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Francisco Cartaxo

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Rivalidade entre Cajazeiras e Sousa (2)

05/03/2018 às 10h16 • atualizado em 25/03/2018 às 13h08

Vista panorâmica da cidade de Cajazeiras

Rivalidade entre cidades é comum em qualquer lugar do mundo. Às vezes, manifesta-se de forma agressiva. Há situações, reais ou imaginárias, que atiçam o ciúme de tal modo a levar as pessoas a terem irracional intolerância. Não é este o caso de Sousa e Cajazeiras, salvo raros momentos, devidos a circunstâncias passageiras. Sigo tratando do tema, hoje em seus aspectos históricos para melhor compreensão dos arrepios entre as duas cidades. E começo pelas possíveis causas mais remotas da raiva, tentando completar respostas a observações do escritor sousense Eilzo Matos, no artigo Cajazeiras x São Paulo – Sousa se volta para o futuro.

A origem do sentimento de rivalidade nasceu, talvez, no recuado tempo da formação de Cajazeiras, algumas décadas depois que Frei Caneca percorreu os caminhos do sertão até o Ceará, em sua desditosa fuga da repressão imperial. Nessa época, Cajazeiras não passava de uma fazenda quase desabitada. Vital de Sousa Rolim e Mãe Aninha haviam construído, fazia pouco, a casa de taipa, que veria a ser a primeira edificação do futuro núcleo urbano. Preso no Cariri, Frei Joaquim do Amor Divino Caneca foi levado de volta ao Recife, e fuzilado em 13 de janeiro de 1825. Neste ano, Inácio de Sousa Rolim ainda estudava no Seminário de Olinda… e sequer existia a capela e o colégio, em torno dos quais nasceu e prosperou Cajazeiras.

Sousa-PB

Portanto, o histórico homizio de Frei Caneca no município de Sousa, que tanto orgulha os sousenses, não pode ser motivo do ciúme de Cajazeiras, na época, um inexpressivo ponto de passagem na rota de viajantes.

O início da rivalidade veio mais tarde.

Aí pelo meado do século XIX, quando a fazenda Cajazeiras já se transformara em povoação, e começava a crescer sob o impulso do colégio do padre Rolim, sobretudo, a partir de 1843, da feira semanal (1848), da freguesia (1859), do primitivo açude. É notável como surgiu a primeira escola pública de instrução primária (1854). Nasceu de reivindicação dos moradores da povoação de Cajazeiras, do município de Souza, como registrou o governador João Capistrano Bandeira de Mello na mensagem à Assembleia Provincial, de 05 de maio de 1854. Nesse documento o governador comunica:

que nessa povoação existe um colégio de Instrução Superior dirigido pelo Reverendo Padre mestre Ignácio de Souza Rolim, e segundo a informação do Comissário são vantajosas as circunstâncias daquele lugar onde cruzam diferentes estradas e existe um excelente açude construído pelo dito Padre Mestre.

Há no lugar uma Capela com proporções de Matriz, um Cemitério decente e murado, em cujo recinto existe outra Capela. A sua população e indústria estão em proporção com o progresso que fica referido. Estas circunstâncias deram a essa Povoação o direito de obter com preferência a escola mencionada”.

Chamo a atenção para este detalhe: não foram lideranças políticas de Sousa que pediram a escola, como era o costume da época, através da câmara municipal. Foram moradores da povoação de Cajazeiras, chefiados então por Vital de Souza Rolim, o futuro tenente-coronel, comandante do Batalhão da Guarda Nacional.

Dez anos depois, a Lei nº 92, de 23 de novembro de 1863, criou o município de Cajazeiras, desanexado do de Sousa. Quem foi o autor do projeto de lei? O deputado liberal, o jovem bacharel João Leite Ferreira, de Piancó. Não foi, portanto, iniciativa de lideranças sousenses, às quais Cajazeiras se vinculava, em particular, o núcleo do Partido Liberal. Esse núcleo obedecia à chefia do deputado-padre José Antônio Marques da Silva Guimarães, eterno vigário de Sousa.

Talvez aí já se plantara a primeira semente das desavenças, hoje notórias, Cajazeiras morrendo de ciúme histórico, por ser o município de Sousa o líder da política do Rio do Peixe, desde sempre. É o que veremos no artigo seguinte.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

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