Professor Goulart e a geopolítica mundial
Por Francisco Frassales Cartaxo – Antes de surgirem na década de 1960, os famosos cursinhos pré-vestibulares, o mundo era menos confuso. Pelo menos, dava para entender o desenho geopolítico mundial. Passada a euforia liberal-democrática, que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, a aliança militar contra Adolf Hitler e o nazismo se esfarelou. Recorde-se, aquela frente era formada pelos “aliados” Estados Unidos, Europa e URSS. Esse arranjo circunstancial deu lugar à Guerra Fria, o mundo separado em dois blocos: de um lado, o campo ocidental democrático, capitalista, liderado pelos Estados Unidos e, do outro, a Rússia no comando do bloco das chamadas repúblicas populares. A China ainda era um enigma, com terríveis problemas internos, sua enorme população migrando no vasto território, sob forte presença do Estado.
Ficava fácil compreender o planeta.
Alinhavam-se satélites de um e outro grupo, salvo meia dúzia de países subdesenvolvidos, tentando equilibrar-se atrás do biombo da terceira via. Nesse simplificado contexto geopolítico, o professor Goulart mantinha em Salvador, naquela década, seu cursinho preparatório de Geografia. Não o conheci, mas um amigo adolescente me falava com entusiasmo de seus métodos de ensino. O realce estava nos seminários de avaliação realizados no sábado, quando passavam em revista os fatos mais significativos da semana.
O professor Goulart trazia da Academia Militar o hábito da disciplina, mesclado com traços de rebeldia. Por isso, fora afastado das suas funções pelo golpe de 1964. Os seminários eram sua realização como mestre. Os alunos gozavam de ampla liberdade no correr dos debates, contanto que, ao final, Goulart pudesse concluir enfático:
LEIA TAMBÉM:
– O mundo marcha para o socialismo.
Cearense de Iguatu, meu amigo Chico Sampaio narrava pormenores das cenas vividas por ele e seus colegas, todos entusiastas do guru. Inteligente, irrequieto, já acumulara leituras para além de sua idade. Espécie de rebelde sem causa em seus 18 anos, Chico via com clareza a rigidez ideológica do major Goulart. E muitas vezes, comentávamos, entre risadas, a estreiteza analítica do mestre, quem sabe, moldada na rotina de consulta aos Manuais usados na caserna para guiar todos os passos profissionais.
Se vivo fosse, o professor Goulart teria muita dificuldade de apreender o que agora se passa no mundo. E, quem sabe, diante da dificuldade de enxergar luz no túnel da humanidade, hoje, sua sentença preferida fosse: em síntese, o mundo marcha para o abismo!
Sócio da Academia Cajazeirense de Artes e Letras
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário