Ressaca do Desfile
A ideia mais brilhante dos organizadores do Desfile foi transferi-lo para a tarde. Tudo à tarde soa até mais bonito, mais fotogênico e natural. O Sol da manhã parece que ainda não se acostumou com o dia – vai esquentando as pedras com uma velocidade assombrosa. Mas, a ideia brilhante, como a maioria das ideias brilhantes, assume seu compromisso com o erro.
Que desfile longo, meu Deus, longo, longo, longo. Fiquei até com ressaca. Lembrem-se que a Padre Rolim não dispõe de confortáveis poltronas, nem de um serviço gratuito de água, lanche, pipoca e algodão-doce. Festa é festa, eu sei, mas, na rua, deve ser rigorosamente programada. O público da rua não é exigente como o público seleto de teatro ou cinema: este, paga para ficar até o fim, e aquele, vai embora sem a menor cerimônia.
Bom, parabéns às escolas municipais, estaduais, federais e particulares. É preciso dizer “parabéns!, viva! e muito bem!” só pela coragem da exposição: estar ali, se mostrando, com a roupa, com a (in)habilidade para tocar o instrumento, com a maquiagem, com a fantasia… Mas faltou produção às escolas. Se é reflexo da crise, não sei, e sei que é. Tudo bem, é reflexo. Vou me render ao reflexo. Municipais, estaduais e federais, a culpa não é de vocês, é de quem lhes mantém; privadas, a culpa é toda, todinha de vocês.
Foi a falta de (um bom) planejamento que desencadeou uma porção de exageros, deslizes, situações ridículas. Ver aquelas pessoas lustrosas e luxuosas foi como ver a crise desfilando e batendo na principal rua da cidade – que ainda não despertou para a tradição cultural que merece. Parece contradição, mas não é. É o luxo que faz morrer o bucho, segundo o dito do povo.
Quem trabalha com crianças deve saber que elas estavam cansadas de ficar em pé, de andar, de segurar placas, painéis e objetos; algumas não entendiam por que estavam ali, outras estavam achando tudo muito chato. Os carros, travestidos, faziam rir. E Desfile não é pra fazer rir ou duvidar. “O que será aquilo?”, “O que significa aquela roupa?”, “Olha, como aquele rapaz não sabe se comportar”, “Rá, rá, rá…”.
As bandas estavam boas, bem caracterizadas, como todas as bandas do universo devem se comportar. Pois, às vezes, é melhor não querer ser muito diferente, ousado ou original – a linha do ridículo é tênue e tão quebrável quanto uma bolhinha de sabão. E, como sempre, alguns locutores estavam narrando o evento. É fundamental que algum anjo-da-guarda sopre nos ouvidos do falador, assim: “ei, deixa o pessoal ouvir o que a banda tem a tocar” e “não fala no momento em que a escola se apresenta”. Como diria Robin, “Macacos me mordam, Batman!”
Cajazeiras não é cidadezinha de interior, com todo respeito e admiração que guardo às cidadezinhas de interior. O curioso é que empinamos os narizes ao lembrarmos uma cidade de grande porte no alto sertão, forte culturalmente e blá, blá, blá. Bem na hora de dizer o que existe em Educação, Cajazeiras exibiu o seu charme interiorano. Que pena, também.
Escolas, preparem-se já para o ano que vem. Opa, será que isso está virando Carnaval do Rio?
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