Prisão de Lula?
Por Francisco Frassales Cartaxo
Existe gente rindo à toa. Gente que esperava o momento de ver Lula investigado e preso. E não apenas depondo como testemunha em processo investigativo de corrupção. Faz tempo que essa gente sonha com a prisão de Lula. Sonho que vem da época do mensalão, quando muitos queriam vê-lo derrotado na campanha da reeleição. Vai chegar lá, dizia-se, vai chegar lá!
Alardeavam, antevendo-se um Lula-candidato às grades, com roupa de presidiário. Em vão. José Dirceu assumiu suas responsabilidades históricas e, coerente com seu pragmatismo, viu-se transformado em lenda. A lenda de ser o chefe de tudo que acontecia de bom e de ruim no Brasil da era Lula. Dirceu desempenhou seu papel e sofreu sua desdita de condenado ao cárcere, depois de ter o mandato cassado.
Quem sonha com a prisão de Lula?
Quem tem medo. Medo de enfrentá-lo em 2018, apesar do imenso desgaste sofrido pelo PT, ao longo destes últimos anos, somado à crise política, econômica, social e ética que assola o Brasil de hoje. Crise que prega no PT feito carrapato. Mesmo assim, muitos ainda têm medo de Lula. Por isso, torcem por sua prisão, imaginando só existir esse caminho para limpar a área, como se diria em linguagem militar. Há uma explicação para esse temor quase paranoico.
Imaginário popular?
Exato. Lula projeta a imagem de quem se situa no limbo. Essa imagem foi construída a partir de sua origem humilde de nordestino emigrado para São Paulo num pau-de-arara e lá enfrentou adversidades. Enfrentou e venceu. Lula não foi um vencedor qualquer. Projetou-se como sindicalista, sentava-se à mesa de negociações salariais com patrões, poderosos na indústria e na política, e fechava acordos em sintonia com as bases.
Um vencedor.
Depois, ajudou a criar um partido político e, com persistência, chega à presidência da República, alarmando parte significativa dos empresários. No governo, aplacou o temor das elites, inclusive das finanças internacionais, entregando a um banqueiro brasileiro, Henrique Meireles, então filiado ao PSDB, a condução da política monetária. Esperto, esse Lula!
E o povão?
Nem aí para isso. Mesmo porque, na outra ponta, seu governo tirou milhões de brasileiros da miséria e permitiu a ascensão de outros milhões de pobres a patamares de vida digna, cidadã, com acesso à moradia, a bens de consumo duráveis, à educação, inclusive de nível superior. Esse enorme contingente sequer lhe dera o voto em 2002! É exatamente aí, nesses segmentos populacionais, que está impregnado o prestígio de Lula. O vencedor que não esqueceu sua origem. E Lula cultiva essa flor, conscientemente, quando repete à exaustão que as elites o querem destruir porque ele defende os pobres, muito embora os banqueiros nunca se queixaram dele…
Justo aí mora o perigo.
No imaginário popular, a elite são os ricos. Daí o perigo para Lula e o PT. Lula agora está sendo investigado pela Lava Jato, em face de presumíveis ligações com empreiteiros presos ou já condenados por corrupção. Ou seja, com a elite. E pior ainda, por suspeita de envolvimento em transações nebulosas com um apartamento tríplex e uma granja no litoral paulista. Pouco importa que esses imóveis se localizem em áreas de classe média. Na percepção do povo isso é coisa de gente rica, portanto, da elite.
A serem verdadeiras as especulações, pode-se deduzir que Lula se deixou envolver pelos ricos. Ele agora virou elite, pensam alguns. Tudo isso se encontra em começo de investigação, mas os ingredientes para alterar o imaginário popular que torna Lula invulnerável estão postos.
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