Radicalização e intolerância
O que seria um debate entre estudantes virou briga. Arruaças, xingamentos, empurrões, troca de murros, gente ferida. Cena de filme? Não. Barraco na Universidade Federal de Pernambuco, campus do Recife, dia 27 de outubro. Divididos em falanges ensaiam agressões físicas. E de fato brigam. Depois, ampliam o ridículo: expõem o pugilato (infantil) nas redes sociais! Dois grupos de estudantes colocados frente a frente em postura de batalha. Provocações verbais. Aqui e acolá um contendor faz que vai, mas não vai. Nisto, um saltitante mais afoito avança. Recebe uma direita certeira, esparrama-se no chão, levanta-se, usa a parede como escora (que merda eu fiz, deve ter pensado…). Ali fica. Apalpa o rosto machucado com o soco do baixinho com cara de japonês. Imagem cinematográfica. A direita venceu também a guerra da comunicação!
Radicalização casa com intolerância. Andam juntas. Não as palavras, mas as atitudes. Irracionalidade. É isso que vem acontecendo na política brasileira. Não é novidade, bem sei. A história da humanidade está cheia de situações assim. Fatos insignificantes a expressar mudanças de conduta das pessoas. Ódio. Nem sempre se enxerga o ódio que antecede insuportáveis catástrofes sociais. As guerras começam com troca de murros entre sectários.
Afinal, o que houve?
Programara-se a exibição de documentário O jardim das aflições, dirigido pelo cineasta pernambucano Josias Teófilo. Um longa sobre a vida e as ideias do escritor Olavo de Carvalho. A esquerda impediu, na marra, a exibição do filme. (Vencemos, exultaram!).
Esclareço. A encrenca começara muito antes, em julho, quando o filme chegou a ganhar prêmios no polêmico Festival Cine PE. Houve bate-boca, protestos explícitos contra a direita artística. Rolou confusão ideológica, a esquerda e a direita a mostrar as unhas da radicalização, do sectarismo, da intolerância. No final de outubro, ocorreu o arranca-rabo (literal) da abertura desta crônica.
A galera intelectual, tal qual as do futebol, organizou-se pela internet, ajustando táticas revolucionárias de outro tempo histórico. Nada de debate, companheiro, o importante é desmascarar o endeusamento de Olavo de Carvalho e seus tridentes a serviço do mal… Quem é Olavo de Carvalho?
Guru de Jair Bolsonaro, dizem.
Olavo Luiz Pimentel de Carvalho (70 anos), autodidata, paulista de Campinas, exerceu o jornalismo na imprensa nacional. Sua produção intelectual é extensa e diversificada. Vai dos estudos de astrologia à filosofia, passando por outros ramos do conhecimento humano: história, religiões etc. Orienta seus seguidores alimentados por escritos e debates na internet. Com isso, conquistou um séquito. De fanáticos? Seria também responsável por iluminar caminhos da direita brasileira. Não era assim no passado. Na juventude militou no Partido Comunista. Mudou de posição. Virou-se, agressivo, contra os ideais, antes defendidos, ao ponto de tornar-se inimigo de vida e morte dos esquerdistas. Foi morar nos Estados Unidos, em 2005, para não viver no Brasil sob o governo do PT.
Voltando ao começo, o debate virou pugilato tal o clima de radicalização e intolerância dos nossos dias. Com diversas motivações, ocorreram cenas parecidas em Guarabira e em muitos outros ambientes diletantes. Mas não só neles. Aí estão, também, os sérios e profundos conflitos no Brasil real, envolvendo os sem-terra e os sem-teto. E até no brasiliense Brasil-fantasia. Que Deus nos salve!
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