onde educou seus filhos e netos e se tornou uma referência nacional como radiologista, sentir-se plenamente feliz todas às vezes ao ser indagado de onde era, proclamar: sou cajazeirense!
Para Solidonio, Cajazeiras, era a consagração universal do seu mundo, um patrimônio do seu coração, um donatário de suas terras, das suas ruas, das suas praças e que a engrandecia na constância de seu devotamento filial.
Do seu reencontro com a cidade e com os amigos, todos eles povoados de muitas emoções, sempre era recebido como um filho ilustre e era reverenciado com os mesmos sentimentos fraternais por seus conterrâneos.
Ele passeava pela cidade, por suas praças, ruas e vielas e delas recolhia os ecos do passado e bebia as seivas das saudades e quando erguia os olhos para a nossa Catedral, que se destaca na amplidão do céu, recebia silenciosamente, da Virgem da Piedade, num cenário de amor e veneração, a sua generosa benção.
Solidonio tinha incrustado na sua memória a imagem do Cristo Redentor, que estando em Cajazeiras, voltava os seus olhos para o alto da colina e devia sentir a necessidade da súplica, a necessidade de pedir, implorar para que os sacrifícios de seus conterrâneos fossem transformados em alegrias, que os rigores do sol fossem atenuados e os ventos abrandados e das nuvens caíssem chuvas para a seara fecunda.
Solidonio, ao declinar o desejo de ter o seu corpo cremado, talvez, não quis ser prisioneiro das alamedas da saudade de um cemitério lá no Rio de Janeiro, mas de serem as cinzas que voam em liberdade e que vão adubar a terra inóspita e seca do sertão de Cajazeiras para que nasçam, pelos campos, as flores que irão embelezar a face da terra da sua cidade.
Uma de suas filhas, Lúcia, deverá, possivelmente, no mês de abril transladar as cinzas de seu pai até a cidade de Cajazeiras, onde serão espalhadas do alto do morro do Cristo Redentor. Esta cerimônia merece de todos nós cajazeirenses uma participação e que neste dia sejam realizadas as homenagens à altura do amor e da devoção que ele tinha por esta cidade.
Solidonio faleceu, no Rio de Janeiro, no dia primeiro de março, aos 90 anos de idade.
Saudades!
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