Retrospectiva 2023: Economia
Por Elan Nascimento –
Assessor de Investimentos credenciado à XP Investimentos
Trago nessa retrospectiva os principais fatos que compuseram o cenário econômico do ano de 2023. Em nossa jornada nos últimos 12 meses, testemunhamos uma composição de eventos que moldaram os mercados local e global. As tendências, as flutuações, as mudanças e as reviravoltas nos trouxeram lições valiosas, destacando a interconectividade entre os diversos setores da economia.
Vamos à retrospectiva 2023 primeiramente olhando para a nossa economia local:
Juros começaram a cair
Durante o primeiro semestre de 2023 houve uma queda de braço entre o Planalto e o Banco Central acerca do valor da Selic. De um lado, o governo federal pressionava e criticava os juros altos. Do outro lado, o presidente do Banco Central Roberto Campos Neto defendia a austeridade, em nome do controle da inflação. Somente a partir da quinta reunião do ano, em agosto, o Copom, Comitê de Política Monetária do Banco Central, reduziu a Selic e essa redução decidida em agosto deu início a uma fase de relações mais amistosas.
Agora em dezembro, depois da quarta queda consecutiva, a Selic está a 11,75% ao ano. O Copom já prometeu mais cortes em 2024, e ao final do ano, a estimativa dos analistas é que a Selic esteja em 9,25%.
Queda suave da inflação
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) começou o ano com alta acumulada em 12 meses de 5,77% – acima da meta de 3,25% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Em novembro desse ano, dados mais recentes, o IPCA ficou em 4,68%, na mesma base de comparação.
Esse processo de desinflação ocorrido em 2023 foi fomentado por dois fatores:
– Queda dos preços da gasolina, com o recuo das cotações internacionais do petróleo e apreciação do real frente ao dólar; e
– Melhora no desempenho dos alimentos, com a supersafra no 1º semestre do ano, e dos bens industriais, especialmente de consumo duráveis.
Diminuição do desemprego
Em 2023 houve uma queda da taxa de desemprego, que saiu de 8,4% no início do ano para 7,6% no trimestre encerrado em outubro, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE.
Apesar da retração, o desemprego ainda atinge 8,3 milhões de brasileiros. Por outro lado, o número de trabalhadores ocupados ultrapassou os 100 milhões, maior valor da história.
Boas surpresas com o PIB
O Produto Interno Bruto representa a soma dos bens e serviços finais produzidos no país. O crescimento acumulado entre janeiro e setembro foi de 3,2%, isso significa que o Brasil gerou mais de R$ 2,7 trilhões ao longo dos nove meses, o maior patamar da história.
A economia brasileira deve superar o resultado de 2022, que foi de 2,9%.
Agenda econômica do governo em pressão e protagonismo constante
O grande protagonista da economia local em 2023 foi o ministro da Fazenda Fernando Haddad. Em 2023 o esforço esteve concentrado na aprovação do novo Arcabouço Fiscal e de medidas com o intuito de aumentar a arrecadação do governo para alcançar a meta de déficit zero das contas públicas em 2024.
No decorrer do ano Haddad sofreu tanto com pressões do Congresso, como com fogo amigo, o próprio presidente Lula chegou a dizer que dificilmente a meta de déficit zero será cumprida. Contudo, Haddad venceu.
Em agosto, a Câmara aprovou as novas regras fiscais onde as despesas precisam crescer num ritmo menor que a arrecadação. Se os gastos ficarem dentro da meta, a alta das despesas terá um limite de 70% da arrecadação.
Dentre as medidas para aumentar a arrecadação do governo, o ministro e o Congresso aprovaram:
- MP que corrige o impacto de descontos do ICMS concedidos por estados na arrecadação federal;
- Alterações no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf)
- Taxação dos fundos de investimentos no exterior e exclusivos;
- Correção dos impacto de descontos do ICMS na arrecadação;
- Diminuição de deduções fiscais em Juros Sobre Capital Próprio;
- Taxação de apostas esportivas e cassinos online.
Enfim, uma reforma tributária
O ano de 2023 foi histórico com a aprovação da Reforma Tributária após quase quatro décadas de discussões. Em linhas gerais, a reforma unifica impostos sobre o consumo em um Imposto sobre Valor Agregado (IVA). O IVA será dual: um para os impostos estaduais, outro para os federais. A alíquota do IVA ainda não está definida, mas deve girar em torno de 25%, uma das maiores do mundo. Essa unificação vai de 2026 a 2033, quando os novos tributos vão estar 100% implementados.
Nessa agenda, o protagonismo ficou com o Congresso, na figura do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ele articulou a aprovação da proposta ao garantir quórum significativo e pressionar até o Senado para o tema passar.
O Pix avançou e o Drex se apresentou
O Pix ganhou mais notoriedade em 2023 se consolidando como um dos principais meios de pagamento dos brasileiros. Nesse ano as restituições do Imposto de Renda puderam ser recebidas por ele. Também houve a implantação do Pix Programado e do Pix Parcelado.
No meio do ano, o Banco Central anunciou a primeira moeda digital brasileira, uma espécie de real digital, que se chamará Drex, que deve começar a operar nas carteiras virtuais no fim de 2024. O Drex deve trazer avanços em transações mais complexas – como na compra e venda de veículos e imóveis, por exemplo – além de contratos entre empresas e investimentos.
2023: O ano dos investimentos
O ano de 2023 foi bom para quem investiu tanto na renda fixa como na renda variável. O que levou a bons ganhos na renda fixa foram os juros ainda em patamares elevados e na variável a melhora generalizada das expectativas para o Brasil – com a inflação em queda, níveis recordes do superávit comercial e PIB em expansão levou a bolsa de valores brasileira a ganhos expressivos, principalmente nesse último trimestre. O acumulado da bolsa está acima de 20% e caminha para ser o melhor investimento de 2023.
O número de investidores chegou a 18,1 milhões, elevação de 8% no acumulado de janeiro a setembro deste ano. Os brasileiros com investimentos de renda fixa somaram 15,6 milhões (alta de 12%), enquanto a renda variável totalizou 4,8 milhões (baixa de 3,1%).
Vamos agora ao que marcou a economia a nível global:
A economia americana mordeu e assoprou
Nos EUA 2023 foi o ano da luta do Federal Reserve (Fed) para levar a inflação americana para a meta de 2% e para isso teve que puxar os juros do país ao maior patamar em mais de duas décadas. Esse aumento de juros – hoje no intervalo entre 5,25% e 5,50% ao ano – levou a quebra de dois bancos regionais nos Estados Unidos em março, o Silicon Valley Bank e Signature Bank. Somou-se a esse cenário, o maior endividamento americano, que levou a novas emissões de dívidas e a recordes dos rendimentos (juros) das Treasuries, os títulos do Tesouro americano.
Contudo, a economia americana mostrou forte resiliência em 2023. Os salários permaneceram em alta e no 3º trimestre, o PIB dos EUA cresceu 5,2%, ritmo mais acelerado que o previsto.
China com grandes desafios
O esperado ‘boom’ da economia chinesa no pós-pandemia não aconteceu, pouco se avançou em relação aos seus sempre surpreendentes resultados.
O maior problema veio do mercado imobiliário, que corresponde a um quarto do PIB da segunda maior economia do planeta. Desde a pandemia, o setor sofre com a falta de confiança após uma onda de inadimplência de incorporadores que deixou dezenas de obras inacabadas.
No 3º° trimestre de 2023, a China cresceu 4,9%, mas desacelerou em relação a alta de 6,3% no trimestre anterior. A demanda global mais fraca também explica essa perda de ritmo.
As guerras e seus efeitos
A continuidade da guerra entre Ucrânia e Rússia e o conflito entre Israel e Hamas, no Oriente Médio contribuíram para que os preços das commodities tivessem desempenhos mistos em 2023.
Pelo lado do primeiro conflito, a Ucrânia é um dos maiores exportadores de trigo, milho e cevada. O fim do acordo entre o país e a Rússia, que permitia o escoamento da produção de grãos, trouxe volatilidade nos preços.
Em relação ao segundo conflito, o medo da guerra se espalhar para outras regiões do Oriente Médio – grandes produtoras de petróleo – trouxe volatilidade para a comodity no cenário internacional.
Acordo UE-Mercosul travado
A finalização do acordo entre a União Europeia e o Mercosul travou em 2023 com os europeus fazendo uma série de novas exigências ambientais dos parceiros sul-americanos. Desde então, diversas séries de rodadas de negociações foram realizadas entre os dois blocos, mas sem conclusão favorável.
Brics ganhou novos membros
As alianças entre os países emergentes prosperaram em 2023. Na Cúpula dos Brics, em Joanesbursgo, em agosto, os líderes do bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e Africa do Sul decidiram ampliar o grupo, formado há 15 anos. Seis novos membros foram convidados, na expectativa de fortalecer um bloco do Sul global: Argentina, Etiópia, Egito, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos passarão a fazer parte do Brics a partir de janeiro. Mas, no apagar das luzes desse ano o novo presidente argentino Javier Milei enviou uma carta aos países do Brics anunciando que a Argentina não entrará no bloco.
Um dos focos da agenda do bloco esse ano foi o uso das moedas nacionais nas transações entre os países integrantes, no lugar do dólar. O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), mais conhecido como Banco do Brics, tem papel protagonista neste projeto, ao acelerar os empréstimos nas moedas dos cinco membros fundadores.
Meu desejo é que esta retrospectiva não seja apenas um olhar para trás, mas um trampolim para um futuro onde o aprendizado do passado nos capacite a alcançar novos patamares de crescimento, equidade e progresso econômico para todos.
Que 2024 seja para o Brasil e o mundo um ano de sabedoria, determinação e a visão de um horizonte com oportunidades de crescimento para todos.
REFERÊNCIAS
AGENCIA BRASIL. Retrospectiva 2023: relembre fatos que marcaram a economia. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/economia/audio/2023-12/retrospectiva-2023-relembre-fatos-que-marcaram-economia Acesso em: 29 dez. 2023.
UOL. Juros altos, inflação, guerras, Brics ampliado: o que marcou 2023 na economia. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2023/12/28/juros-altos-inflacao-guerras-brics-ampliado-o-que-marcou-2023-na-economia.htm Acesso em: 29 dez. 2023.
BORA INVESTIR. Retrospectiva 2023: 12 fatos e frases que resumem o ano na economia e no mercado. Disponível em: https://borainvestir.b3.com.br/noticias/retrospectiva-2023-12-fatos-e-frases-que-resumem-o-ano-na-economia-e-no-mercado/ Acesso em: 29 dez. 2023.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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