Religião para Filósofos…
Por Padre Janilson
É imprescindível, hoje, para falar de Religião, o auxílio de proposições racionais. A inteligência humana configurou-se de tal modo em um nível avaliativo, ou seja, crítico, que chegou a ponto de abstrair o Mistério em detrimento do Tempo e do Espaço, categorias puramente contingentes, portanto sujeitas as múltiplas interpretações.
Não obstante esta realidade, a religião vai se configurando na História, sintetizando a cultura, transmutando o espaço e qualificando o tempo, dando a todas essas categorias a marca do sagrado.
Não se pode falar de Deus a humanidade recusando o diálogo com a Filosofia. Já desde a antiguidade, entre os diversos povos, certa percepção daquela Força misteriosa que “preside” o desenrolar das coisas e acontecimentos da natureza e da vida humana, chamou a atenção para um profundo conhecimento do próprio homem em sua essência e natureza. Evidentemente a Filosofia tem muito a contribuir com para a perfeita sintonia entre Fé e Razão.
A Religião, tanto as crenças e atitudes como os comportamentos religiosos, não perderam sua atualidade. Ao contrário, hoje, mais do que nunca, se levam em conta a importância cultural, sociopolítica e religiosa de um povo como elemento considerável tanto de ordem teórica quanto de razão prática. A religião ainda pode se transformar em crítica que legitima a vontade positivista e o caráter fechado de nossas modernas sociedades tecnocientíficas.
A permanência da religião em nossas modernas sociedades e o crescente ressurgir de tradições religiosas, apesar de tantos anúncios sobre “a morte de Deus”, contribui de maneira decisiva para a sociologia e conseqüentemente para a filosofia da religião.
Vale salientar que alguns problemas que anteriormente só se apresentavam no momento de propor a existência e o conceito de Deus, como o da racionalidade e o do caráter inevitavelmente subjetivo, por exemplo, acontecem igualmente hoje em outros âmbitos da racionalidade filosófica (como o é na Ética) e na própria fundamentação da Ciência (que por sua vez está continuamente sendo superada e onde nada é estável!).
O que justifica a tradição iluminista de emancipação da “problemática” de Deus é a crise da metafísica. Porém, os antimetafísicos, por sua parte, pregam o final e o não significado da metafísica sem perceber que ao estabelecer critérios de demarcação e invalidar determinada metafísica, já pressupõe outra metafísica. Ao determinar a validade ou invalidade dos problemas metafísicos, incidimos no que se refere à subjetividade humana, aos limites da linguagem e da própria razão.
Contudo, o que está em jogo, ao que parece, ao falar do sentido da religião em nossa vida, seja para filósofos, seja para religiosos, é o prevalecer das perguntas kantianas sobre SABER, FAZER e ESPERAR, que resumem a questão radical a respeito de quem é o homem, em um nível bastante existencial como queriam Pascal e Kiekergaard, por exemplo. Em outras palavras, a Filosofia não tem porque assumir as respostas da religião no campo metodológico, como desejou Descartes. Antes de tudo, deve a Filosofia analisá-la em sua racionalidade ou em sua inconsistência, à luz da razão, e dar-lhe valor no seu papel e função sociais, assim como as implicações que geram para o homem e para a sociedade religiosa, seja judia, seja cristã, seja muçulmana…
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