República das Alagoas
Primeiro presidente da República eleito pelo voto direto após a ditadura militar (1964-1985), Fernando Collor quis mandar no Brasil por 20 anos. Desacostumado à liberdade de votar e na ausência de partidos políticos consistentes, o eleitorado brasileiro deslumbrou-se com o jovem governador de Alagoas. Foi assim. Collor alugou o inexpressivo Partido da Reconstrução Nacional (PRN) e usou o tempo destinado à propaganda partidária para arvorar-se em paladino da ética, da coragem, da moralidade. Vendeu-se como “caçador de marajás”, minoria privilegiada de servidores públicos de altos salários, massificou o termo e fez crer que enfrentava um dos problemas fundamentais do Brasil. Deu certo. Quando da eleição de 1989, numa disputa com nomes de prestígio – Leonel Brizola, Ulisses Guimarães, Mário Covas, Aureliano Chaves, Lula da Silva e outros -, Collor surgiu com chances reais de vencer.
No segundo turno enfrentou Lula, o líder sindical que ajudara a fundar o PT. O apoio, até então tímido e envergonhado do empresariado e da mídia, cresceu diante da possibilidade real de um operário chegar ao poder. Abriram-se cofres e bolsos e a orquestra midiática para salvar o Brasil das garras de “radicais de esquerda”. Collor foi eleito e ainda acumulou “sobras de campanha”, dizia-se, até para comemorar o grande feito. Antes da posse reuniu o seu núcleo duro, composto majoritariamente de alagoanos, e rumou para famosa ilha paradisíaca do Oriente, onde teria sido arquitetado um plano para controlar o poder por 20 anos, a República das Alagoas…
Para alcançar seu objetivo, era necessário engordar o “caixa dois”, entregue aos cuidados do empresário alagoano, Paulo César Farias, ligado à área de consultoria econômica e financeira, que acumulara experiência como tesoureiro da campanha presidencial. O fundo seria alimentado por propinas arrecadadas através de executivos da confiança de PC Farias, estrategicamente colocados em cargos relevantes do setor público federal, incluindo os bancos oficiais. O acesso a milionários contratos de obras e prestação de serviços públicos passavam por um enigmático senhor de baixa estatura, gordo, careca, bigode e, quase sempre, de óculos escuros. PC Farias virou do dia para noite um notável da República.
O esquema assim montado não se vinculava, na aparência, a partidos políticos. Parecia mais um conluio de amadores. Aliás, uma das marcas do desastrado governo Collor, iniciado com o confisco de recursos da caderneta de poupança e, mais adiante, recheado de lances folclóricos, envolvendo ministros em festivos encontros de apaixonados dançarinos, ao som de famoso bolero latino-americano… A festa durou pouco. A inusitada reação do irmão, Pedro Collor, desconfiado das travessuras de PC Farias, que ameaçava o sistema de comunicação da família em Alagoas, junto com o assédio do irmão presidente à sua bela esposa, resultaram na denúncia pública do esquema chefiado por PC Farias.
O resto da história é conhecido. O Congresso Nacional começou a revolver o lodo da corrupção, os estudantes foram às ruas de “cara pintada”, a exigir o impeachment do presidente. Collor foi apeado do poder, sem sofrer, no entanto, punição do Judiciário. Poucos anos depois, Paulo César morre ao lado da namorada, em circunstâncias nunca esclarecidas de modo convincente. A República das Alagoas, que deveria durar 20 anos, esvaiu-se entre a incompetência, o excesso de esperteza e a corrupção.
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