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Damião Fernandes

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Quem estuprou Esmeralda?

25/06/2016 às 10h35 • atualizado em 25/06/2016 às 11h35

Esmeralda Bernardo Gomes, é mais um nome desconhecido pela sua existência de quem é e ignorada pela sua dignidade de pessoa. Esmeralda Bernardo é uma mulher silenciada como tantas outras mulheres dessa cidade que sofrem violências domésticas ou estupros físicos e culturais. Esmeralda, pedra preciosa que é, ainda não tem pela “terra da cultura” o seu reconhecimento de uma cidadã de direitos. Essa Jovem é ainda tratada tal qual filha bastarda sem direito à herança. Tais pessoas semelhante à Esmeralda, conseguem no máximo serem tratadas com atração circense ou elevadas ao título de “figuras folclóricas” quando a pretensão for apenas “fazer rir”. Cajazeiras é uma máquina, de transformar seus sujeitosculturais em personagens de folclore; de transformar pessoas em vultos históricos.

Por isso, à Esmeralda é oferecida uma cidadaniazinha de segunda ou de quinta categoria. Tais cidadaozinhos, somente se tornam pauta de curiosidade coletiva quando são vítimas de violência física ou simbólica ou ainda quando sofrem a negação de seus direitos. Portanto, a visibilidade é sempre a partir de um pressuposto negativo. Pra ficar mais claro: Se a jovem Esmeralda não tivesse sido estuprada da forma que foi, ela iria continuar no silenciamento cultural que lhe era peculiar.

Como tantos outros, a importância de Esmeralda, na sociedade de Cajazeiras é mais como “figura folclórica” do que como cidadã legítima, visto que é mais fácil diminuir a pessoa e elevar a arte quando os interesses sobre a rótulo se sobrepõe ao da pessoa. Cajazeiras, julgando-se“a terra da cultura”, acaba por tornar as pessoas diferentes por seus talentos em folclóricas,como se fossem produtos de um tipo de indústria local.

Esmeralda Bernardo Gomes, foi violentamente estuprada, tendo por consequências do ato, um prolapso retal, ou seja, teve um extravasamento de parte do intestino para fora do organismo, pelo ânus. Penetraram o ânus da jovem Esmeralda com objetos diversos e rudes.Esmeralda Bernardo encontra-se, no momento em que você está lendo esse texto, numa enfermaria sofrendo as suas dores.

Quem estuprou Esmeralda? Que mulher ou homem de espirito público veio à mostra e emitiu uma nota de pesar à sociedade ou à família dela (se ainda ela tem) pelo ocorrido? A figura folclórica violentada não serve para o entretenimento ou para alimentar a ideia de que ela é nossa produção cultural, do nosso folclore. Quem estuprou Esmeralda não foi um ou não foram dois, fomos todos nós. Pois uma sociedade que não cuida daqueles que mais precisam de cuidado é também responsável por aquilo que lhe acontece. E a depender do tamanho da omissão, torna-se réu do mal que lhe sobrevém. Cotidianamente, Esmeralda é estuprada pela nossa indiferença política, social e exclusão cristã.

A sociedade de Cajazeiras, comete estrupo em Esmeralda e em tantas outras “esmeraldas” dessa cidade, quando insiste em tratá-las apenas como nossos produtos culturais circenses ou nossas “figuras folclóricas” de diversão. Será essa mesma sociedade patriarcal e machista que reinventará as condições para o estupro ao promover um tipo cultura como um modo de ser sustentado na violência quando muitas vezes são culpabilizadaspela dor sofrida. Tal sociedade só pode ser o resultado de uma cultura que só pode produzir subjetividades aberrantes.

[Esmeralda Bernardo Gomes, 47 anos – Conhecida folcloricamente como BABALÚ]


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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