Será Temer um carcomido?
Por Francisco Frassales Cartaxo
Meu caro Michel Temer
Escrevo-lhe a pedido do coletivo que se reuniu à sombra de cajazeiras para avaliação crítica do ministério do seu governo interino. Começo por registrar uma dissidência. Miguel Arraes assegura que a chefia de fato do gabinete cabe, não a você, mas ao Henrique Meireles, representante dos banqueiros e querido do Lula. Arraes expôs suas razões entre pigarros e espiadas se soslaio. Mas, fique tranquilo, ele só conseguiu arrancar uns muxoxos de Celso Furtado e a adesão de Chico Anísio. Este por motivos atávicos ou por simples gaiatice. Não entendi patavina o que Arraes falou, por isso, no meu relato vai esta lacuna.
Nós do coletivo entendemos, Michel, que seus passos conspiratórios até tomar o lugar de Dilma é matéria vencida.
Preocupa-nos, agora, a composição do ministério. Que é isso, Michel, você deixou o Ceará fora do primeiro escalão? A colônia cearense está indócil, Juarez Távora e o padre Cícero revoltados. Até minha gente do Quixadá lhe torce o nariz! E ainda por cima, você escolheu cinco políticos de Pernambuco! Cinco, sim senhor, porque o Jucá (cria plantada por Marco Maciel em Roraima), é do Recife! Você começa mal, provocando mais desequilíbrio no Nordeste.
E a Paraíba? Merecia figurar na festa de posse dos ministros. José Américo, tal qual Demóstenes – o da lanterna – perguntou: quem seria o paraibano? Argemiro Figueiredo, de bate-pronto, citou o Cunha Lima, seu conterrâneo de Campina Grande. Irritado, Zé Américo levantou-se. Com pose de eterno ministro, trincando os dentes, ditou a sentença:
– Ah, os Cunha Lima… Eu os conheço de sobra, desde a época do meu pai em Areia. Bem faz Temer em deixar a Paraíba sem ministro.
Disse e se afastou do grupo resmungando inaudíveis palavras, das quais eu entendi apenas o termo carcomido…Carcomidos, Michel, é como os revolucionários de 1930 chamavam os membros das oligarquias políticas dominantes na República Velha. A propósito, Michel, esse menino, senador pelo Amapá, Randolfe Rodrigues, produziu uma bela peça no dia da votação da admissibilidade do impeachment de Dilma. Todos nós do Coletivo do Além gostamos de sua fala. Cinco vezes ele pronunciou o termo carcomido. Você nem sequer notou, hein, Michel, cercado dos bajuladores do poder. Os de sempre. Um Sarney no ministério! Randolfe, que derrotou a gente de Sarney no Amapá, sentiu cheiro de mofo no ministério. Daí porque insistiu em falar nos carcomidos, ele que é professor de História.
E não é só a sobrevida aos Sarney.
Você deixou as mulheres e os negros fora do ministério! Por quê? Preconceito de carcomido, Michel. Ou você acha que mulher é bibelô? Enfeite de reunião ministerial? Que coisa mais atrasada! Tudo bem, Marcela é linda e jovem, você pode orgulhar-se de tê-la bela, recatada e do lar, mas a presença da mulher na política não é questão doméstica, de desfrute. A luta das mulheres é conquista inacabada, com longo caminho ainda pela frente. Assim, você assume a vanguarda do atraso, como disse Fernando Lyra, com sua voz de trovão.
Nisso, Chico Anísio se insinua, eu posso explicar. Todos os olhares encontraram o rosto sério do filho de Maranguape.
– Isso de mulher longe do ministério foi exigência do Meireles, o baitola é alérgico…
Arraes soltou uma gargalhada, arrastou pelo braço Celso Furtado e foram discutir os rumos da economia brasileira.
Meu caro Michel, espero ter sido fiel ao Coletivo do Além reunido à sombra das cajazeiras. Forte abraço de
Raquel de Queiroz – mulher nordestina.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário