Professor Ferreira Júnior
Ele dava aula de geografia, andando de um canto a outro da sala. O Brasil tem 8 milhões e quinhentos mil quilômetros quadrados. Nosso País é um gigante de norte a sul e de leste a oeste. Assim eu aprendi, menino-quase rapaz, aluno do Ginásio Salesiano Padre Rolim. Magro, elegante, espigado, sério, impoluto, sempre de terno e gravata. Nunca vi um riso em seu rosto.
Manoel Ferreira de Andrade Júnior era mais conhecido como promotor público, cargo que exerceu anos a fio, desde a posse em 12 de agosto de 1918, anotou João Rolim da Cunha. Ou desde 1910, pois Deusdedit Leitão cita a nomeação em 21 de outubro de 1910. Esta data faz mais sentido, pois ele casou-se em 27 de outubro de 1909 com Anália Domelice Bezerra, filha do então prefeito, coronel Justino Bezerra, quando João Machado governava a Paraíba. Ora, o pai de Ferreira Júnior foi destacado chefe político em Pilar, várias vezes deputado estadual, eleito pela facção de Álvaro Machado, o grande chefe da oligarquia adversária de Epitácio Pessoa.
Ferreira Júnior desempenhou outras funções importantes. Numa Cajazeiras acanhada teve a iniciativa de fundar o jornal O Rio do Peixe, que circulou pela primeira vez no dia 16 de novembro de 1924. Só mais tarde a diocese assumiu a orientação, conservando Ferreira Júnior e enxertando outros intelectuais, como Cristiano Cartaxo e Hildebrando Leal. Em 1944 publicou a “Monografia do município de Cajazeiras”, com o prefácio a seguir, assinado por Cristiano Cartaxo.
“Um livro útil. O dr. Manoel Ferreira de Andrade Júnior, digno professor do Colégio Salesiano Padre Rolim, deu-me a ler os originais da monografia do município de Cajazeiras, de sua autoria. É um trabalho, pequeno como são todos do gênero, que se lê de um fôlego, sem enfado e com justificada curiosidade. Outros o fizeram antes de mim, realçando-lhe os méritos e finalidade. Não sei, porém, se experimentaram a deliciosa impressão que me causou. Impressão de coisas do coração, repassadas de muito amor a Cajazeiras a quem o autor consagrou o melhor de sua atividade na fase áurea de sua juventude. Esse estado de alma se reflete claro na dedicatória à esposa e pessoas gradas da terra. Sobre ser, pois, obra de estudioso, de inegável e real utilidade, é também uma página do coração. Vívida. Atualizada. E que tem, a mais, o sentido de uma reação à inercia intelectual em que o isolamento nos confinou.
Que outros méritos não tivesse a monografia do município de Cajazeiras, só o desafio de nos arrastar à atividade produtiva na seara das letras, já seria motivo de aplauso e contentamento pela contribuição nova à construção da nossa bibliografia, cujo pedestal já está levantado com a História Natural e a Gramática Grega, do Padre Inácio Rolim, e o livro do Padre Heliodoro Pires (um Anchieta do Norte), e nada mais digno de figurar no microcosmo biográfico da terra que se ufana de ter tido por berço um colégio. Que o bonito exemplo do provecto professor acorde as nossas energias intelectuais, levando-nos a produzir algo de realmente interessante, de modo a não se apagar o brilho das nossas tradições de cultura.
Ao doutor Ferreira, pioneiro da imprensa neste rincão do estado sinceras felicitações por mais este título de benemerência que, insofismavelmente, conquistará com a publicação de sua monografia”.
O opúsculo menciona o livro “Geografia do Brasil, em vias de publicação”. Esta eu não conheço. Ferreira Júnior morreu na década de 1970 com mais de 90 anos.
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