Primeira revisão
Por entre um olhar e outro, uma nuvem e outra, está circulando o livro Crônicas soltas no ar, do jornalista Rodrigo Bomfim Pacheco, pela Chiado Books. Não é para mim um livro qualquer. Foi o primeiro que revisei, de forma oficial, lacrada na ficha catalográfica. Reviso profissionalmente diversos tipos de texto, de dizeres para outdoor a teses. Mas, livro, livro mesmo, brochura, foi o primeiro. E lá, na parte técnica, meu nome completo: Ivânia Cristina Lima Moura. Coração palpitando.
É preciso comemorar as conquistas. Sei que vocês, meus amados leitores, gostam. Que satisfação. Sei que também compartilho minhas angústias. Não são poucas, nesse trem acelerado de todo dia. É uma relação prazerosa, de uma empatia certa e distante no plano físico, mas, fundamental. A palavra escrita cria um laço de identidade, pois é registrada nalgum lugar. Fica o carimbo na plataforma do tempo.
Rodrigo é amigo capixaba. Nascido e criado em Vitória. Seu pai, Renato Pacheco, jornalista, escritor, professor e juiz de Direito, tem nome batizado em escola estadual: de imediato percebemos a importância. Nos anos de 1980, a esposa de Rodrigo, Jussara, topou a empreitada: irem para a região Norte do País. O casal morou 34 anos na capital de Rondônia, Porto Velho, com duas filhas. Foi uma experimentação intensa da linguagem cabocla daquele recanto brasileiro, permeado pelas lendas da maior floresta tropical do mundo. Fico imaginando a dimensão amazonense: tudo gigante, forte, cobiçado, temido, admirável.
O livro de crônicas parece uma rememoração. Passagens pela ilha, histórias rondonienses, causos de algum paradeiro no horizonte. Crônica é assim. Não precisa de medida, de exatidão, de nota de rodapé, de aspas nas falas, de paixão pelo método. Nem estou fazendo resenha do livro, apenas contando a minha alegria em revisar. E, sim, alguns amigos perguntaram logo quanto eu ganhei pela tarefa. Não esperaram nem meio segundo. Respirei em doses decimais e disse o que realmente sinto: a eternidade do livro. A sensação de estar ali: não importa se vendido, emprestado, riscado, presenteado. Eternizou-se. O papel pode ser um banquete para colônias e colônias de traças, mas o elemento texto ficou criptografado na história, em alguma estante do universo. Alguém leu, alguém comentou, pois o livro nasceu, criou uma vida diferente, virou um novo átomo de carbono a ser esmiuçado.
Há poucos anos de volta ao seu Estado natal, Rodrigo sente a brisa do Atlântico de novo, desta vez na cidade de Guarapari, região litorânea Sul. O rio Madeira ficou timbrado na emoção e, vez por outra, é lembrado nas crônicas. Deve ter sido uma aventura ir para Rondônia, ainda Território, naquela época de incertezas. A família viajou numa Brasília, passando por Belo Horizonte, Distrito Federal e Cuiabá. Muito chão. Muita expectativa.
Depois de anos de jornalismo militante, ainda na época da chapa, da linotipo, de lutas travadas pelo sindicato da categoria, o rapaz mudou de função: técnico judiciário da Justiça Federal. Água para o vinho, segundo ele, a mudança. Claro. Fiquei imaginando também. É preciso coragem.
E depois dessas transformações, idas e vindas, palavras e ideias, surgiu a vontade de escrever, de publicar tantas histórias, das quais tive o prazer de revisar. Bom lembrar que o termo linotipo é uma cilada: substantivo feminino, a máquina, mas de forma convencional chamado pelo masculino, o objeto. Coisas da língua.
Para quem quiser ler essas gostosas viagens pela memória, o caminho é a página da Chiado Books, empresa especializada na publicação de obras de autores portugueses e brasileiros. O nome do querido amigo e conterrâneo Linaldo Guedes também está lá, no portal da editora, com a obra Receitas de como se tornar um bom escritor. É isso que a Literatura faz: junta, mistura, confraterniza. Enriquece.
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