Presente de Ano Novo
Por Mariana Moreira – Um canto de amor e paz ao que vai chegar.
Esse seria um desejo de ano novo que alimenta corações e mentes.
Mas, como entoar um canto de amor com notas e instrumentos manchados pelo sangue e pela dor?
Como ouvir melodias quando os sons que nos alimentam são de bombas e mísseis explodindo em casas, ruas, vidas, em distintos lugares do planeta?
Desprovida dos mínimos atributos intelectuais e musicais para a composição de um canto me municio de coragem e crença e faço das palavras um gesto de resistência para olhar, pela fresta do ano novo que chega, a dor e o sofrimento de milhares de palestinos que, na minúscula faixa de terra que lhe impuseram como território, se espremem entre destroços materiais e corpos humanos mortos pela guerra.
E entoo um canto de amor para crianças palestinas que, de olhos tristes, espiam suas vidas entre paredes destruídas, tetos explodidos e corpos inertes de parentes e saudades.
E qual melodia traz esse canto de amor para o ano novo?
Traz a melodia de tantos refugiados do clima que, expulsos de seus lugares pela destruição de natureza e vida, perambulam por lugares estrangeiros e hostis vendo somarem-se lucros e riquezas àqueles que, ontem e hoje, fizeram e continuam fazendo do nosso planeta apenas e somente uma ferramenta de poder político e econômico.
E entoo um canto de amor para homens e bichos que, vencendo a ganância e a feroz ação de mineradores e latifundiários, fincam trincheiras na defesa de terras, plantas, rios, pássaros, animais, sementes, sonhos.
E, nas notas musicais que nos chega dos derradeiros suspiros de Chico Mendes, de Irmã Dorothy, dos mártires de Eldorado de Carajás, de João Pedro Teixeira, de Margarida Maria Alves, componho um canto de amor a vida que, teimosa, insiste em viver e reviver nas grandes áreas devastadas, nos pantanais incendiados e ocupados por latifúndios e engenharias que destroem cursos de rios e circunferências de lagos, montando lucrativos negócios avaliados e valorizados por cotações diárias de bolsas de valores e mercadorias movimentadas em agitados mercados mundiais.
Um canto de amor e paz que soluça em lágrimas e esperanças das gentes da rua, das calçadas e marquises, das estradas e veredas, dos lixões e vielas. Gentes que, no cotidiano de minguados meios e fartas carências, acreditam que, erguendo a voz e o braço pode-se transformar sofrimento em esperança e sonhos em possibilidades.
Este é meu desejo de um canto de amor e paz ao que vai chegar!
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
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