Razões do ódio
A insistência com que setores reacionários e conservadores da sociedade brasileira defendem o impeachment da presidenta Dilma Rousself traz para o cenário velhos fantasmas que, de forma mascarada e enrustida, sempre estiveram presentes como ingrediente principal da cultura política nacional. Fantasmas que se personificam na visão elitista de uma nação centrada na raça branca européia, de tradição cristã, de dominação masculina, de espaço geográfico alicerçado na casa grande. Uma visão que sempre escondeu em suas senzalas, mocambos, favelas, camarinhas, os pobres, os pretos, os desviantes, os analfabetos, as mulheres.
Qualquer tentativa de exorcizar estes fantasmas sempre esbarrou e esbarra em resistências e reações que, sem exceções, beiram as franjas do radicalismo e da intolerância. E se convertem em fundamentalismos políticos e em expressões de ignorância e preconceito, com a insistência em apelar ao retorno de práticas reacionárias e vivências ditatoriais. Ora, como aceitar que pobres, mulheres, negros, favelados, nordestinos, homossexuais sejam reconhecidos como cidadãos e gozem da proteção e da guarida do Estado e de suas políticas públicas sem os esperneios dos que vêem seus espaços sendo questionados e minguados pelo exercício de cidadania de quem, historicamente, foi arremessado na invisibilidade política, social e humana?
O ódio contra a presidenta Dilma Roussef que, com recorrência, se expressa em faixas, cartazes, chavões, artigos e matérias jornalísticas, ofuscam qualquer possibilidade e sensatez de enxergar a sua postura de isenção no trato das questões que envolvem a investigação de práticas de corrupção que, sejamos sinceros, não são exclusividade de nosso tempo e nem dos governos petistas. Mantendo a postura de estadista a presidenta tem assegurado que os aparatos estatais que tem a atribuição de investigar as denúncias de corrupção ajam com independência e autonomia e que recebam todas as condições que as demandas exigem para o desempenho de um trabalho sério.
A velha prática de varrer para debaixo do tapete ou terminar em pizza qualquer tentativa de expurgar comportamentos e procedimentos que maculam a vivência democrática ou que tentam se apropriar do público na carcomida tradição do patrimonialismo não vem encontrando eco na postura de um governo que, dando continuidade a mais consequente proposta de políticas e programas sociais que a nossa história registrou e que vem retirando da faixa de pobreza um considerável contingente que, antes, constituía apenas massa de manipulação eleitoreira de grupos oligárquicos e conservadores que, amealhando nossas riquezas, viravam as costas ao país e a uma gente que, parodiando o poeta, “ri, quando deve chorar. E não vive apenas aguenta”.
A maior razão para o irascível ódio a presidente Dilma Rousself reside ainda no fato de que, ao permite a investigação ampla da corrupção ela abre espaços para que comecemos uma mudança cultural e de mentalidade política e, com certeza, consigamos sair desse processo mais forte enquanto povo e enquanto nação.
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